Filme de estreia de Felipe Gálvez retrata genocídio indígena no Chile administrado por José Menéndez; ‘Os Colonos’ está em exibição nos cinemas desde 1º de fevereiro
“José Menéndez: o rei da Patagônia” foi o título dado a um texto do Museo Regional de Magallanes, em Punta Arenas, que elenca conquistas do assassino de incontáveis indígenas da etnia Selk’nam — conhecidos como onas. A informação não é ocultada pelo museu, mas foi considerada menos relevante do que o número de hectares adquiridos pelo espanhol, por exemplo. Com cores saturadas e em meio ao frio dos extremos do Chile e da Argentina, Os Colonos conta justamente como isso aconteceu.
No filme de estreia de Felipe Gálvez, retratado no início do século XX, o ex-soldado escocês Alexander McLennan (Mark Stanley) e o matador texano Bill (Benjamin Westfall) se juntam sob o comando de Menéndez (Alfredo Castro) para exterminar qualquer indígena presente por um caminho que percorre os dois países. O mestiço Segundo (Camilo Arancibia) também é convidado para acompanhar a viagem a cavalo, graças à boa pontaria. Quando ele é posicionado ao lado dos genocidas, porém, hesita em puxar o gatilho e matar pessoas que são mais semelhantes a ele do que seus companheiros brancos.
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O longa-metragem não precisou de três horas de duração, como o de temática semelhante Assassinos da Lua das Flores, para oferecer, através da ficção, um fragmento da história que se repetiu por toda a América do Sul. Diante das paisagens silenciosas da Terra do Fogo, homens disputam poder e espaços sobre os quais nunca caminharão novamente.
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Dentro do próprio grupo encarregado de eliminar os indígenas, existe uma hierarquia: Segundo é tratado como objeto, Bill deve responder ao escocês, enquanto o ex-soldado, até certo momento autointitulado tenente, é desmascarado ao encontrar Colonel Martin (Sam Spruell), que ocupou posição superior no exército britânico.
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O roteiro de Gálvez e Antonia Girard não dispensou a brutalidade e incluiu estupros e mortes sangrentas no filme. Os capangas de Menéndez colecionam orelhas indígenas para gerir a quantidade de mortos e comprovar a entrega do serviço ao qual foram incumbidos. Ainda assim, o trabalho do diretor de fotografia Simone D’Arcangelo ameniza o assombro da violência e permite que o desconforto também seja contemplado.
José Menéndez e Alexander McLennan, figuras que realmente existiram, saíram ilesos do genocídio. Segundo, por sua vez, e a indígena Kiepja (Mishell Guaña) se isolam na beira do continente e precisam ser readaptados para fazer parte do próprio país. “Você quer ou não pertencer a essa nação?”, pergunta um oficial do governo ao visitá-los e fotografá-los com roupas tipicamente europeias.
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