Como um bibelô, Priscilla Beaulieu, interpretada por Cailee Spaeny, se torna o assessório ideal para uma superestrela da música como Elvies Presley (Jacob Elordi), sob o olhar de Sofia Coppola em “Priscilla”. Homens sempre foram ególatras e não é à toa que a história do mundo sempre girou em torno deles. Então, quando de todas as pessoas do mundo, o astro do rock escolhe Priscilla, a escolha não parece surpreendente. Ela tem apenas 14 anos quando se conhecem em uma festa na casa de um militar próximo da base americana na Alemanha. Ela parece inocente, pura e obediente o bastante para atender às fantasias conservadoras de Elvis.
Após Elvis convencer os pais de Priscilla a deixá-la sair com ele em alguns encontros, o artista retorna para os Estados Unidos, deixando-a em uma longa espera. De volta à vida de celebridade da música, ele parece colocá-la em stand by, enquanto filma com belas atrizes, com quem posa em revistas de fofocas, e é perseguido por mulheres em suas aparições públicas. Seu tempo é ocupado por coisas importantes demais para que ele se dê conta de que precisa dar notícias à Priscilla, que o espera ansiosamente na Europa, enquanto vive amargamente sua rotina de estudante comum de ensino médio. Os momentos com Elvis agora parecem um sonho ensolarado distante.
Meses depois, ele telefona. Quer que ela o visite nos Estados Unidos, mas as chances dos pais dela a deixarem ir são escassas. Elvis não se preocupa, afinal, ele tem controle sobre tudo. Ele os convence e a leva para Graceland, sua propriedade em Memphis, no Tennessee, onde ele se cerca de amigos que vivem de sua glória e fortuna. Priscilla, que ainda é uma adolescente, se sente uma adulta pela primeira vez, de braços dados com o imponente Elvis em um passeio a Las Vegas, sob a mira dos paparazzi, e com um vestido brilhante e sensual em um restaurante cheio de celebridades.
Mas ele precisa voltar às filmagens de mais um filme, que é como ele tem ganhado a vida por aqueles dias, enquanto pretende despachar Priscilla de volta para a Alemanha para que possa retomar sua agenda. Priscilla sofre, afinal, quanto tempo ela ficará sem notícias de Elvis? Ela o verá novamente? Terá sido tudo apenas uma ilusão?
Mas, desta vez, quando ele liga de novo para a casa dela, é para convidá-la para morar com ele em Graceland. Ela ainda não terminou o ensino médio, mas ele promete aos pais de Priscilla que ela será matriculada em uma boa escola católica, onde pegará seu diploma.
Elvis é controlador. A faz pintar o cabelo de preto para destacar seus olhos, diz o que ela deve usar, dá um cachorrinho poodle para que ela não se sinta solitária na sua ausência (que é constante) e não permite com que ela diga quando quer fazer sexo, afinal, é ele, o homem, que tem que escolher o momento e a forma. Quando ela questiona supostos casos extraconjugais, ele é agressivo, a força a visitar os pais. Elvis quer uma doce esposa submissa, não uma questionadora.
A todo tempo com uma expressão triste, angustiada, Priscilla é uma mulher presa em uma vida aparentemente privilegiada, uma gaiola de ouro. Quantas outras não preferiram o fardo de um relacionamento abusivo a retornar para seus lares opressores? O amor sempre foi um portal de ilusão para a liberdade, mas, para muitas mulheres, foi apenas uma passagem para uma prisão mais luxuosa. Longe de ser um viés reducionista, o longa-metragem de Sofia Coppola é um olhar humanizado sobre a vida de uma grande mulher vivendo à sombra de um pequeno homem.
Filme: Priscilla
Direção: Sofia Coppola
Ano: 2023
Gênero: Drama/Romance/Biografia
Nota: 9/10