O CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças) da África, o principal órgão consultivo de saúde do continente, relaciona o pior surto de cólera em três anos à mudança climática, e afirma ainda que o clima adverso aumenta o risco dessa doença mais rapidamente do que no resto do mundo.
Isso ocorre à medida que as inundações na República Democrática do Congo —e em grande parte do sul da África— pressionam sistemas de saúde já frágeis, limitam o acesso à água potável e saneamento e forçam pessoas a deixarem suas casas.
“A cólera na África é uma questão de mudança climática”, disse Jean Kaseya, diretor-geral do CDC da África, sediado em Adis Abeba (Etiópia).
Um surto recente de cólera varreu mais de uma dúzia de países na região ao longo do último ano, provocando centenas de mortes desde a Zâmbia rural até os arredores da capital da África do Sul, a nação mais desenvolvida do continente.
O aumento de casos na África ocorre mesmo ela sendo uma das regiões globais com menor responsabilidade na mudança climática, mas uma das mais afetadas pelo clima adverso em um mundo em aquecimento.
A cólera é transmitida pela água e causa desidratação grave por vômitos e diarreia. Embora a maioria das pessoas possa ser tratada por meio da administração rápida de solução de reidratação oral, tal tratamento é mais difícil em comunidades que têm baixa imunidade pré-existente devido a baixas taxas de vacinação e saúde geral precária.
A atual escassez de vacinas contra a cólera também está prejudicando os esforços para conter os surtos da doença. Globalmente, existem de 15 a 18 milhões de doses disponíveis, enquanto só no continente africano seriam necessárias até 80 milhões, disse Kaseya.
“Quando você não tem vacinas, quando você não tem uma série de medicamentos, isso leva ao agravamento da situação”, disse ele.
A Zâmbia adquiriu 1,7 mi de doses, mas precisa de 3,2 mi, afirmou. Já o Zimbábue precisa de 3,2 mi, mas só garantiu 800 mil, e o Congo está em situação ainda pior, pois precisa de 5 milhões de doses, mas não tem nenhuma. A Gavi, uma aliança internacional de vacinas ligada à OMS (Organização Mundial da Saúde), está tentando garantir doses, disse Kaseya.