Elle McAlpine, coordenadora de intimidade de ‘Pobres Criaturas’ defende a naturalização do sexo no cinema
Elle McAlpine, coordenadora de intimidade que trabalhou ao lado de Yorgos Lanthimos em Pobres Criaturas, relembrou como algumas das cenas de sexo do filme foram feitas e compartilhou sua opinião sobre a relevância delas no roteiro de Tony McNamara.
Em entrevista ao The Guardian, McAlpine concordou com o diretor, que já afirmou que nunca entendeu “o pudor” acerca do sexo no cinema. “Estamos muito mais dispostos a assistir a um estupro do que a uma cena sexual totalmente consensual e um pouco fora do comum. O que isso diz?”, argumentou.
“Acredito que há uma separação entre mente e corpo, geralmente em nossa sociedade — somos tão cerebrais”, acrescentou. Para a coordenadora, a narrativa de Pobres Criaturas levantou uma questão: “O que aconteceria se escutássemos mais nossos corpos? E o sexo é uma parte massiva disso… Você pode sentir, com o orgasmo, o que as pessoas buscam ao usar drogas: é o esquecimento — e estamos constantemente em busca disso”.
A descoberta sexual pela personagem de Emma Stone, Bella, levantou debates sobre o machismo por trás da retratação do sexo. O entusiasmo de Bella, uma figura com mentalidade infantil dentro do corpo de uma mulher, sobre o tema foi apontado por críticos como uma “fantasia masculina”, por exemplo.
A controvérsia foi estabelecida principalmente a partir da segunda metade do longa-metragem, quando Bella fica sem dinheiro e vai trabalhar em um bordel. “A compreensão por trás da transação é que é algo ao qual ela consente e deseja — até que não deseja mais”, disse McAlpine. As cenas contrastam com a essência feminina “livre e fluida” que Bella exibiu anteriormente, na visão de Elle.
Para McAlpine, fazer as cenas de sexo de Bella foi um desafio: “Esta é a mente de uma criança, em um corpo de mulher, e estamos fazendo ‘pulos furiosos’. Como isso se encaixa para mim, como ser humano? Eu entrei para fazer um trabalho… Como coordenadora de intimidade, estou lá para servir à visão”.
Na contramão das interpretações gerais sobre o filme, Elle não enxerga a personagem de Stone como uma criança, mas sim como uma adolescente entre 16 e 17 anos. “Acho que, nesse ponto, há uma autonomia ali que não acredito que as crianças tenham. Ela está tomando decisões… Eu entendia onde ela estava em seu desenvolvimento, e não parecia muito chocante”, explicou.