Que outros gêneros podem agradar o brasileiro?
Otimista, Juliana Funaro, da Barry Filmes, acredita que longas de ação podem abocanhar parte da bilheteria nacional, pois o brasileiro demonstra interesse em consumir esse tipo de gênero. “Minha experiência mostra que há um aumento de investimentos em projetos de ação e que esses produtos tem tido uma boa aceitação quando eles têm orçamento adequado para serem bem feitos”, analisa. “Se a gente tiver um aumento dos investimentos nos projetos brasileiros de ação, teremos um crescimento de público também.”
Lançado em 2023, o desempenho de “O Sequestro do Voo 375”, escrito por Lusa Silvestre, corrobora a tese de Juliana Funaro. O filme levou quase 200 mil pessoas aos cinemas e se tornou a sexta produção brasileira mais vista ano passado. “O público está acostumado a ver filmes de ação com uma riqueza de detalhes, que é muito longínquo pra gente aqui. Mas dá para fazer (bons filmes de ação), porque os escandinavos não têm a mesma grana dos americanos, mas produzem coisa boa”, opina Lusa. “O Sequestro do Voo 375″ custou US$ 5 milhões (aproximadamente R$ 25 milhões), e esse é o que os gringos gastam só com cachê do ator protagonista.”
Além da ação, Paulo Barcellos acredita que o público brasileiro tem apetite para consumir produções nacionais dos mesmos gêneros que eles gostam de ver na cinematografia americana: ficção científica, thriller e suspense. Mas, em sua na visão, a questão do custo x risco impede que os produtores se arrisquem nesse gênero com mais frequência. “Diferentemente das comédias, fica bem mais caro fazer um bom filme nesses gêneros. Muitos preferem fazer três comédias com o mesmo dinheiro e reduzir o risco em três títulos.”
Giuliano Cedroni, roteirista e produtor do Ventre Studios, aponta outro gênero que pode fazer a cabeça dos brasileiros: o romance. “Uma boa história de amor nunca envelhece, é universal, e ajuda o ser humano a esquecer do presente e a acreditar no futuro”, teoriza. “Se antes as histórias de amor eram quase que na sua totalidade héteros e mono raciais, agora temos uma combinação maravilhosa a se explorar. O brasileiro ama amar.”
Já a produtora Clélia Bessa, da Raccord Produções, que prepara a adaptação de “Quarto de Despejo”, que narra a história de Maria Carolina de Jesus, lembra que biografias sempre vão bem. “O brasileiro gosta de se ver na tela.”
Parceria com o streaming
Independentemente da posição que exercem no audiovisual brasileiro, uma opinião é unânime entre os profissionais entrevistados pela coluna: a parceria com streaming é necessária para expandir as narrativas da produção cinematográfica nacional. “A confiança dos streamings em grandes produções no Brasil foi e segue sendo fundamental para o crescimento do mercado brasileiro”, acredita Giuliano Cedroni. “Antes da entrada da Netflix no país, logo seguida pelos outros streamings, os longas de grande orçamento demoravam anos para angariar recursos, e, como resultado, se filmava pouco. E país que filma pouco, treina pouco, erra pouco, mas também acerta pouco.”