Homens evitam buscar atendimento médico por não quererem receber más notícias e, na maioria das vezes, é preciso que mulheres da família intervenham para incentivá-los a se cuidar.
Luiz Aires, empresário de 37 anos, admite que precisa de incentivo feminino para zelar por sua saúde. “Muitos homens têm dificuldade em aceitar cuidados médicos, terapêuticos ou até mesmo de autocuidado”. Ele entende a importância, mas prioriza outras coisas na rotina diária, o que contribui para a negligência da saúde.
Uma pesquisa da SBU (Sociedade Brasileira de Urologia) mostra que o câncer é a doença urológica que mais preocupa os homens (58%), seguido pela impotência sexual (37%). Além disso, apenas 32% dos homens se dizem muito preocupados com sua saúde, e 46% só procuram um médico quando sentem algum sintoma, percentual que sobe para 58% entre os usuários do SUS (Sistema Único de Saúde).
Aires acredita que para mudar essa mentalidade masculina “é necessário aumentar a conscientização sobre a importância do autocuidado e enfrentar as construções sociais que reforçam a ideia de que os homens não precisam cuidar de si mesmos”.
A maquiadora Maria Romero, 30, relata que a negligência do tio em buscar atendimento médico levou a sérias complicações, como derrame, apêndice estourado, cirurgia cardíaca tardia e, eventualmente, ao óbito.
Romero diz que muitas vezes a responsabilidade pela saúde dos homens é transferida para as mulheres, sejam mães ou parceiras.
Um estudo do Centro de Referência em Saúde do Homem de São Paulo, realizado em 2022, mostra que 70% dos homens que procuram atendimento médico são influenciados por presenças femininas, e muitos chegam com doenças em estágio avançado.
O urologista Bruno Benigno e especialista em oncologia e cirurgia robótica destaca que em sua prática médica a maioria das consultas é marcada por mulheres, entre mães, esposas e filhas.
“Meninos não são incentivados a visitar médicos regularmente, ao contrário das meninas que são orientadas a ir ao ginecologista quando têm a primeira menstruação”, diz.
Segundo ele, essa lacuna no atendimento médico continua na vida adulta, onde os homens geralmente só procuram médicos quando aparecem problemas, e raramente há um olhar voltado para prevenção. As especialidades mais procuradas são urologia ou cardiologia.
“Os homens têm mais resistência a intervenções médicas, como tomar injeções. Esse medo é muito mais prevalente na população masculina”, explica Benigno. “Precisamos melhorar a comunicação para desmistificar o toque retal e promover a saúde masculina de forma mais ampla.”
O gestor de trânsito Wilson Oliveira Couto, 45, diz que sente desconforto ao tratar de questões de saúde com um urologista, especialmente em relação a exames mais invasivos, como o toque retal. Ele diz reconhecer a importância de acompanhar a saúde, mas ainda resiste em fazer por conta própria.
Paulo Giacomelli, 51, foi ao urologista apenas uma vez, por recomendação do cardiologista, único médico que ele visita anualmente. O controlador de acesso diz que, para outras especialidades, vai apenas quando pressionado por alguma mulher de sua família, como esposa ou filhas.
Benigno afirma que o urologista deve ser considerado o médico do homem ao longo de todas as fases da vida, e não apenas consultado para questões específicas como o câncer de próstata.
“Muitos homens que procuram o urologista por disfunção erétil, por exemplo, não têm um problema no pênis, mas sim um problema relacionado ao sono, obesidade ou testosterona baixa.”
Segundo um levantamento publicado na revista Cancer, os novos casos de câncer de próstata no Brasil devem subir 83,5% e as mortes, 98,6%, até 2050. A baixa adesão a rastreamentos, diagnóstico tardio e fatores como tabagismo contribuem para essa alta, destacando a importância da prevenção, políticas públicas e conscientização.
Wagner Matheus, presidente da SBU, também reconhece a importância do urologista em abordar temas como higiene íntima masculina e prevenção de doenças, como o câncer de pênis, especialmente em meninos.
Ele reforça a necessidade de campanhas educativas, especialmente para jovens em escolas, para prevenir doenças sexualmente transmissíveis e outras condições graves na saúde dos homens.
Com foco nisso, o urologista João Brunhara ajudou a fundar a plataforma Omens, voltada para o público masculino, que oferece consultas online com especialistas, como urologistas, de forma discreta e prática.
Segundo ele, é uma forma de superar as barreiras masculinas, como o medo de se expor. “A consulta online gera conforto, acolhimento, comodidade e quebra barreiras para ajudar o homem da forma que ele estiver precisando”.
Como parte da iniciativa Todas, a Folha presenteia mulheres com três meses de assinatura digital grátis