Na última temporada de moda no hemisfério norte, 95,2% dos modelos vestiam manequins menores do que tamanho 40. Na moda de passarela, tamanhos do 42 para cima são considerados mid (que vai até o 48) ou plus.
Os dados são de um levantamento da Vogue Business, que analisou 9.584 looks dos desfiles de 230 grifes em Nova York, Londres, Milão e Paris, e apontam uma melhora em relação à temporada de outono-inverno de 2023, em que 0,6% eram plus size, em relação aos atuais 0,9%, e 3,8% mid size, em relação aos atuais 3,9%.
Londres é a cidade que lidera o ranking de diversidade de tamanhos, sendo a primeira das principais cidades da moda a superar os 10% de modelos usando manequim maior que 42.
Outro dado apontado pela pesquisa é que não são as grifes conhecidas do público as que mais adotam os modelos de tamanhos fora do padrão magérrimo da indústria. Marcas como a Chopova Lowena, popular na internet pelas suas saias xadrez recortadas, usaram pessoas comuns na passarela, composta por 95,2% de pessoas em tamanhos mid e 4,8% tamanhos plus.
Por outro lado, foi a primeira vez que uma modelo plus size desfilou pela Balenciaga, marca que ficou em segundo lugar no ranking da Vogue com 8% do elenco acima do manequim 42.
Segundo a previsora de tendências Carmela Vecchione, da agência Box 1824, a resistência da alta costura em criar moda para corpos diversos ainda é grande.
“O corpo magro ainda é visto como mais versátil para os estilistas se expressarem, já que há menos curvas para levar em consideração na hora da criação”, afirma. “Quase como o equivalente a uma tela em branco.”
Termos como “heroin chic” e tendências como “girl dinner” inundam o TikTok e as redes sociais com mulheres magérrimas cheias de olheiras compartilhando fotos de uma lata de Coca Light afirmando ser seu jantar. Segundo Vecchione, embora esteja em alta, somada à febre do Ozempic, a busca pela magreza nunca deixou de existir. “Só não estava tão sonora quanto agora”, diz ela.
De fato, foram-se os tempos em que o corpo ideal era representado pelas curvas de Kim Kardashian. Conhecida por fazer o tipo “corpão”, ela ficou marcada por imagens que até faziam piada do tamanho de suas nádegas, como na foto em que Kim usa o traseiro como mesa para apoiar uma tacinha de espumante, que dá a volta pela sua cabeça e pousa direto no copo.
Quando a empresária apareceu no tapete vermelho do Met Gala de 2022, ela estava bem mais magra do que o usual —e com bem menos curvas. Foi o ano em que ela trajou —e esgarçou— o polêmico vestido original de Marilyn Monroe, aquele usado para cantar “Happy Birthday, Mr. President” para John F. Kennedy.
Na ocasião, Kim não fez cerimônia ao dizer à revista Vogue que cortou o açúcar e carboidratos totalmente de sua dieta, que passou a ser composta apenas de vegetais e proteína. Além disso, ela afirma ter usado roupas para suar e ter feito exercícios físicos para queimar calorias.
Apesar desse cenário, a agente de modelos Claudia Nasi, da Ford Models Brasil, afirma que modelos plus size têm ocupado os mesmos espaços das modelos de tamanho regular.
“Existe uma identificação por parte dos consumidores e também uma exigência por mais diversidade no mercado”, diz.
Segundo Nasi, as passarelas, principalmente as internacionais, não refletem outro aspecto importante da criação de imagens, que é a publicidade.
Ela diz que o movimento de positividade corporal foi assimilado pelo mercado e, mesmo com barreiras, enxerga que a questão da diversidade de corpos deve avançar. “Todas as modelos e mulheres merecem ser vistas e valorizadas pela moda.”
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