A 27ª Mostra de Cinema de Tiradentes acontece entre os dias 19 e 27 de janeiro com programação gratuita na cidade histórica de Minas Gerais
Bárbara Colen estava em um quarto na casa da mãe, em Minas Gerais, quando ligou a câmera do celular para conversar com a Rolling Stone Brasil. O cabelo esvoaçante e o sorriso entregue com facilidade pela atriz quase ofuscaram o pôster de Bacurau (2019) fixado na parede para a qual ficou de costas durante a entrevista.
O filme de Kleber Mendonça Filho a colocou em evidência em 2019, mas sua carreira começou quase uma década antes. Colen trabalhava no Ministério Público do Estado de Minas Gerais quando foi chamada para seu primeiro trabalho no cinema: um curta-metragem da produtora Filmes de Plástico.
Pouco tempo depois, um anúncio no Facebook fez o encontro entre ela e o famoso diretor pernambucano acontecer. “Nunca tinha vivido aquilo, mas eu acho que o Kleber sabe construir uma atmosfera dentro do set que é muito gostosa e que já ajuda demais nosso trabalho”, disse a atriz.
Foi o emprego no Ministério Público que permitiu que Bárbara pagasse por um curso de teatro. De 2010 para cá, ela trabalhou em outros curtas, em longas e até mesmo em uma novela da TV Globo, mas, “não tem jeito”, seu coração bate mais forte para o cinema: “O risco me estimula […] No cinema, eu sinto que o mergulho é mais vertical”.
Apesar de ter nascido em Belo Horizonte, Colen cresceu no Recife. O tempo afastada de Minas Gerais não foi suficiente para arrancar sua mineiridade e, por isso, ela foi escolhida para ser homenageada na 27a Mostra de Cinema de Tiradentes, ao lado do cineasta André Novais Oliveira.
Apesar de ter toda essa relação com Pernambuco, que também é muito forte, tem um lugar que eu acho que eu sou muito mineira, muito [risos]. Tem uma coisa meio telúrica, uma coisa da melancolia, uma coisa Milton Nascimento, uma coisa montanha de mistério, de não dito, do silêncio, de outros tempos, que eu vejo que eu gosto de trazer para o meu trabalho e que eu acho que são coisas muito mineiras, na verdade, sabe?
A 27ª Mostra de Cinema de Tiradentes começa nesta sexta-feira, 19, e vai até sábado, 27. O evento tem entrada gratuita e ocupará diversos espaços da cidade histórica mineira. No total, serão exibidos 145 filmes — sendo 43 longas, 3 médias e 99 curtas-metragens — em 61 sessões de cinema, vindos de 20 estados do país. A programação conta ainda com atividades de formação, rodas de conversa, oficinas, laboratório, masterclasses, lançamento de livros, apresentações e exposições.
Confira entrevista na íntegra com Bárbara Colen:
Rolling Stone Brasil: Como foi o início da sua carreira? Eu li que você trabalhava no Ministério Público do Estado de Minas Gerais. Como foi até receber um papel em Contagem?
Bárbara Colen: Foi muito aquele caminho, assim, bem normal. Entrei na escola de teatro em 2010. E aí falei: “Agora vou começar a fazer teatro, finalmente”. Era uma coisa que eu queria há muitos anos, mas sempre ficava muito com essa questão de ser uma carreira incerta, todas as questões financeiras que a gente enfrenta quando a gente quer ser artista no Brasil — que não é uma coisa fácil, né? Então, quando eu entrei para o Ministério Público, eu falei: “Agora eu tenho meu emprego, eu vou poder ser atriz, finalmente”. E aí eu fiz esse curso de teatro.
Quando eu estava no comecinho, recebi um e-mail de uma convocatória para um teste de um curta-metragem. Fui fazer e era do Contagem. Foi um início de muita sorte, eu acho, porque era justamente o pessoal da Filmes de Plástico, que também estavam começando, estavam terminando o curso de cinema na Una Cine Belas Artes. Então, todo mundo estava começando muito junto, a gente muito moleque, muito jovem, sabe?
Acabou que Contagem foi para Brasília, ganhou o prêmio de direção em Brasília, o curta rodou muito — ele foi tipo um sucesso — e foi para Tiradentes também. Foi quando eu comecei a ter um pouco a dimensão do que era o cinema, o que era um festival de cinema no Brasil, porque não era uma coisa do meu mundo, não era uma cinéfila. Então, acho que foi quando eu comecei realmente a entender e essa dimensão entrou na minha vida.
Só que gostei muito da experiência de gravar o Contagem, gostei muito mesmo. Sabe uma coisa que você faz que você sente que é fluida, você sente que você faz de uma maneira… Não sei te explicar, mas a relação com a câmera foi uma coisa que, para mim, era muito natural desde sempre. Então, eu meio que entendi que era aquilo que eu tinha que fazer, sabe? Eu falei: “Acho que esse caminho de cinema é um caminho para mim”.
Mas, naquela época, tinha todas as questões de representatividade — que a gente ainda tem hoje em dia e que naquela época era muito pior. Em 2010, não se via mulheres pretas no cinema, ter uma carreira… Tinha um tipo de nicho de papéis muito específicos, né? Então, acreditava que era uma carreira que ia ser difícil, mas aí as coisas foram acontecendo, acho que de uma maneira muito orgânica. Sabe quando a coisa tem que ser e ela vai entrando na sua vida? Acho que foi meio isso. Em 2015, veio o teste para o Aquarius, que foi quando fiz o primeiro longa-metragem e aí já foi com o Kleber Mendonça.
Rolling Stone Brasil: Minha próxima pergunta era justamente sobre como foi fazer esse longa com o Kleber Mendonça Filho e sua relação com ele. Como foi o teste?
Bárbara Colen: Esse teste foi um teste que também apareceu no Facebook. Tem uma curiosidade sobre esse teste que eu acho muito boa: foi o último teste. Eles fizeram teste em vários estados. O último estado era Minas Gerais, a última cidade era Belo Horizonte. Foi o último teste que foi feito no dia, era o último de todos.
Fiz com o Marcelo Caetano, que, além de um p*ta diretor, é também p*ta produtor de elenco. O Marcelo olhou para mim — fiz para outra personagem do filme — e falou: “Acho que você podia fazer a protagonista mais jovem. Vou tirar uma foto sua e a gente vê”. E aí foi isso. O teste em si foi até bem tranquilo. Eu fiquei feliz. Sabe quando você sente que foi um teste bom? E aí eles ligaram depois perguntando se eu podia cortar o cabelo — eu falei “claro, corto” — e depois chamando. Foi esse início bem vertiginoso.
Não é uma coisa tranquila começar num set tão grande, fazendo Sônia Braga jovem, com o Kleber, que já era um diretor que admirava demais, e uma estrutura de set muito grande também, né? Porque eram muitas pessoas. Nunca tinha vivido aquilo, mas eu acho que o Kleber sabe construir uma atmosfera dentro do set que é muito gostosa e que já ajuda demais nosso trabalho. Então, acho que meio que entrei naquele mundo dos anos 80 e a coisa foi bem fluida, foi bem gostosa de fazer aquela participação — com todos os medos e inseguranças no início — mas foi bom.
Rolling Stone Brasil: Como se sente voltando para a Mostra de Tiradentes como homenageada?
Bárbara Colen: Olha, o Festival de Tiradentes é um festival que eu acho que é um dos festivais mais importantes do Brasil, porque é nele que eu acho que muitas coisas aparecem, de novas linguagens, de novos cinemas de novos artistas… Eu acho que é um festival que te possibilita muita troca sobre o fazer cinematográfico. Você pode encontrar muitas pessoas, você tem boas discussões de cinema. Então, é um festival que estimula isso: o pensamento sobre o fazer cinema.
Já era um festival que tá na minha vida há muito tempo — foi o primeiro festival que fui — e um festival que admiro muito. Receber uma homenagem vindo de um lugar que para você é um lugar de importância só reforça essa alegria pelo reconhecimento de um trabalho. A gente trabalha tanto durante essa trajetória de ator, é tanta dedicação, tanta renúncia também. A gente opta por estar ali no set, e muitas vezes o set vira a sua vida, e aí você deixa de estar em tantos momentos pessoais para poder estar ali pelo trabalho, e é um trabalho que é apaixonante, eu faço com todo meu amor. É muito bom. Eu acho que eu estou numa etapa da vida que estou recebendo elogios e essa homenagem, nesse momento, no momento que eu estou mais aberta e tranquila para dizer “que bom, recebo, agradeço”. É isso, é muito trabalho e é fruto de muita paixão também.
Rolling Stone Brasil: Você acredita que algum dos seus papéis representou uma virada na sua carreira?
Acho que o Bacurau foi uma virada na minha carreira, não só pela repercussão que o filme teve depois, que foi imensa e teve tanta visibilidade — nunca tinha feito um filme com tanta visibilidade —, mas pelo fazer também. Bacurau foi um filme de muita imersão. A gente ficou três meses lá no sertão, gravando o filme, uma grande empreitada. Foi um filme que, quando eu voltei do set, senti que minha vida tinha se transformado e que eu tinha me transformado também. Tinha alguma coisa que de fato não ia ser igual depois daquela experiência de filmar, porque a filmagem em si já carregava a semente do que o filme seria no encontro com o público. Foi um divisor de águas e foi um divisor de águas também para isso: para mais pessoas me verem, para abrir portas para outros trabalhos. Foi bem importante mesmo.
Rolling Stone Brasil: Você fez teatro, curtas, longas e, mais recentemente, uma novela. Tem preferência por algum desses formatos?
Bárbara Colen: Essa é uma pergunta difícil. Eu sempre tive muito claro que eu queria passar por vários lugares como atriz. Sou muito curiosa e eu acho que a curiosidade me move para o desconhecido. É uma coisa que eu gosto muito: quando estou num contexto de novidade, apesar de me dar medo. O risco me estimula. Ter muita coisa para aprender me estimula. Eu gosto muito dessa sensação que a atuação me dá de que sempre vai ter muito para aprender, que sempre estou começando do zero. Foi realmente uma opção consciente, de falar: “Eu quero passar por vários meios diferentes, eu quero fazer novela, eu quero fazer um cinema comercial, eu quero fazer um cinema independente, eu quero experimentar o teatro”. É uma coisa que vai te compondo como artista.
Mas eu acho que o cinema… Não tem jeito. Eu já falei isso: acho que o cinema é minha casa mesmo, no sentido de que é um lugar de muita afetividade para mim, também pela experiência — é onde eu tenho mais experiência, onde eu passei o maior tempo, né? Então, tem uma coisa ali, do fazer do set que é muito específico, que é se reunir com aquele grupo de pessoas durante seis, oito semanas, e entrar nessa aventura, que é fazer um filme, contar uma história… Isso eu acho muito viciante. E entrar muito rápido no personagem, porque, no cinema, eu sinto que o mergulho é mais vertical. Você tem pouco tempo para preparar a personagem, você tem que chegar nela muito rápido, então a imersão, ela é muito radical também. Não tem como se proteger daquilo. Você já tem que ir com tudo para descobrir tudo muito rápido, e essa sensação, ela me deixa muito viva.
Rolling Stone Brasil: Além do seu próprio nascimento, qual sua história com Minas Gerais? Você nasceu em Belo Horizonte, certo?
Bárbara Colen: Ai, Minas, né? É muito curioso, porque eu cresci em Recife. Fiquei em Recife até a adolescência e depois voltei para Minas. Apesar de ter toda essa relação com Pernambuco, que também é muito forte, tem um lugar que eu acho que eu sou muito mineira, muito [risos]. Tem uma coisa meio telúrica, uma coisa da melancolia, uma coisa Milton Nascimento, uma coisa montanha de mistério, de não dito, do silêncio, de outros tempos, que eu vejo que eu gosto de trazer para o meu trabalho e que eu acho que são coisas muito mineiras, na verdade, sabe?
É curioso, porque agora a gente está em Tiradentes. Eu estou ao lado do André Novais nessa homenagem e o Francis escreveu um texto para o festival falando da questão dos tempos, né? Tanto os tempos que eu uso em cena, quanto os tempos do André… E eu acho que são tempos muito da mineiridade também. Eu sou muito ligada com essa terra e admiro muito os artistas daqui. Eu acho que tem um cinema… É difícil descrever um cinema mineiro, né? Eu não gosto quando a gente coloca esse regionalismo para definir cinemas, mas tem um jeito de fazer cinema aqui que eu acho muito lindo e poético e muito humano também. Então é isso, eu acho que Minas me traz todas essas sensações de raiz mesmo.
Rolling Stone Brasil: Como foi protagonizar Fogaréu? Você se identifica de alguma forma com sua personagem?
Bárbara Colen: Fogaréu foi um filme que… A temática de Fogaréu é muito dura, né? É difícil para mim falar de Fogaréu, porque foi um processo com muitas coisas. Que que acontece? A questão que o Fogaréu traz, desse abuso dessas mulheres, que são mulheres que são escravizadas nessas casas, que muitas vezes não têm nenhuma escolha, são mulheres completamente desprovidas da liberdade de ser um ser humano… Elas nascem, são postas na roda da igreja, as família ricas adotam, elas crescem ali como empregadas domésticas, mas também não podem sair dali, quando elas ficam mais velhas, elas são postas em asilos, que na verdade são manicômios, que não têm direito humano nenhum… Então, assim, já era uma temática muito pesada.
Quando a gente foi para lá, eu tive uma experiência imersiva também muito grande, porque a gente foi para Goiás Velho — que é como chamam, que é a cidade do interior de Goiás — e lá eu tive contato com muitas mulheres que já tinham passado por essa experiência ou diretamente ou mães, avós, sabe? Então toda a questão que estava trazida no filme, eu convivia o tempo todo com mulheres ao meu redor, no set, no ambiente da cidade, que tinham passado por tudo aquilo.
Tive que buscar muito pouco fora dali. Acho que tudo que eu precisava para contar a história já estava na minha própria vivência dentro do lugar. E as emoções e tudo que aquilo me trazia, estar vivendo aquele processo do filme, eram coisas que eu estava vivendo no set, dentro daquela cidade, naquele processo de filmagem, sabe? Então, as coisas andavam juntas. Era essa a sensação que eu tinha.
Conversava com uma mulher aqui, aí eu sabia que a mãe dela tinha sido considerada a louca da cidade, que tinha sido violentada por muitos homens, que ela própria, essa mulher que eu estava conversando lá dentro do set, era uma dessas mulheres que tinham sido postas na roda… Era tudo muito junto. E mais: eu acho que Fogaréu traz essa questão, que para mim é muito cara quando eu vou fazer cinema, que é de trazer a visibilidade para coisas que estão escondidas. Porque essas coisas acontecem em Goiás hoje em dia. Isso é uma coisa que a gente não tem nem ideia.
A primeira vez que a Flávia [diretora] me contou a história, eu falei: “Ah, tudo bem, é uma história de 1900, um passado distante”. E não, são coisas que estão acontecendo agora e que a gente não sabe que está acontecendo. Fogaréu também me trouxe a sensação dessa necessidade de contar aquela história, a necessidade de contar a história daquelas mulheres que nunca tiveram voz para poder se posicionar e para poder falar para as pessoas o que estava acontecendo. Me dava um sentido meio de urgência — acho que a palavra é essa mesmo: necessidade de fazer. Tem coisas que precisam ser rompidas. Tem ciclos de violência que precisam ser rompidos.
Rolling Stone Brasil: Você tem um filme preferido da Mostra de Tiradentes?
Bárbara Colen: É muito difícil de dizer. Eu sou muito promíscua [risos]. Eu adoro todos! Olha, vou te falar uma coisa: cada processo… Eu sou muito pouco… Como é que eu vou te dizer isso? Eu sou muito pouco saudosista, eu acho. Cada filme que chega, eu vivo ele com muita intensidade, como se fosse o único da minha vida, tanto de antes, quanto de depois. Parece que é a única coisa que eu fiz e é a única coisa que eu vou fazer. Eu tenho essa relação com as histórias. Cada processo te traz uma coisa. Eu acho que não [tem um preferido], porque sempre tive encontros tão incríveis, tanto com as pessoas que estavam me dirigindo, quanto com meus colegas de cena.
Eu sou muito sortuda, mas eu acho que também não é só uma questão de sorte. Acho que tem uma coisa da projeção de uma vontade. Quando a gente coloca o que a gente quer no mundo, as coisas se encontram com a gente também, então sou muito feliz. O que posso te dizer é que cada filme que está ali foi uma opção livre. Eu fiquei muito feliz de fazer, sabe? Foram coisas que meu desejo estava nelas.
Rolling Stone Brasil: Como é a sua relação com o André Novais, que também está sendo homenageado?
Bárbara Colen: Cara, minha relação com o André é uma relação de admiração total. Eu admiro o André como artista — para mim, ele é um dos diretores mais geniais que existem, mesmo. Acho que o André… O que ele trouxe para o cinema é uma linguagem muito nova, o que eu vejo nos filmes dele, eu nunca tinha visto nada parecido, e eu acho que trazer o novo, no cinema que já fez tanta coisa, realmente é um feito imenso. Mas aí eu acho que isso diz da pessoa que ele é: o André é uma pessoa que me emociona. André me emociona no silêncio dele, nos tempos dele, estar perto dele me emociona, porque é um ser humano que eu acho que é um cara muito amoroso, um cara que tem um olhar, que tem uma escuta para as pessoas e você vê isso refletido nos filmes dele. É um amigo pessoal. É um amigo que eu tenho muitas trocas, até teatrais — que agora o André está entrando muito nessa questão do teatro, então a gente sempre conversa muito. É um amigo de vida e fico feliz que, apesar da gente ainda não ter trabalhado junto, a gente tem planos ainda, de alguma maneira, a gente está sempre se cruzando nas trajetórias.
Rolling Stone Brasil: Teria algum conselho para jovens como a jovem Bárbara lá de 2009/2010, principalmente mulheres negras que querem ingressar no mercado audiovisual?
Bárbara Colen: É difícil dar conselho, né? Mas hoje em dia, o que eu diria é: gente, tem muita coisa para estudar. Vocês precisam estudar muito, vocês precisam ver muito filme, vocês precisam ir em muito festival de cinema, ler muito… Eu acho que, de fato, o ator precisa ser um artista que é muito culto e que realmente tenha muita bagagem. É muito trabalho. Não vai ser do dia para a noite que a coisa vai acontecer. Tem muitos muitos altos e baixos. Se você entra nisso para conseguir reconhecimento, fama, qualquer coisa que venha do outro, desista.
Eu acho que só vale a pena ser ator se for uma busca muito pessoal e um desejo que é seu. Eu acho que é isso, me vem muito essa sensação — engraçado —, nessa altura, a questão da persistência. Insista. Vai levar muito “não”, vai ter muita porta que vai fechar, mas vai ter muita porta que vai abrir. Principalmente, entenda o que que você quer dizer como artista. Acho que essa é a grande questão: que que você tem para trazer para o mundo? Você, na sua especificidade, o ser humano com as características que você tem, com essa história de vida que você tem, o que você quer fazer? E coloque no mundo a sua vontade. Eu acho que as histórias vão te encontrar, sabe?
Rolling Stone Brasil: E o que você quer trazer para o mundo?
Bárbara Colen: Eu acho que o que eu mais quero trazer para o mundo, na verdade… Difícil essa pergunta, né? Vou pensar [silêncio].
Eu acho que eu não consigo desvincular essa resposta de um lugar político. Engraçado, né? Eu amo muito meu país, eu amo muito o Brasil e eu tenho muita vontade de que a gente seja um lugar melhor, um lugar mais inclusivo, um lugar onde as mulheres pretas possam existir com todos os direitos e todas as liberdades, onde as mulheres possam existir. Eu acho que, atualmente, meu grande desejo é que, com as minhas personagens, as mulheres e as mulheres pretas possam se ver e existir com mais plenitude, dentro de todas as suas possibilidades. Meu desejo agora tem muito a ver com isso: falar das nossas subjetividades, que muitas vezes são tão invisibilizadas.