O filósofo alemão Friedrich Nietzsche proclamou certa vez: “Sem a música, a vida seria um erro”. A cada dia que passa, percebo a profundidade dessa verdade. Nesta semana, tive a oportunidade de assistir, no icônico Blue Note em São Paulo, a uma performance memorável da cantora Maria Izildinha Possi, mais conhecida pelo público como Zizi Possi. Aos 67 anos, Zizi mantém uma qualidade vocal que a distingue notavelmente em meio àqueles que se proclamam cantores. A maestria com que emprega seu alcance vocal, particularmente como soprano, combina-se perfeitamente com sua habilidade única de equilibrar a técnica vocal e a interpretação emocional.
O repertório escolhido para o show destacou-se por sua excelência, formando um nítido contraste com o ambiente musical atual, que é frequentemente saturado por estilos como sertanejo, funk, pagode, e outros, muitas vezes impulsionados por um setor midiático que parece negligenciar a essência da qualidade musical.
Com uma homenagem comovente, Zizi Possi nomeou seu espetáculo “De Volta ao Começo”, dedicado a Gonzaguinha, um artista cujo legado perdura, apesar de sua vida ter sido curta. Ela também reviveu canções criadas por Edu Lobo e Chico Buarque para o balé Guaíra, transformando-as em interpretações contemporâneas que ainda ressoam como clássicos indeléveis da Música Popular Brasileira. Isso se dá, em parte, pela natureza clássica de Edu, que consegue transitar com elegância pelos domínios do popular.
A maneira como Zizi interpretou “In Other Words”, amplamente reconhecida como “Fly Me to the Moon” — canção que ganhou fama nas vozes de lendas como Frank Sinatra e Nat King Cole — foi absolutamente arrebatadora. Seu domínio de “Dream a Little Dream”, considerando até mesmo a versão da inigualável Ella Fitzgerald, foi executado com maestria. E ao entoar os acordes de “Luíza”, da autoria de Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, ela reafirmou para todos nós, afortunados pela sua presença, que estávamos, de fato, diante de uma diva cuja arte transcende fronteiras, enriquecendo nosso patrimônio cultural.
Sua atuação serviu como um lembrete luminoso de que, apesar dos obstáculos e desafios enfrentados pela nossa música, existe a esperança de um renascimento e redenção. Zizi, com seu brilho pessoal e profissional, se mostra incomparável em cena. Com precisão melódica, ela navega por sua vasta extensão vocal de maneira audaciosa, quase como se quisesse nos lembrar: “Estou viva, e aqui permaneço, resistente e ressoante”.