Beyoncé Knowles-Carter é um dos nomes mais conhecidos e importantes do mundo da música. Começando sua carreira no grupo feminino Destiny’s Child, Beyoncé ganhou fama planetária antes de migrar para carreira solo em 2003 – desde então, quebrando inúmeros recordes de vendas e de premiações, além de se consagrar como um dos emblemas das investidas afro-americanas do século. Depois de se aventurar em incursões mais mercadológicas com o memorável R&B e pop de “Crazy In Love”, “Love On Top” e “Halo”, por exemplo, ela conseguiu revolucionar toda a indústria fonográfica com o lançamento de seu álbum homônimo – e foi a partir daí que suas incursões artísticas ganhariam uma camada extra de genialidade.
Apenas nos últimos anos, Beyoncé explorou temas como escravidão, racismo e feminismo no antêmico ‘Lemonade’, apostando fichas em elementos que remontaram à cultura africana e que abriram portas para diversos artistas; o filme ‘Black Is King’ e ‘The Gift’, um conjunto celebratório que deu continuidade à sua participação no live-action de ‘O Rei Leão’ e que resgataram estilos como afrobeat e hip hop em um arauto da comunidade negra; e o recente ‘Renaissance’, que mergulhou de cabeça no house, no vogue e nas contribuições da comunidade LGTBQIA+ negra ao escopo do entretenimento estadunidense. Todos esses projetos receberam aclame por parte da crítica especializada e ajudaram a trazer à tona estudos literários e sociológicos sobre raça – mas parece que uma instituição se recusa a abraçar a grandiosidade de Beyoncé: a Academia de Ciências Fonográficas.
No último domingo, 05 de fevereiro, ocorreu a 65ª edição do Grammy Awards – premiação em que a performer é veterana. Beyoncé quebrou o recorde da artista feminina mais premiada de todos os tempos no evento de 2021 e, três anos mais tarde, fez história novamente ao se tornar a artista solo mais premiada da história, com nada menos que 32 estatuetas. É claro que prêmios e condecorações são apenas um acréscimo ao impacto que nossa Queen B causou desde sua estreia na música, mas não podemos deixar de nos sentirmos felizes e satisfeitos quando James Corden chamou seu nome para receber o gramofone de Melhor Álbum Dance/Eletrônico. A única coisa que faltaria para colocar um ponto final neste longo caminho de sua carreira era o reconhecimento na categoria de Álbum do Ano.
Beyoncé havia sido indicada outras três vezes antes de repetir o feito com ‘Renaissance’: em 2010, com o subestimado ‘I Am… Sasha Fierce’; em 2015, com o álbum homônimo; e em 2017, com o lendário ‘Lemonade’. E, depois de demonstrar sua versatilidade ao construir um solene pináculo da própria música, todos apostávamos fichas que ela finalmente poderia levar a estatueta mais cobiçada da noite para casa. Qual foi nossa decepção quando, de novo, Beyoncé foi esnobada pelos votantes – e Harry Styles acabou levando o prêmio para casa por ‘Harry’s House’. A decisão não apenas desagradou aos fãs da cantora e compositora, mas qualquer um que conhecesse sua trajetória artística, dentro e fora da premiação.
‘Renaissance’ foi considerado como o melhor álbum do ano passado por diversos consórcios de imprensa, incluindo o CinePOP, pela riqueza de detalhes, pela narcótica e coesa jornada sonora e por se manter, ao mesmo tempo saudosista e original. No âmbito comercial, estreou em primeiro lugar na Billboard 200, enquanto o lead single “Break My Soul” rendeu a ela o topo da Hot 100. Ora, Beyoncé inclusive foi elogiada por pioneiros da música house, como Crystal Waters, além de ter despertado discussões sobre a história do dance e como, no final do dia, toda incursão musical tem suas raízes na cultura negra. O que mais o Grammy poderia pedir?
A verdade é que o fato de Beyoncé não ter conquistado o Álbum do Ano pela quarta vez apenas mostra como a artista é muito maior do que qualquer premiação. Sua contribuição não apenas para a indústria fonográfica, mas para a sociedade e a luta defendida pelas minorias sociais, ultrapassa as barreiras físicas de uma mera compensação. Afinal, um homem branco teria muito mais chances de conquistar o mesmo prêmio ao ter feito a mesma coisa – porém, falamos de uma poderosa mulher negra de quarenta anos que ainda ousa fugir da curva e ditar as regras do mainstream. Como Madonna, fazendo uma aparição no evento, comentou: “se eles estão te chamando de provocadora, você está fazendo algo certo”.
Eventualmente, o legado imortalizado pela Queen B viverá para sempre e será celebrado por qualquer um que venha a se aventurar na música. Ter ou não gramofones dourados não reflete o talento ou a importância que determinado artista tem na história – e sim a difícil capacidade de se manter longevo e de inspirar aqueles que virão. Algo que, como sabemos, Beyoncé tem de sobra.
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