O ChatGPT, ferramenta de inteligência artificial, pode ajudar em diferentes tarefas, como preparar o cardápio da semana baseado nos ingredientes disponíveis na geladeira e auxiliar médicos no diagnóstico de doenças. Na área da estética, uma de suas funções é definir a coloração pessoal, ou seja, qual paleta de cores fica melhor em cada um, dependendo de aspectos como tom de pele e cor do cabelo.
O método de análise de cor surgiu com a estilista americana e artista plástica Suzanne Caygill nos anos 1940 e foi aprimorada ao longo dos anos.
A técnica usa as estações do ano para determinar as cores: inverno, primavera, verão e outono. Existem ainda o método sazonal expandido, com 12 subestações. A análise é feita com tecidos de diferentes cores posicionados perto do rosto para ver qual combina mais com a pessoa.
Para fazer esse trabalho pelo ChatGPT, é preciso primeiro subir uma foto de rosto em uma plataforma de design gráfico, como o Canva. A partir daí, o usuário utilizará uma ferramenta sobre essa imagem que determinará os códigos das cores da pele, do cabelo, das sobrancelhas, dos olhos e da boca.
Depois de descobrir os códigos, a pessoa vai perguntar ao ChatGPT qual é a paleta de cores dela a partir dos dados fornecidos. No entanto, o resultado pode ser falho se o usuário escolher uma foto com uma iluminação ruim, por exemplo.
A estudante de direito Maria Antênia Deziderio, 23, encontrou no TikTok formas de fazer a coloração pessoal pelo ChatGPT. Ela usou o Canva para selecionar as cores do seu rosto em fotos suas com diferentes tons de roupa. Maria afirma que deu certo e entendeu qual era a sua paleta de cores, a de outono.
Ela foi sofisticando as perguntas. “Eu perguntei ao ChatGPT, você pode dar exemplos de cores?”, diz ela. “Também perguntei qual paleta de maquiagem é boa para mim, quais tipos de combinações e quais cores de cabelo.” A estudante conta que gostou do resultado.
No teste feito pela reportagem, ao selecionar o tom da bochecha, o resultado da cartela foi um, o inverno (caracterizado por cores frias e fortes). Já com o código da testa, o resultado foi o oposto, dando outono (com cores quentes e mais suaves).
Segundo a consultora de imagem Crislaine Mendes, o ChatGPT já cometeu erros significativos na intensidade e temperatura quando fez testes com pessoas famosas, como Juliana Paes e Grazi Massafera.
“O Brasil é um país muito miscigenado, é importante o olhar de uma consultora que ali, na hora, vai ver que a pessoa parece que é quente, mas ela não é”, diz Mendes, que trabalha há cinco anos na área de consultoria de imagem.
“Me causa bastante surpresa as pessoas tentarem usar ferramentas que facilitem esse trabalho. Porque não é um trabalho tão sintético, ele é bem orgânico”, diz Adriana Masili, consultora de imagem e estilo comportamental e professora no Senac e na Belas Artes.
Masili afirma que houve um crescimento significativo da consultoria de imagem nos últimos anos, mas atrelado a uma padronização excessiva no processo que considera prejudicial para um trabalho que deveria ser personalizado. “Nosso papel de consultor é fazer com que a pessoa raciocine sobre ela. Cria autonomia, ela é consciente de quem ela é, com os atributos que tem, físicos, estéticos, morfológicos”, diz.
Com uma consultora de imagem, a coloração é feita a partir de testes de tecidos com cores quentes, frias, brilhantes, opacas, suaves e intensas. No processo de coloração pessoal, Masili esclarece que não se trata apenas de analisar a pele, mas de observar a reação das cores nos traços do rosto, realçando a expressão e a confiança do cliente.
A consultora de imagem Mariana Aragão afirma que em sua sessão a definição da cartela é um processo rápido, o que demora mesmo é ensinar sobre teoria das cores, combinações e aplicações práticas na maquiagem, nos acessórios e na roupa. “É saber usar, ter informação para utilizar da melhor forma. Informação é poder”, diz Aragão. Para ela, a coloração auxilia na montagem de um guarda-roupa inteligente, combina com a personalidade, realça a beleza natural e suaviza linhas de expressão.
No teste feito pela reportagem com Aragão, o resultado foi outono, igual ao do ChatGPT.
Há também quem faça a análise de forma online, como Mendes e Masili. A última faz nesse formato há mais de 15 anos, utilizando entrevistas e ferramentas específicas para manter a personalização do atendimento, mesmo à distância. No entanto, ela reforça que é preciso de um acompanhamento de uma profissional. “Hoje eu não concordo que uma tecnologia substitua o olhar humano”, diz Masili.
Além do ChatGPT, aplicativos e filtros de redes sociais definem uma cartela de cores de acordo com a foto da pessoa. Para Masili, isso pode banalizar a profissão. “Quando se trata de um serviço que é uma consultoria, a gente tentar colocar tecnologia em demasia pode prejudicar a interpretação.”
Deziderio, que fez o teste por inteligência artificial, afirma que vale a pena fazer pelo chatGPT, mas sem se prender muito às definições que ele apresenta. “O Chat limita muito as cores”, diz. “Na coloração pessoal, você pode gostar muito de uma cor e você vai achar o tom daquela cor que fica bom para você. Só que o Chat não me deu isso logo de pronto”, diz.
As especialistas reconhecem, porém, que ferramentas como o ChatGPT dão mais acesso às pessoas. Uma consulta de coloração pessoal custa entre R$ 400 e R$ 800. O processo mais completo, com consultoria de estilo, pode chegar a R$ 6 mil.
“A inteligência artificial acaba democratizando essa experiência que muitas pessoas não têm condições para fazer com uma profissional”, diz Aragão. Mas ela afirma que recomenda o uso para diversão e não para decisões mais importantes, como mudar a cor do cabelo.
Algumas dicas também podem ajudar na hora de se vestir e não precisam necessariamente de um profissional. Veja abaixo.
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