Nos primeiros episódios de cada leva, conhecemos Baltazar (Juan Paiva, o João Pedro de “Renascer”), motoboy que trabalha há anos contratado de um restaurante. Quando o genro do dono assume o negócio, todos os funcionários que recebiam por CLT passam a ser autônomos, ou “empreendedores”, na linguagem suave do patrão. Baltazar entra em conflito com o novo chefe e é acusado injustamente de um assalto ao restaurante.
A segunda história acompanha Jayme, poderoso dono de um supermercado que estuprou por dois anos a própria sobrinha, Carolina (Alice Wegmann), quando ela era menor de idade. Depois de muitos anos, ela decide acusar o tio e apresentar provas à polícia. Mas o tio sempre sustentou a família toda, incluindo a mãe de Carolina (Julia Lemmertz), e não vai ser fácil se livrar dele mesmo depois dos sete anos de cadeia.
A terceira trama, a mais fraca desse lote, acompanha o conflito entre uma manicure, Jeiza (Belize Pombal) e um playboy que se muda para a vizinhança botando um som alto ininterrupto. Ela acaba matando-o em legítima defesa e vai presa. Ao sair da cadeia, descobre que a filha, para sobreviver, envolveu-se num esquema de laranjas e corrupção.
Por fim, a última história é de Milena (Nanda Costa), uma arrombadora de cofres que sonha em ser cantora. Ao se envolver num assalto, ela acaba acusada de matar um rapaz que tinha ligações escusas com a poderosa Jordana (Paolla Oliveira), dona de uma gravadora. Ao sair da cadeia, Milena não busca vingança, mas quer se aproveitar do poder de Jordana para conseguir o que quer. Uma inusitada atração começa a rolar entre elas, mas o marido de Jordana, Egisto (Marcello Novaes) não vai deixar barato.
“Justiça 2”, como está sendo chamada, não é uma série leve para relaxar depois do trabalho. Todas as histórias envolvem dramas pesados e cenas de violência que demandam um certo preparo emocional do espectador. Mas entrega o que promete: ótimos personagens em grandes atuações, um sentimento de angústia difuso por todas as injustiças cometidas, e acima de tudo uma visão aguda sobre o caldeirão infernal de desigualdades e injustiças sociais do país.
Entre precarização do trabalho, corrupção, relações de violência dentro da família e racismo, muitos dos nossos problemas sociais estão radiografados ali. Por cima de todos eles, há sempre o homem branco, fazendo de tudo para manter o seu poder, aliando-se aos deputados e senadores de Brasília e puxando o tapete de mulheres, pretos e pobres.