O que fazia mesmo a diferença era o texto sóbrio, que se ocupava de política com verniz medieval em um mundo também regido por um véu sobrenatural. Nesse tabuleiro fantástico, os efeitos e a produção eram a perfumaria, mas o que importava eram os personagens e suas interações. “Game of Thrones” nunca foi sobre dragões, zumbis, feiticeiros ou demônios: era sobre pessoas imperfetas e fascinantes.
Bastardos com sangue real
“A Casa do Dragão”, prólogo que adapta partes de “Fogo & Sangue”, lançado por Martin em 2018, deixa de lado a vasta tapeçaria geopolítica do mundo de Westeros para se concentrar no drama da família Targaryen, devastada por uma guerra pelo trono. A primeira temporada costurou com habilidade essa nova mitologia, trazendo personagens com potencial para capturar mais uma vez a imaginação.
Todo esse cuidado, entretanto, evaporou-se na segunda temporada. A trama concentrou-se na disputa pelo trono dos Sete Reinos. De um lado a herdeira de fato, Rhaenyra (Emma D’arcy), que busca reunir um exército amparada por seu tio/consorte Daemon (Matt Smith). Do outro, Alicent (Olivia Cooke), viúva do rei morto Viserys (Paddy Considine), que vê o trono disputado por seus filhos Aegon (Tom Glynn-Carney) e Aemond (Ewan Mitchell) esfarelar-se.
O maior pecado de “A Casa do Dragão” é seu fracasso em dar alguma consistência a seu vasto elenco. “Game of Thrones” também trazia uma profusão de nomes e rostos, mas cada um era desenvolvido a contento, criando, dos protagonistas aos coadjuvantes, uma conexão imediata. Aqui, impera a “desinteressância”. Faltam camadas, faltam conflitos e dilemas. Sobram definições rasas. Se ninguém importa, não há riscos. Sem riscos, a série é inerte.
Espírito travado
O potencial, contudo, está lá. Cada episódio de “A Casa do Dragão” sugere aprofundar-se nas motivações de seus personagens, mas são tramas logo abandonadas. Um exemplo escancarado é a sugestão de plebeus, bastardos com o sangue real Targaryen nas veias, serem capazes de montar os poderosos dragões: as implicações políticas e sociais são claras, mas a série prefere concentrar os “protestos” em um personagem, o príncipe Jace (Harry Collett), que faz bico e logo deixa a questão de lado. É frustrante.