A enxaqueca costuma ser confundida e até usada como sinônimo de dor de cabeça. Mas, apesar de a cefaleia (dor de cabeça) ser um dos sintomas da doença, elas não são a mesma coisa.
“Dor de cabeça é uma sensação que o ser humano consegue perceber e descrever”, diz Flávio Rezende, supervisor da residência em neurologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Segundo o médico, a dor de cabeça pode aparecer em diversas doenças, de gripe a apneia obstrutiva do sono.
A enxaqueca é uma dessas doenças. Ela se diferencia pelo caráter recorrente dos ataques de dor, pela associação a náuseas e vômitos e pela sensibilidade a luz, cheiros e sons. A sensação de latejamento e localização da dor em um dos lados da cabeça também dão pistas do diagnóstico.
Sintomas da enxaqueca
A cefaleia pode se manifestar em grau moderado até intenso e predomina em um dos lados da cabeça. A sensibilidade à luz e ao som, que podem piorar a dor, são comuns. Esforço físico também tende a agravar a dor. Náuseas e vômitos são sintomas que podem acompanhar as crises.
“Na maioria dos pacientes os ataques de dor surgem de forma abrupta e demoram entre quatro e 72 horas para desaparecer completamente”, diz Rezende.
A manifestação mais típica da enxaqueca, além da dor, é a aura. São alterações sensoriais, na visão, no tato ou na fala, que costumam durar cerca de uma hora, e antecedem as crises de dor.
“Durante uma aura visual, por exemplo, a pessoa com enxaqueca perde parte do campo de visão e enxerga só uma parte dos objetos. Ao mesmo tempo, percebe brilhos e padrões geométricos. Alguns pacientes descrevem como raio, cachoeira ou vidro quebrado”, afirma o neurologista.
Alterações na fala também podem ocorrer. Não são incomuns relatos de disfasia, uma confusão temporária na fala que causa confusão com as palavras e na expressão.
Segundo Rezende, a dor de cabeça e a aura são os sintomas que costumam fazer os enxaquecosos procurarem médicos especializados, mas existem outros sintomas associados à doença, como alterações do humor, insônia, sonolência, dificuldade de concentração, fadiga, vontade de comer doces, tontura. Ele diz que algumas dessas manifestações aparecem alguns dias antes ou depois da crise.
Depois de uma crise, é comum a sensação de ressaca e cansaço.
“As características da dor podem variar de uma pessoa para a outra, e de um ataque de dor para o outro”, diz o neurologista.
Causas da enxaqueca
Segundo Rezende, a enxaqueca é uma doença genética e aqueles com pai ou mãe enxaquecosos têm cerca de 80% de chance desenvolver a condição.
Mas as crises têm gatilhos específicos para cada pessoa —alguns relatam que o excesso de cafeína ou de certos alimentos, como comidas condimentadas, causa dores, outros dizem que luzes específicas, como de shows ou festas, têm impacto. Odores fortes, episódios de estresse, excesso de esforço físico e privação de sono também podem disparar uma crise.
Além disso, questões hormonais parecem estar bastante ligadas ao distúrbio. Segundo Rezende, um terço das mulheres têm enxaqueca, enquanto um sexto dos homens diz ter a doença. Mulheres com a doença dizem que a proximidade do período menstrual costuma agravar crises e dores.
Tratamento e cura da enxaqueca
Segundo Rezende, a enxaqueca é uma doença sem cura. Mas existem estratégias para diminuir a quantidade e a intensidade das crises.
Uma delas é a mudança no estilo de vida, com exercícios físicos regulares, meditação e técnicas de relaxamento, boa higiene do sono. Evitar jejum prolongado, consumo de álcool e de alimentos associados a crises também pode ajudar, diz Rezende.
Quando uma pessoa tem uma quantidade de crises que coloca a doença como um problema crônico, –segundo Rezende, pelo menos 15 dias com dor de cabeça, com características de enxaqueca, mensais por três meses consecutivos– podem ser feitos tratamentos preventivos.
Isso pode ser feito com o uso de medicamentos anti-hipertensivos, medicamentos para epilepsia, aplicação de toxina botulínica nos músculos da cabeça e do pescoço ou com a injeção de anticorpos para combater a enxaqueca –um tratamento que pode chegar a R$ 1.000 mensais.
Durante uma crise de enxaqueca, o tratamento é feito com analgésicos, como dipirona, anti-inflamatóricos, como ibuprofeno, e triptanos, mais eficazes que os analgésicos convencionais e direcionais para enxaquecas.
“Usar em excesso as medicações para ataque de enxaqueca pode fazer com que a frequência das dores de cabeça fique cada vez maior, uma condição chamada de cefaleia por uso excessivo de medicação”, diz Rezende.
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