The Cure traz seu intimismo de arena a São Paulo – Zonatti Apps

The Cure traz seu intimismo de arena a São Paulo

Respeitosamente, discordo. Da abertura, com “Alone”, canção inédita que deve figurar no próximo álbum da banda, Smith sugere com delicadeza a sensação de estar sozinho em uma multidão. Se a plateia começou tímida ao encarar um caminho desconhecido, a segunda música, a delicada “Pictures of You”, já se transformou em coro, acelerando o Primavera Sound para o que seria seu melhor momento.

A partir daí, o The Cure chacoalhou a turma com as pérolas pop “Push”, “In Between Days” e “Just Like Heaven”, fez uma viagem por suas origens sombrias com um trio de canções do álbum Seventeen Seconds, de 1980 (“At Night”, “Play for Today” e “A Forest”), e trouxe sua veia poética em estado bruto na bela “From the Edge of the Deep Green Sea”.

No total, foram 29 músicas em um show de duas horas e meia sem nenhuma miséria. Disintegration, a obra-prima de 1989 que se tornou um dos sucessos mais improváveis da música pop, comparece com seis canções, inclusive “Lullaby”, pérola que transforma narrativa em pesadelo musical, e a sublime “Plainsong”, que antevê o encerramento do primeiro bis com a música-título do álbum.

A essa altura, o público, entre novos fãs e velhos entusiastas (opa!), já se encontra rendido, e nem a exaustão amplificada pelo calor que assola São Paulo freia o entusiasmo com o set aparentemente interminável. O golpe de misericórdia vem no segundo bis, quando Smith conduz a banda em mais um desfile de hits, que vai da estranha “The Walk” a “Friday I’m in Love” (provavelmente a canção mais alto astral da história), numa reta final com “Close to Me” (o naipe de metais faz falta ao vivo) e “Why Can’t I Be You?”

The Cure fez um círculo completo ao se despedir com “Boys Don’t Cry”, que escancarou a banda ao mundo num distante 1979. A história do garoto que perdeu seu amor por puro orgulho sintetiza bem a jornada da banda como a materialização de uma melancolia atemporal. Em pleno século 21, entretanto, os rótulos – pós-punk, gótico, new wave, metal, grunge – servem para organizar uma playlist, mas são referências mais de nostalgia do que de estado de espírito. Afinal, o The Cure, com sua aura de românticos malditos, fez todo mundo sorrir no Primavera Sound. Quem diria!

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