“Vermelho Monet” estabelece que Portugal também é parte do cenário, com o país e a cultura fazendo parte da trama. Era importante ambientar a ação lá ou essa história poderia acontecer em outros lugares?
Na verdade, essa história poderia acontecer em qualquer grande centro do mundo onde existisse um mercado muito ativo de arte, como Chicago ou Nova York. Obviamente que, quando você leva a história para a Europa, os países ali estão próximos e esses grandes mercados. Não só das casas de leilões, mas também de polos com grande concentração de artistas, de galerias e de museus. Portugal, especificamente, não é equivalente a uma Paris ou Londres nesse contexto, mas a Lisboa de hoje é uma cidade muito cosmopolita e um grande corredor de eventos culturais internacionais. E eu tinha o desejo de fazer um filme que fosse lusófono, até porque esse universo é geralmente retratado em francês ou em inglês. Seria interessante ver esse mundo de uma forma lusófona, no balé dessa melodia linda que é a língua portuguesa.
O que nos traz de volta ao Brasil, mesmo que seja um filme incomum em nossa cinematografia. Como foi estabelecer um diálogo de “Vermelho Monet” com o circuito exibidor para que o filme chegasse ao público?
É bem difícil, porque ele traz uma originalidade que às vezes a gente tem dificuldade até de encontrar referências fora da nossa filmografia. Não é fácil pela autorialidade que ele traz. Eu sempre penso nos movimentos da pintura e como eles foram provocantes em seu período, como eles passaram a ser compreendidos ao longo do tempo. Então eu sabia que tinha um filme que ia provocar um olhar talvez até de incompreensão no primeiro momento, de estranheza. Quando “Vermelho Monet” circulou em festivais, eu tive a oportunidade de ver como ele funcionava com vários perfis de público. Uma coisa que sempre chamou muita atenção é que, independente do conhecimento de arte que a pessoa tenha, o que está posto ali, da relação desses personagens, chegava na emoção do público, trazia essa provocação. A primeira camada funciona. As seguintes fazem parte de uma imersão que está lá e você alcança o que tiver ao seu conhecimento sobre a arte e música. Mas o sentimento vem, você talvez você não decifre, mas você sente.
É um posicionamento complicado.