Filme retrata período de assassinatos por ganância na tribo indígena Osage, em Oklahoma, nos Estados Unidos
Quatro anos após o lançamento de “O Irlandês”, seu longa-metragem mais recente, Martin Scorsese está de volta aos cinemas a partir desta quinta-feira, dia 19 de outubro, com “Assassinos da Lua das Flores” (“Killers of the Flower Moon”).
Baseado no livro
Antes mesmo da estreia de Assassinos da Lua das Flores, houve uma discussão acalorada nas redes sociais sobre a duração do longa. A partir de uma piada mal interpretada de que, agora, Martin Scorsese só fazia minisséries, por conta de produções extensas em que trabalhou nos últimos anos, como O Lobo de Wall Street (2013) e O Irlandês (2019), o X, ex-Twitter, entrou em guerra por algumas horas até os ânimos se acalmarem ou os usuários da plataforma migrarem para outra discussão.
O cineasta já dirigiu filmes de 3h, 2h30, 2h e 1h30, dirigiu episódios de séries, o icônico videoclipe de Bad, de Michael Jackson, e – pasmem – até curtas-metragens. Mas o problema está na duração das produções de um cineasta do calibre de Scorsese, um dos diretores mais respeitados do cinema, ou na falta de paciência de quem está se acostumando a consumir mais e aproveitar menos?
Com Assassinos da Lua das Flores, Scorsese prova que o tempo para contar uma história é bem menos relevante do que saber contar uma história – e é com tranquilidade que ele parece contar a de seu novo filme, criando um misto de drama, suspense, romance e até humor em um enredo que faz o espectador pedir por mais, só porque é muito bom assistir a uma história contada por ele.
Se o cineasta precisasse encurtar o filme, ele certamente o faria com maestria. Se precisasse alongar, também. Mas Scorsese toma apenas o tempo necessário para contar a história de Assassinos da Lua das Flores, que é cheia de dualidades, representada na figura de Ernest Burkhart, um homem preso em sua própria inocência, que não é tão bom e tampouco tão ruim, que ama, mas não conhece o valor de amar tão bem quanto conhece o valor do dinheiro.
Assassinos da Lua das Flores retrata um episódio triste, é verdade, mas foge de ser um documentário sobre o Reino do Terror para nos dar a possibilidade de observar e sentir o que quer que possamos sentir enquanto digerimos a história. É como uma novela, em que cada nova ação de seus personagens, sejam mocinhos ou vilões, despertam novos sentimentos e vão dando um nó na cabeça até que, ao final de toda a história, possamos dar o veredito sobre cada um deles.
As habilidades refinadas de Scorsese, no auge de seus 80 anos, servem como uma lembrança de que – em um tempo em que as pessoas têm cada vez menos paciência para manter os seus celulares dentro do bolso e as novas produções tendem a se adaptar a essa forma de “consumo” – o cinema continua sendo uma das experiências mais empolgantes da vida. Não há necessidade de pegar em armas para defender o cineasta em uma “guerra virtual” sem sentido. Basta se desligar do celular por algumas horas, correr para o cinema e deixar o trabalho falar por si só. Garanto, a experiência é recompensadora.
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