O sucesso de histórias com essa estrutura depende exclusivamente da química de seus protagonistas. “Como Vender a Lua” acerta em cheio nesse quesito, com Scarlett Johansson e Channing Tatum como a água e o óleo que, em um cenário excêntrico, descobrem seus pontos em comum enquanto acertam as contas com suas próprias imperfeições. Se charme pudesse ser engarrafado e vendido, os astros já teriam uma aposentadoria gorda!
Na Nova York dos anos 1960, quando as mulheres encontravam sua voz na sociedade para além da família margarina, Kelly Jones (papel de Scarlett) é uma publicitária navegando com sucesso em um mundo quase que exclusivamente masculino. Ela é convocada por um agente do governo, Moe Berkus (Woody Harrelson), para uma missão nobre: ir para Cabo Canaveral, na Flórida, e “vender” a NASA como produto, assegurando a simpatia da opinião pública com os gastos galopantes da corrida espacial.
A tarefa se mostra complicada com a resistência de Cole Davis (Tatum), diretor de lançamento da Apollo 11, em transformar a missão lunar em um outdoor gigantesco – e seus astronautas em astros pop. A situação que já era tensa se complica ainda mais quando Moe, empolgado com a possibilidade de transmitir o voo ao vivo pela TV, encarrega Kelly de produzir uma versão falsa do pouso na lua em estúdio – “É uma disputa política com a Rússia e não podemos arriscar a vergonha pública”, diz o araponga ianque.
“Como Vender a Lua” tem ritmo supersônico, empilhando elementos narrativos que só não despencam por conta da condução acertada de Berlanti. Ele sabe o risco de misturar um recorte tão emblemático da história com um romance açucarado e acerta ao não abraçar nenhum extremo. O filme não é, afinal, sobre a corrida espacial ou sobre as teorias da conspiração que orbitam o tema. Não é “Os Eleitos” ou “O Primeiro Homem”.
Sua ambição, portanto, é como fantasia romântica despojada. Sem a intenção em criar uma nova propriedade intelectual. Sem disposição para propor conceitos inovadores. Apenas retroceder há tempos mais simples, quando ir à Lua representava o auge da realização humana, ou quando ter dois astros estampados na marquise justificava o ingresso do cinema. Quem diria que um dia isso seria revolucionário?