Os Rejeitados:Paul Giamatti surge em outra atuação sublime no agridoce – Zonatti Apps

Os Rejeitados:Paul Giamatti surge em outra atuação sublime no agridoce

Nas mãos de qualquer outro, “Os Rejeitados” seria mais um drama edificante que nos faz torcer pelo perdedor, talvez por ele ser um espelho preciso de nós mesmos. Nas mãos de Alexander Payne, contudo, o filme ganha escopo, ganha nuances, em que seus personagens revelam profundidade insuspeita e nublam nossas expectativas, mesmo que o caminho seja familiar.

O fato de o filme ser ambientado nos corredores áridos de um internato, palco de dúzias de filmes, contribui para esse reconhecimento. É dezembro de 1970, e com a chegada do recesso do fim do ano, os alunos endinheirados voltam para casa – mas nem todos. Por uma rasteira do destino – e de sua mãe desinteressada – o jovem Angus Tully (o ótimo Dominic Sessa) é deixado para trás. Seus “guardiões” são a cozinheira Mary Lamb (Da’Vine Joy Randolph) e o professor Paul Hunham, papel de Paul Giamatti.

Na largada o filme já desenha quem é Hunham. Professor de história que não desperta simpatia em seus pares, ele é ainda mais odiado pelos alunos. Rígido e dotado de senso de humor corrosivo, ele aperfeiçoa formas elegantes de chamar alguém de estúpido. Pode até parecer que Hunham é voluntário para a tarefa de babá. Mas a verdade é que, assim como Tully, ele também está preso – literal e metaforicamente.

Se Alexandfer Payne tropeçou na própria ambição em seu último trabalho, o esforçado e esquecível “Pequena Grande Vida”, em “Os Rejeitados” ele retoma a boa forma de “As Confissões de Schmidt”, “Os Descendentes” e, claro, “Sideways”, no qual ele dirigiu o próprio Paul Giamatti. O que ele traz aqui são indivíduos tolhidos por suas próprias imperfeições, que terminam como combustível para ampliar a percepção de quem os cerca. A simbiose é inevitável.

Dominic Sessa, Paul Giamatti e Da'Vine Joy Randolph em 'Os Rejeitados'
Dominic Sessa, Paul Giamatti e Da’Vine Joy Randolph em ‘Os Rejeitados’ Imagem: Universal

O fracasso e a posterior redenção de sujeitos aparentemente desprezíveis é matéria-prima das melhores histórias de Payne, e talvez nenhum de seus protagonistas abrace estes predicados com tanta sofreguidão quanto Paul Giamatti. É óbvio que sua jornada em “Os Rejeitados” é (mais ou menos) clara desde o primeiro momento. O importante, contudo, não é a linha de chegada, e sim todo o trajeto.

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