No Brasil, a fila de espera por um transplante de rim é a maior em relação aos órgãos sólidos, que são coração, pulmão, rim, pâncreas e fígado. De acordo com os dados do relatório do Ministério da Saúde, atualmente há um total de 42.111 pessoas em busca de doação, sendo 38.908 no aguardo de rins, em segundo lugar, temos o fígado, com 2.197 na fila.
De acordo com a Central de Transplantes do Estado de São Paulo, Fausto Silva, 73, era o 13º na lista para o procedimento. “A Central de Transplantes do Estado de São Paulo informa que o paciente F.S. foi inserido na fila para transplante em 6 de fevereiro e, seguindo resoluções estaduais, foi submetido ao transplante de rim na última segunda-feira (26), cumprindo os critérios de priorização. F.S. encontrava-se como 13º na lista para o procedimento”, diz a nota.
A espera por transplantes renais possui um maior número de pacientes devido à prevalência de doenças como hipertensão arterial e diabetes, que são as principais causas de insuficiência renal, explicam José Eduardo Afonso Júnior, coordenador do programa de transplantes do Hospital Israelita Albert Einstein, e Milena Vasconcelos, nefrologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.
Além disso, pacientes com insuficiência renal têm acesso à diálise como terapia substitutiva, o que prolonga sua sobrevida enquanto aguardam por um transplante. Todos os pacientes em diálise são obrigatoriamente inscritos na lista de espera por um transplante renal, a menos que haja contraindicação médica, pontua também Vasconcelos.
Prioridade na fila de espera
A prioridade na lista de espera é determinada pela compatibilidade sanguínea e imunológica entre doador e receptor.
Pacientes que já foram transplantados anteriormente ou doaram um rim têm prioridade na fila. Isso porque eles frequentemente desenvolvem insuficiência renal devido a cirurgias e complicações pós-operatórias, como infecções e uso de medicamentos nefrotóxicos. Esses pacientes, por serem mais delicados, são priorizados na lista de espera por transplante renal, semelhante ao caso de Faustão.
Outros critérios de priorização incluem falência de acesso para hemodiálise e necessidade de outro transplante renal. “A lista vai seguindo conforme essas compatibilidades normalmente, é por isso que demora muito um transplante de doador falecido. Além dos vários problemas de captação de órgãos no Brasil. Então isso também dificulta. Em São Paulo, há um controle de captação excelente”, cita a médica. Mas, infelizmente, isso não acontece em outros lugares do Brasil.
Potenciais doadores e doadores efetivos
Em 2023, foram realizados 9.241 transplantes e 6.198 foram de renais, com o maior número de homens transplantados, 5.734. A faixa etária com mais pacientes é entre 50 e 64 anos, para homens e 35 até 49 anos, para mulheres. Quando falamos de doações, a taxa por milhão de pessoas (PMP) é de 68,4 potenciais doadores e 19,6 efetivos, segundo o levantamento da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), de janeiro até setembro de 2023.
“O potencial doador é aquele que teve diagnóstico de morte encefálica, ou suspeita disso, seja por traumatismo craniano ou alguma doença que acomete o sistema nervoso”, explica José Eduardo Afonso Júnior, coordenador do programa de transplantes do Hospital Israelita Albert Einstein.
“Para que esse doador em potencial se torne efetivo, é necessário que a família aceite a doação do órgão e que não haja nenhuma condição clínica que contraindique o transplante, por exemplo, um câncer com metástases no corpo”, completa.
Quando há suspeita de morte encefálica, é necessário seguir um protocolo de diagnóstico que envolve dois exames clínicos realizados em momentos diferentes por um médico capacitado, além de um exame complementar, que pode ser doppler transcraniano, eletroencefalograma ou arteriografia. Esses exames ajudam a confirmar a morte cerebral e são essenciais para o processo de doação de órgãos.
A discrepância entre potenciais doadores e doadores efetivos ocorre devido à necessidade de avaliação dos órgãos para garantir sua viabilidade para transplante. A lista de espera para transplante renal é exclusivamente composta por doadores falecidos, e não inclui doadores vivos —que são familiares, com grau de parentesco de primeiro grau, dos pacientes que precisam de doação.
Comparado a outros transplantes, o renal oferece benefícios mais concretos e custa menos ao sistema de saúde, o que contribui para sua alta demanda e priorização. Esse tipo de cirurgia tem uma alta taxa de sucesso em termos de sobrevida do órgão e do paciente. No período supracitado, 3.736 doações foram de doadores já falecidos, enquanto 606 estavam vivos.