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Nas farmácias, é comum encontrar prateleiras abarrotadas com frascos de suplementos que prometem os mais variados benefícios para o corpo. Mas é seguro tomar suplementação? Quais os riscos de usar essas substâncias indiscriminadamente? É sobre isto que falamos na edição de hoje.
Suplementos para todas as causas
A suplementação de vitaminas e minerais é frequentemente vista como uma forma simples de melhorar a saúde, mas pode trazer sérios riscos para o organismo e gastos desnecessários.
Os suplementos podem conter vitaminas (A, B e D, por exemplo) ou minerais (cálcio, magnésio, ferro, dentre outros). Essas substâncias são obtidas naturalmente através da alimentação e têm um papel na manutenção de vias fisiológicas do organismo.
É por isso que uma dieta balanceada –com o consumo elevado de frutas e verduras e baixo de alimentos ultraprocessados– é fundamental para que adultos e crianças possam obter a quantidade diária de vitaminas e minerais.
A suplementação deve acontecer em caso de deficiência destes nutrientes, que pode ser causada por diferentes motivos.
Quando devo suplementar?
Em geral, os suplementos vendidos no país são regulamentados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) na mesma categoria que alimentos, e não medicamentos –isto é, é necessário comprovar apenas o seu perfil de segurança, e não de eficácia.
E é neste segundo aspecto que os estudos geralmente não conseguem demonstrar um ganho significativo com a suplementação.
Segundo a médica Flávia Addor, da Sociedade Brasileira de Dermatologia, a Anvisa considera o chamado IDR (ingestão diária recomendada), acima do qual o consumo pode ser considerado como de um fármaco.
“É um critério de concentração mínima –um limite abaixo do qual não tem quase nenhuma concentração daquele mineral ou vitamina– e uma concentração máxima, acima da qual pode ter um potencial farmacológico e também de toxicidade. Esta concentração varia de acordo com a faixa etária”, explica.
Carências de micronutrientes podem levar à queda de cabelo, maior frequência de aftas e feridas nas mucosas e até anemia. “Mas não existe nenhuma evidência científica que a vitamina D, por exemplo, em altas doses, traga algum benefício para a imunidade. O que nós sabemos é que em níveis abaixo do normal, ou seja, com uma carência de vitamina D, pode ter uma série de consequências à saúde”, diz Addor.
Existem condições de carência de vitaminas, como pessoas que passaram recentemente por cirurgia bariátrica, imunossuprimidos, convalescentes, idosos, gestantes e pessoas com dietas muito restritivas (como veganos ou com consumo reduzido de proteína animal). No caso das grávidas e lactantes, recomenda-se a suplementação com ácido fólico para prevenir deficiências durante o desenvolvimento neurológico do bebê.
Uma revisão sistemática publicada no periódico Jama Dermatology, em novembro de 2022, encontrou um benefício da suplementação para tratamento da queda de cabelo, embora seja recomendado que cada caso seja estudado com o médico.
Em outro estudo, publicado no Annals of Internal Medicine, pacientes com pré-diabetes (nível de açúcar acima de 100 mg/dl) que fizeram suplementação de vitamina D tiveram um risco 15% menor de desenvolver diabetes tipo 2.
Já uma metanálise (estudo feito a partir de outros já publicados, sem a inclusão de novos dados) de pacientes com câncer colorretal que fizeram suplementação de ômega 3 e vitamina D não encontrou uma diferença significativa na quantidade de nutrientes no sangue dos pacientes que consumiram os suplementos em comparação ao grupo placebo.
Riscos à saúde
De acordo com a médica, pessoas saudáveis não costumam apresentar problemas sérios ao ingerir os suplementos dentro da ingestão diária recomendada.
“O problema é quando ela passa a ingerir esses suplementos sozinha e junta vários, sem saber o que tem naquele frasco ou se preocupar com a concentração recomendada, e aí pode ter um risco maior de toxicidade”, diz.
O mercado crescente de suplementos e a oferta de tratamentos “milagrosos” preocupa os especialistas devido ao uso indiscriminado, que pode levar a prejuízos altos –além de possíveis riscos à saúde, como no caso da soroterapia, suplementação endovenosa que não tem nenhuma eficácia e pode inclusive aumentar a busca por atendimentos médicos.
CIÊNCIA PARA VIVER MELHOR
Novidades e estudos sobre saúde e ciência
- Candidata à vacina contra HIV induz anticorpos em primatas. Dois novos estudos, publicados em um artigo na revista científica Science Immunology, encontraram uma candidata à vacina capaz de inibir a replicação do vírus HIV em primatas não-humanos. O primeiro avaliou a resposta imunogênica (isto é, capacidade de produzir anticorpos) em macacos adultos, enquanto o outro imunizou filhotes da mesma espécie para prevenir a infecção pelo vírus. A combinação das duas pesquisas apontou uma quantidade elevada de células de defesa, conhecidas como linfócitos B, responsáveis por atacar a região do envelope do vírus, o que pode impedir a sua ligação nas células humanas. Os cientistas estão agora desenvolvendo ensaios clínicos de fase 1 em humanos.
- Dois terços das mortes ligadas ao sobrepeso e obesidade são cardiovasculares. Mais 67% das mortes relacionadas ao peso foram causadas por condições como doença ateroesclerótica, falência cardíaca, tromboembolismo, arritmias e paradas cardiorrespiratórias, sugere um novo estudo apresentado no Congresso Europeu de Cardiologia na última sexta (30), em Londres. No levantamento, especialistas afirmam que a obesidade e o sobrepeso não só contribuem para fatores de risco cardiológicos, como diabetes tipo 2 e hipertensão, mas também tem uma associação direta com maior risco para doenças como AVC e infarto.
- Novo exame consegue prever risco de AVC e infarto 30 anos antes do evento. Três fatores de risco que podem indicar maior chance de problemas cardiológicos agora conseguem ser detectados com uma única gota de sangue. A partir da análise de mais de 27 mil participantes, pesquisadores do Hospital da Mulher de Brigham e do Hospital Geral de Massachusetts, ambos nos EUA, encontraram que o índice de colesterol do tipo LDL (classificado como o “colesterol ruim”), a concentração de proteína C-reativa e lipoproteínas (gordura) no sangue podem indicar maior risco dessas condições. O estudo foi publicado na revista The New England Journal of Medicine e também apresentado no Congresso Europeu de Cardiologia, no último sábado (31).