Com toda a destruição causada pelas enchentes no Rio Grande do Sul, as entidades acenderam um alerta para garantir a dignidade menstrual das pessoas que menstruam. Em meio ao caos e à perda da infraestrutura básica, as pessoas que estão alojadas em abrigos recebem kits de higiene a partir de doações.
A Defesa Civil do RS monta kits individuais de higiene pessoal que contam com pacotes de absorventes para o atendimento imediato da necessidade. A partir disto, os abrigos atendem a demanda e distribuem para quem necessita.
Desde o dia 6 de maio, a Herself, empresa que visa a dignidade menstrual, está trabalhando com a campanha MenstruAção RS para captar recursos e doar absorventes para meninas, mulheres e outras pessoas que menstruam e estão em abrigos no Rio Grande do Sul. Nesta terça-feira (28), Dia Internacional da Dignidade Menstrual, a empresa criou um pacto contínuo para que as ações sigam durante os próximos 12 meses.
“Os momentos de catástrofe acabam refletindo as negligências, os espaços de vulnerabilidade e o tabu da sociedade. Se na vida cotidiana não se tem garantia de direitos menstruais e as pessoas já não falam abertamente de menstruação, nessas situações isso fica ainda mais evidente”, aponta a sócia-fundadora da Herself, Raíssa Kist.
O Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) divulgou dados de uma enquete feita com 2,2 milhões, jovens e adolescentes, no qual 37% responderam que têm dificuldades de acesso a itens de higiene em escolas ou locais públicos.
“Quando pensamos em menstruação, considera-se apenas higiene. Mas vai muito além, é sobre a dignidade e direitos de meninas, adolescentes, das pessoas que menstruam. O direito de autonomia destes corpos, de viver um processo que é natural da melhor forma possível, mesmo diante desses fenômenos que muitas estão passando agora”, afirma Gabriela Monteiro, oficial de Participação de Adolescentes do Unicef no Brasil.
Diante da calamidade no Rio Grande do Sul, o Unicef tem atuado com ajuda humanitária voltada a crianças e adolescentes, como com a criação de espaços seguros dentro dos abrigos e a distribuição de kits. Na próxima semana será enviado um kit voltado à dignidade menstrual, que contará com absorventes, coletores menstruais, calcinhas e itens de higiene pessoal. Além disso, haverá uma lanterna e um apito de segurança. “O objetivo é que essas pessoas não fiquem ainda mais vulneráveis, possam estar em segurança, ou chamar a atenção, não é só uma questão de higiene”, destaca Monteiro.
“São muitas camadas para que a pessoa tenha essa garantia de saúde menstrual. Precisamos entender que as pessoas seguem menstruando mesmo em tragédias como essas e elas vão precisar dos absorventes, mas não de qualquer qualquer forma”, explica Kist. Por exemplo, absorventes reutilizáveis, não podem ser utilizados caso não tenha acesso à água. Da mesma forma que para utilizar os descartáveis é necessário a roupa íntima. Ambas dificuldades foram enfrentadas pelas vítimas das enchentes no Estado. Muitas pessoas ficaram sem acesso à água por muitos dias e quem ficou desalojado saiu apenas com a roupa do corpo de casa, dependendo exclusivamente de doações.
“É crucial assegurar que essas pessoas tenham acesso a produtos de higiene menstrual, um aspecto muitas vezes negligenciado, mas essencial para manter a saúde e a dignidade. Campanhas de conscientização e distribuição de kits de higiene tornaram-se prioritárias, reconhecendo a importância de atender a todas as necessidades, mesmo em situações de emergência”, destaca a empresária.
Devido a catástrofe que ocorre no Sul, um Projeto de Lei de autoria da deputada Erika Hilton (Psol-SP) visa incluir mulheres em contexto de eventos climáticos extremos, calamidade pública e deslocamento climático como beneficiárias do Programa de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual. A lei atual não beneficia mulheres vítimas de eventos climáticos extremos.
“Entendemos que a menstruação acontece no momento da catástrofe, mas também ao longo de muitos meses. Principalmente por ser um indicador de saúde, que estes corpos estão saudáveis, é esperado que a pessoa siga menstruando. A nossa grande preocupação é garantir essa dignidade, por isso fizemos essa chamada se propondo nesse compromisso e ajudar no engajamento para as doações ao longo de 12 meses”, expõe Kist.
Conforme os resultados da enquete do Unicef, 86% das pessoas deixaram de fazer alguma atividade física e 77% sentiram constrangimento na escola ou em espaços públicos. “Os dados mostram que há ainda uma desinformação sobre a menstruação e também dentro dos espaços públicos há uma falta de acolhimento para as pessoas que menstruam. As pessoas têm uma liberdade cerceada, não participam de atividades que são essenciais para a saúde porque a experiência pública não está sendo organizada para receber essas pessoas. Elas acabam excluídas da vida pública e das experiências sociais”, salienta a Oficial do UNICEF.
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