A poucos dias da posse, autoridades de segurança reavaliam roteiro do evento, enquanto o presidente eleito corre para fechar a equipe de ministros antes do dia 1º de janeiro.
A poucos dias da posse, autoridades de segurança reavaliam roteiro do evento, enquanto o presidente eleito corre para fechar a equipe de ministros antes do dia 1º de janeiro.
Raquel Miura, correspondente da RFI em Brasília
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva deve decidir em cima da hora se vai desfilar em carro aberto pela Esplanada dos Ministérios em sua terceira posse presidencial. Terá em mãos relatórios atualizados das equipes de segurança que estão fazendo detalhada checagem diária de cada ponto da cerimônia e do plano traçado para o dia, com atuação de vários órgãos federais e locais.
Bolsonaristas mais radicais abastecidos por toda espécie de fake news acreditam que tudo pode acontecer, menos Lula assumir novamente a presidência. E o temor é de que algum deles tome ações mais extremistas durante o evento.
Momento exige cuidado
O professor Azor Lopes da Silva Júnior, doutor e pesquisador do Instituto Brasileiro de Segurança Pública disse à RFI que as equipes que farão a segurança têm preparo e experiência, mas que o momento exige muito cuidado.
“Particularmente vejo como desnecessário o desfile em carro aberto e espero que essas autoridades demovam o presidente eleito de qualquer tipo de participação mais próxima do público, mesmo que lhe pareça um público amistoso. É preciso lembrar que para que uma catástrofe aconteça, não é necessário que haja grandes articulações. Basta um radical. Vejam em 2018 a facilidade como se chegou até um candidato a presidente da República, no caso era Jair Bolsonaro. Nos dias atuais, com a polarização crescida, com exemplos de violência grosseira, eu acredito que as cautelas têm que ser redobradas.”
Dois episódios recentes levantaram questionamentos sobre os riscos de Lula circular no Rolls Royce presidencial. No dia 24 de dezembro, um empresário bolsonarista que integrava movimentos de acampados em frente ao Quartel General do Exército em Brasília foi preso acusado de tentar um ataque terrorista no aeroporto da capital federal, com a instalação de dinamites embaixo de um caminhão.
No dia 12, na data da diplomação de Lula no TSE, manifestantes destruíram carros, ônibus e tentaram invadir a sede da Polícia Federal contra a prisão de outro bolsonarista. “A coisa começa a alcançar um nível um pouco mais preocupante quando nós vemos essa tensão, que gravitava no terreno discursivo, ganhar ares no mundo real”, avalia Azor Lopes.
Fim dos movimentos radicais?
Como as várias teses conspiratórias foram caindo uma a uma, da fraude nas urnas ao golpe militar, o analista acredita a posse de Lula possa colocar fim aos movimentos mais radicais e quem sabe abrir caminho para uma postura mais engajada e menos beligerante por parte do eleitor brasileiro.
“Falaram que as eleições seriam anuladas, falaram que o Exército assumiria o poder, falaram que não haveria diplomação. E a última crença deles agora é que o presidente eleito não tomará posse. São fake news disseminadas para manter a mobilização. Então com a posse os manifestantes de bem vão perceber que foram enganados”.
“Essas pessoas podem passar a fiscalizar o novo governo. É preciso acolher o resultado das urnas porque a democracia precisa ser respeitada, mas elas podem fiscalizar, num movimento que o Brasil desconhece, de atuação política cidadã permanente, e não só a cada quatro anos”.
Enquanto agentes e autoridades revistam órgãos e repassam o plano de segurança da posse, nos corredores da capital muita articulação para que todos os ministros do novo governo sejam anunciados até quinta-feira, abrigando aliados que estiveram com Lula nas eleições e também os novos parceiros.
Ontem uma reunião em Brasília praticamente selou o comando do Planejamento nas mãos de Simone Tebet (MDB/MS). Economistas esperavam um nome do mercado, mas viram com bons olhos a escolha, numa forma de contrabalançar o pensamento do futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Na frente de Lula os dois futuros integrantes da equipe econômica minimizaram diferenças, mas ouviram que, diante de possíveis divergências, Lula arbitrará a palavra final.
O que também movimentou a área econômica nessa terça-feira foi o pedido que Hadadd fez a seu colega Paulo Guedes, para que não prorrogue a isenção de tributos para os combustíveis. “Para que a gente tenha sobriedade de fazer cálculo de impacto, verificar trajetória do que a gente espera para as contas públicas ao longo nos próximos anos, o pedido que fiz ao ministro Guedes por telefone foi de que eu e o presidente Lula entendíamos que o governo atual, justamente agora, deveria se abster de medidas que fossem impactar o curso dos acontecimentos no futuro. Ele respondeu afirmativamente.”
Outro ponto sensível dessa transição tem sido a troca no comando das Forças Armadas. Na Marinha ainda não se fechou uma data. Na Aeronáutica a substituição deve ser feita semana que vem, após a posse de Lula. Já no Exército o futuro ministro da Defesa, José Múcio, afirmou que a troca será antecipada para esta semana.
“No dia 31 encerra o mandato de um ministro, de um presidente da República, e outro tomará posse, nós tomaremos posse às 3 horas da tarde. Da meia noite às 3 da tarde, alguém tem que assumir a responsabilidade. Os comandados serão os mesmos. Eu estarei na transmissão do dia 30, às 10h30, o general Freire vai sair e vai entregar interinamente a quem vai comandar definitivamente 12 horas depois. Então é uma coisa absolutamente tranquila, sem o menor problema. Não há viés político, não há viés de intranquilidade”, disse Múcio.