No início de 2017, uma matéria na “The New Yorker” capturou a atenção do cineasta Matthew Michael Carnahan, trazendo à tona uma perspectiva distinta sobre os conflitos envolvendo as forças americanas e o Daesh. Essa inspiração conduziu Carnahan, já reconhecido por seu trabalho em roteiros como “O Preço da Verdade — Dark Waters” e “Guerra Mundial Z”, a criar “Mosul” (2018). O filme apresenta a luta de um esquadrão SWAT iraquiano contra o Daesh, retratando a missão como um imperativo de honra e sobrevivência na tumultuada cidade de Mosul.
A narrativa se inicia em meio ao caos, introduzindo o espectador a um cenário de intensa batalha sem distinções claras entre os combatentes. É neste contexto que conhecemos Kawa, interpretado por Adam Bessa, um policial que busca vingança pela morte do tio nas mãos do Daesh, e é resgatado e recrutado pelo major Jasem, líder do esquadrão SWAT. Jasem, vivido por Suhail Dabbach, seleciona seus combatentes baseado em suas perdas pessoais contra o inimigo, estabelecendo uma conexão profunda entre os personagens e sua luta.
Carnahan maneja o roteiro com habilidade, evitando didatismo ao mergulhar o público em um suspense que se estende além do familiar, tornando a experiência de assistir a “Mosul” intensamente autêntica. A película desdobra-se em um ambiente onde a distinção entre amigo e inimigo é tênue, e a cidade de Mosul transforma-se em um labirinto de perigos imprevisíveis.
O filme também toca em paralelos históricos controversos, traçando um paralelo entre os horrores perpetrados pelo Daesh e momentos sombrios da história ocidental, como as Cruzadas e a Inquisição. Essas comparações emergem em momentos chave, especialmente em um tenso debate entre Jasem e um agente estrangeiro, destacando o intrincado entrelaçamento de religião e política que persiste na região.
O realismo de “Mosul” é amplificado pela autenticidade dos atores iraquianos e pelo uso do idioma árabe, reforçando o compromisso da produção em apresentar uma representação fiel do conflito. O financiamento pelos irmãos Russo assegurou que aspectos técnicos não comprometessem a qualidade da representação cinematográfica.
Com duração de apenas noventa minutos, “Mosul” é uma obra concisa, mas impactante, que destaca a excelência das atuações e a eficácia da direção de Carnahan. Para aqueles dispostos a imergir na experiência, o filme oferece um vislumbre pungente da realidade de um campo de batalha, retratando não apenas a luta pela sobrevivência, mas também a busca por justiça e dignidade em meio ao caos da guerra.
Filme: Mosul
Direção: Matthew Michael Carnahan
Ano: 2018
Gêneros: Guerra/Ação
Nota: 9/10