Quando o paquistanês Kumail Nanjiani foi escalado para viver Kingo no filme Eternos (2021), ele se tornou o primeiro super-herói da Marvel vivido por um ator do sudeste asiático. Um passo importante para a empresa de HQs, que também já apresentou uma heroína surda, um herói chinês e uma muçulmana. Hollywood, porém, ainda tem muito a avançar no quesito diversidade, de acordo com o astro. “Eu nunca posso fazer o vilão”, reclama.
“Acho que interpretar personagens complexos ainda é algo difícil para atores imigrantes, porque nós sequer somos considerados para esses papéis. Muitas vezes [os diretores de elenco] nem pensam em nossos nomes para nos dar uma oportunidade, sabe?”, aponta Nanjiani em conversa exclusiva com a Tangerina.
“Eu certamente já liguei para o meu agente e falei: ‘Quero viver alguém malvado em algum projeto’. E ele respondeu: ‘Desculpe, não dá, isso nunca vai acontecer’. Então esses limites ainda existem na indústria. Acho que muita coisa já melhorou desde que eu comecei, mas ainda há um longo caminho a ser percorrido”, diz ele, que enfrenta essas dificuldades mesmo com uma indicação ao Oscar no currículo –ele concorreu à estatueta de melhor roteiro pelo elogiado Doentes de Amor (2017).
Na ativa em Hollywood desde 2008, Kumail Nanjiani finalmente tem a chance de dar vida a um personagem mau na série Bem-Vindos ao Clube da Sedução. Na atração, disponível no Brasil no Star+, ele interpreta Somen “Steve” Banerjee (1946-1994), indiano que fundou o grupo Chippendales, formado por dançarinos que tiram a roupa durante suas performances –uma espécie de Clube das Mulheres internacional. Por dinheiro, Steve encomenda a morte do sócio, o coreógrafo Nick De Noia (Murray Bartlett).
Ainda assim, o ator acredita que só conseguiu o papel porque a série é baseada em uma história real. “Se fosse uma trama completamente inventada, não haveria a menor possibilidade de terem escalado um ator como eu para ser o protagonista, isso nunca teria acontecido. O único motivo de eu estar nessa série é que foi assim que aconteceu na realidade. Não me entenda mal, eu sei que tenho sorte de receber as oportunidades que tive e sou muito grato por elas, mas acho que ainda são muito limitadas.”
Para tentar mudar esse panorama, Nanjiani tem aproveitado sua fama para conseguir funções atrás das câmeras –ele é produtor executivo de Bem-Vindos ao Clube da Sedução, por exemplo. “Para ser sincero, eu gostaria de produzir todos os projetos em que atuo. Nem sempre tenho essa chance, é claro, mas eu adoraria. Porque aí consigo controlar ou ser responsável por outros aspectos do produto. Já gravei coisas que depois vi editadas e pensei: ‘Acho que existiam tomadas melhores para serem usadas’. Não sei se meu envolvimento como produtor tornaria o filme melhor, mas pelo menos eu seria vítima dos meus erros, e não dos erros de outra pessoa, entende?”, questiona o ator.
“Adorei produzir essa série porque participei de todas as etapas, fiz sugestões nos roteiros, ajudei a escolher os diretores e os atores. E, depois de gravar, ainda estive envolvido na edição. E editar é uma das minhas partes favoritas de todo o processo. Então, eu gostaria de ser produtor sempre. Acho que seria útil na hora de editar, porque me lembro de todas as tomadas e posso assistir a uma cena e saber rapidamente se ela está transmitindo tudo o que os atores sentiram quando gravaram. Aquela cena não funciona? Então vamos voltar e editar com uma tomada diferente.”
Os primeiros dois episódios de Bem-Vindos ao Clube da Sedução já estão disponíveis no Star+, com novos capítulos sendo adicionados ao catálogo do streaming toda terça-feira. O elenco também conta com Juliette Lewis, Annaleigh Ashford, Robin de Jesús, Quentin Plair, Andrew Rannells e Spencer Boldman. Confira o trailer da série: