“Gosto de dividir a transição energética em duas ondas: a primeira aconteceu quando escalamos as energias eólica, solar, grandes hidrelétricas, linhas de transmissão. Elas hoje são tecnologias conhecidas e despertam o apetite do mercado, pois se tornaram de baixo risco. Estamos na segunda onda e precisamos escalar SAF (Combustível Sustentável de Aviação), biobunker (combustível marítimo), biometano, hidrogênio verde, amônia verde, fertilizante verde e metanol. Para isso é necessário capital intensivo. A gente não vai precisar só de dívida, vai precisar também de equity”, disse Luciana Costa.
Para a diretora do BNDES, bancos de fomento são importantes nesse cenário de financiamento de novas tecnologias, que ainda são consideradas arriscadas para o setor privado, especialmente devido às altas taxas de juros e prazos limitados do mercado de capitais brasileiro. “A liquidez do mercado de capitais no país é de 7 a 10 anos. Projetos de transição energética podem demorar mais de 30 anos para dar retorno de capital. Não existe no setor privado a profundidade de prazo necessário. O capital do BNDES é mais paciente e vamos entrar com equity em projetos que vão precisar”, afirmou a executiva.
Alexandre Castanheira, do Citi Brasil, concordou com a relevância dos bancos de fomento, como o BNDES, neste momento. “Não dá para emitir debênture e tomar uma dívida em uma tão nova tecnologia. Trata-se de um capital de risco, uma aposta, se esta tecnologia vai mesmo funcionar e se tornar escalável”.
Apesar desta cautela inicial, Castanheira afirmou que o mercado está muito interessado na transição energética. O Citi reservou US$ 1 trilhão para financiar a transição energética globalmente. “Temos uma quantidade expressiva de projetos na mesa para financiar. Claro que existe uma ânsia para que aconteça logo, mas estamos em debate. Olhamos muito para biometano, hidrogênio verde. Mas as companhias ainda estão em fase de desenho e de provar suas tecnologias. Então o mercado financeiro vai acompanhando”, disse.
Na opinião de Bernardo Sicsú, da Abraceel, o mercado livre de energia será o principal impulsionador da transição energética no Brasil, pois oferece ao consumidor a possibilidade de escolher o fornecedor, tipo de energia, preço e prazos.
“Trata-se da política mais democrática para reduzir o custo final da energia, uma vez que o consumidor não é obrigado a comprar energia apenas de uma fornecedora, como acontece hoje. Não vamos concluir transição energética nenhuma sem que o consumidor seja o protagonista e tenha acesso de forma barata”, disse.