Nas últimas quatro temporadas, o Real Madrid faturou quatro títulos internacionais, incluindo duas taças da Champions League e uma do Mundial. Mas quem domina atualmente a seleção da Espanha é o Barcelona.
Mesmo num período em que perdeu sua força internacionalmente, sem conquistar nenhum troféu desde a Supercopa da Uefa de 2015, a equipe catalã tem mais jogadores na pré-lista do técnico Luis Henrique —ex-treinador do clube— para a Copa do Mundo no Qatar do que o arquirrival.
O treinador está em sua segunda passagem no comando da seleção. A primeira acabou sendo breve. Ele assumiu em julho de 2018, mas teve de se afastar em junho de 2019 por problemas pessoais. Dois meses depois, a filha dele morreu, vítima de um tumor ósseo, aos nove anos.
Em novembro do mesmo ano, a Federação Espanhola informou o retorno dele ao cargo e o desligamento de Robert Moreno. Na ocasião, a entidade disse que a volta do comandante já estava combinada desde que ele quisesse.
Luis Henrique chegou à seleção pouco depois de seu trabalho à frente do Barça. Ele dirigiu o time catalão de maio de 2014 até o fim da temporada 2016/17.
No período em que esteve na Catalunha, ganhou nove títulos, entre eles o da Champions League de 2014/15 e o do Mundial de Clubes de 2015.
Mas ele já era ídolo do clube antes disso. Como jogador, ele vestiu as cores azul e grená por oito anos, de 1996 a 2004, acumulando seis troféus.
A chegada dele ao Barcelona foi motivo de polêmica na Espanha, já que ele assinou com os catalães após, segundo ele, não chegar a um acordo para renovar seu contrato com o Real Madrid.
“Quiseram renovar, mas não chegamos a um acordo. Então, tomei o caminho que eu decidi”, contou em entrevista ao canal do YouTube Colgados del Aro.
O ex-meio campista defendeu o time madrileno de 1991 a 1996 e ganhou três títulos. Quando optou por deixar o clube e se transferir para o rival, causou revolta na torcida branca.
A bronca dos torcedores ficou ainda maior na temporada 1997/98 após uma celebração de gol no ex-clube. Na ocasião, esticou a camisa do Barcelona e a exibiu aos madridistas. “Quando você faz um gol, tem que comemorar”, ele minimizou na época.
Episódios como esse reforçaram a associação da imagem de Luis Henrique ao time catalão, o que o faz ser bem mais criticado pela imprensa e pelos torcedores de Madri do que pelos da Catalunha.
Não ajuda muito o fato de que sua pré-lista de convocados para a Copa do Mundo tenha apenas dois jogadores do Real Madrid, Carvajal e Asensio, contra oito do Barcelona: Eric Garcia, Sergio Busquets, Jordi Alba, Gavi, Pedri, Ansu Fati, Marcos Alonso e Ferran Torres
Os nomes foram revelados pelo jornal Marca, sediado em Madri, que enfatizou justamente o que chamou de “domínio dos jogadores do Barcelona”.
Em 2010, quando a Espanha conquistou na África do Sul o seu único título mundial, havia mais equilíbrio no plantel então comandado por Vicente del Bosque. Eram cinco jogadores do Real Madrid (Casillas, Raúl Albiol, Xabi Alonso, Sergio Ramos e Álvaro Arbeloa) e oito do Barcelona (Piqué, Puyol, Iniesta, David Villa, Víctor Valdés, Busquets, Pedro e Mata).
A atual composição dos elencos dos dois clubes talvez ajude a explicar a diferença que se vê no plantel da seleção. São 43% os jogadores espanhóis que compõem o elenco do time catalão (13 de um total de 30). Há na formação madrilena 29% de nomes do país (7 de 24).
No time do italiano Carlo Ancelotti, somente dois espanhóis, Nacho e Carbajal, costumam aparecer com frequência entre os titulares. Os grandes expoentes são estrangeiros, como o francês Benzema, recém-eleito melhor do mundo, o croata Modric, o uruguaio Valverde, e os brasileiros Vinicius Junior e Rodrygo.
Na Catalunha, os espanhóis Busquets, Pedri, Jordi Alba, Sergi Roberto e Gavi têm mais espaço na equipe, que também tem estrelas internacionais, como o francês Dembélé, o polonês Robert Lewandowski, e o brasileiro Raphinha.
Em campo, a mistura do Real Madrid tem feito mais sucesso. Além dos títulos recentes, a equipe já garantiu com antecedência sua classificação às oitavas de final da Champions League.
O Barcelona ainda não achou seu rumo desde a saída do argentino Lionel Messi, em agosto de 2021, e amargou um eliminação precoce no principal torneio de clubes da Europa, caindo ainda na fase de grupos pela segunda temporada consecutiva.
A pressão sobre os jogadores do Barcelona pela má fase é motivo de preocupação para os torcedores da seleção espanhola e faz da equipe uma incógnita para a Copa do Mundo.