O respiro de vitalidade no Emmy 2.0 veio com os quatro prêmios para “Bebê Rena”, que colocou Richard Gadd no palco três vezes (recebendo o troféu de melhor minissérie, roteiro e ator), além do reconhecimento para a atriz Jessica Gunning. Gadd parecia genuinamente surpreso com seu triunfo, e honestidade sempre conta pontos.
O grande vencedor da noite foi, também, uma série estreante na corrida. “Xógum: A Gloriosa Saga do Japão” escalou para a categoria principal com os planos de expandir seu universo para além de uma temporada e garfou um recorde de 18 troféus. O épico do canal F/X, exibido no Brasil pela Star+, condensou as mais de mil páginas do livro publicado por James Clavell – adaptado para a TV anteriormente em 1980 – em uma série de 10 horas com resultados superlativos.
Os prêmios são uma conquista para a representatividade asiática na TV americana por “Xógum” ser encenada em boa parte de sua metragem em japonês, marcando a primeira vitória de uma série majoritariamente de língua não inglesa na categoria. Nesse prisma, os troféus de atuação para Anna Sawai e para a lenda Hiroyuki Sanada ganham ainda mais relevo.
O tom progressista do Emmy, que teve seu ápice com a vitória de “Xógum”, foi marcado pelo discurso preciso de John Leguizamo. O ator apontou que o tempo se encarregou de quebrar estereótipos latinos na TV, mas ressaltou que o trabalho é constante. O tema foi reforçado com o troféu honorário concedido ao produtor Greg Berlanti, que ressaltou a importância de trazer representatividade LGBTQ+ à programação. Não teria como ser diferente. Se a TV entra na casa de todos em todo o mundo o tempo todo, refletir o mundo real por meio da ficção deveria ser obrigação.
Entre as piadas que nem sempre colavam, os tapinhas nas costas, discursos emocionados e os momentos que ainda precisam ser lapidados (nem o Emmy e nem o Oscar acertam o tom do segmento “em memória”), ao menos uma grande injustiça foi corrigida na premiação: o prêmio de melhor comédia foi para uma comédia.
Veja bem, “O Urso” é uma das grandes séries da TV moderna. Ao colocar uma lupa sobre o microcosmo de um restaurante em Chicago, o programa acerta ao costurar histórias sobre traumas familiares, relações profissionais, amor, luto, dor, risos e lágrimas. O que não existe aqui é espaço para soltar o riso. É um drama, dos bons, que inexplicavelmente é indicado como comédia.