São Paulo, Brasil
Rancor.
Esse é o principal sentimento que impulsiona Abel Ferreira nesta reta final do Campeonato Brasileiro.
Basta vencer os três últimos jogos: América Mineiro, em casa, Fluminense, em casa, e Cruzeiro, em Belo Horizonte, mas sem torcida, e o time será bicampeão do Brasil.
Mesmo depois da incrível superação do seu time, que conseguiu empatar com o Fortaleza, no Ceará, em 2 a 2, com um jogador a menos, e manteve a liderança do Brasileiro, faltando três rodadas, o português, em vez de celebrar, desancou quem criticou o Palmeiras.
“Há dois meses, o treinador era fraco e os jogadores estavam velhos.
“Independentemente do que acontecer no fim, essa equipe tem atitude campeã.”
Abel usa esse recurso há muito tempo.
O técnico, quando consegue um resultado importante, trata de mostrar mágoa com qualquer cobrança. E exagera soltando acusações anônimas, muitas delas sem sentido.
Não há na imprensa brasileira quem o tenha chamado de “fraco”.
E a média de idade dos jogadores do Palmeiras é de 27,3 anos.
Não há respaldo nenhum na acusação de que seus jogadores sejam “velhos”.
Abel gosta de desviar o foco de um resultado injusto.
Ele sabe que o Palmeiras foi dominado pelo time de Vojvoda e escapou de uma derrota graças a Weverton, a bola na trave, Murilo salvando em cima da risca e os gols perdidos pelo Fortaleza.
Aliás, o time nordestino teve 20 arremates a gol. Enquanto a equipe do treinador português, apenas 11.
O que valeu foi a incrível vibração dos seus jogadores. Com um a menos, desde os 13 minutos do segundo tempo, Gustavo Gómez tomou vermelho para corrigir falha bizarra de Murilo, que escorregou, e o Palmeiras conseguiu se superar e empatou a partida, quando merecia perder o jogo.
Abel estava irritado porque recebeu seu 55º cartão, desde que chegou ao Brasil, em novembro de 2020, e está suspenso da partida importantíssima contra o América, na quarta-feira (29). São 47 amarelos e 8 vermelhos.
Mas ele teve de elogiar profundamente o time que, além de superar a expulsão de Gómez, teve força para corrigir o erro do treinador, que foi escalar Marcos Rocha como terceiro zagueiro, ao lado de Gómez e Murilo. A ideia de 3-5-2 foi anulada diante da intensidade do Fortaleza, que mostrou futebol coletivo muito mais forte, explorando a fraca saída de bola e a confusa marcação palmeirense nos contragolpes.
Não bastasse o time espaçado e muito lento, Abel mostrou uma noite muito pouco inspirada. Trocando Marcos Rocha por Artur, escancarando seu time. Cada contra-ataque do Fortaleza foi um sufoco.
A derrota só não veio por uma grande capacidade de reação individual. De alma, de muita garra.
“É evidente a atitude campeã que eles [jogadores] têm. Meu maior orgulho dessa equipe é a atitude, a forma como fazemos das tripas coração para depender só de nós. Temos três finais. Preciso da ajuda do nosso torcedor agora, com jogos na nossa casa. Está tudo em aberto, e vamos ter campeonato até o fim.”
Nos bastidores, de forma nem tão discreta, ele conseguiu uma grande vitória no Palmeiras.
Ele foi muito claro com o executivo Anderson Barros, que transmitiu o pedido do treinador à presidente Leila Pereira.
Não jogar “de forma nenhuma” contra o América Mineiro na Arena Barueri.
Na quarta-feira, o estádio terá 30% a menos de torcedores.
Por causa da montagem de um palco no setor norte, para o show Amigos, no sábado (2), no estádio palmeirense.
O mais simples seria atuar na Arena Barueri, que o clube arrendou por 25 anos.
Só que Abel vetou. Quis, e conseguiu, disputar o jogo na arena que pertence ao clube.
O motivo: o gramado sintético, que é uma vantagem para seu time.
“Só quero jogar no Allianz Parque. É a nossa casa, é ali que eu quero jogar. Agora, o que tem que fazer não é problema meu. Me pedem para ganhar jogos e títulos. Mesmo com todos os títulos que ganhamos, ainda somos xingados porque não é o suficiente. Eu só quero jogar em nossa casa. É lá que eu quero jogar.”
“O que a direção e a WTorre precisam fazer não interessa, não é problema meu. Eu quero jogar no Allianz Parque. Se vai ganhar ou perder, não importa, é lá a nossa casa. Uma equipe que luta para ser campeã não pode ter um estádio assim. É isso que nos exigem, que nos pedem, então eu tenho que exigir.
“Se a WTorre tem que montar o palco [do show] mais cedo ou mais tarde, não sei, mas nossa casa não é aqui. É ali que eu me sinto em casa. Não é o banco onde eu me sento, às vezes até tropeço. Não é igual.”
Abel venceu.
O Palmeiras terá o lanterna do Brasileiro no seu estádio.
Na grama sintética.
O único problema será que ele não estará no banco.
Mais uma vez suspenso.
Mesmo com o equivocado trabalho deste domingo (26), o resultado foi excelente.
Basta vencer o América, o Fluminense e o Cruzeiro.
E será o novo título desse técnico de excelente performance.
Com seus jogadores que estão longe de formar um elenco “velho”.
Esse rancor de Abel é perfeito para desviar o foco da imprensa…
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