O novo imunizante contra o VSR (vírus sincicial respiratório), principal causador da bronquiolite em crianças, estará disponível na rede privada a partir de março, com preço estimado em R$ 2.663, segundo a farmacêutica Sanofi. O medicamento é indicado para bebês de até um ano de idade.
O nirsevimabe, comercializado como Beyfortus, demonstrou, em estudos clínicos, uma redução de 83% nas hospitalizações por infecções respiratórias relacionadas ao VSR em bebês menores de um ano. Com o lançamento, as doses serão distribuídas para clínicas particulares, hospitais e maternidades.
Embora ainda não esteja disponível no SUS (Sistema Único de Saúde), o nirsevimabe foi incorporado pela ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) e passará a ser oferecido pelos planos de saúde a partir de março.
Conforme as diretrizes da ANS, o imunizante poderá ser ofertado a prematuros nascidos com menos de 37 semanas de gestação e com até um ano de idade no início ou durante sua primeira temporada de exposição ao VSR. Também será indicado para crianças com menos de dois anos que tenham displasia broncopulmonar (pulmões imaturos) ou cardiopatias congênitas com repercussão hemodinâmica.
A Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias) avalia a inclusão do medicamento no SUS. Entre novembro e dezembro de 2024, o órgão realizou uma consulta pública sobre o tema e, agora, aguarda-se a deliberação final sobre a disponibilização do imunizante na rede pública.
No Brasil, a sazonalidade do VSR ocorre de março a julho, exceto na região Norte, onde a circulação do vírus é mais intensa entre fevereiro e junho. É uma das maiores ameaças à saúde dos bebês, responsável por quadros de bronquiolite, uma infecção respiratória altamente contagiosa cujos principais sintomas são tosse e dificuldade para respirar.
Embora a maioria dos casos de bronquiolite seja leve, a doença pode levar a internações hospitalares. O nirsevimabe é um anticorpo monoclonal que impede a entrada do vírus nas células, reduzindo o risco de infecção grave.
Raissa Cipriano, 30, presidente da Asbag (Associação Brasileira de Asma Grave), enfrentou uma internação prolongada da filha em uma UTI (Unidade de Terapia Intensiva) após um diagnóstico de bronquiolite e pneumonia causadas pelo VSR.
“Ela teve uma evolução muito grave da doença. Hoje, aos 11 anos, tem apenas 37% da função pulmonar no lado esquerdo e 63% no direito. Foram quatro anos de cuidados domiciliares”, relata.
Quem enfrentou situação semelhante em 2023 foi a influenciadora digital Camile Pasquarelli, 31, quando seu filho de seis meses precisou ser sedado e intubado devido à infecção.
“Ele foi direto para a UTI, e eu achei que fosse morrer, porque vimos muitas pessoas falecendo por Covid-19 após serem intubadas. Foram 15 dias de internação. Quando voltou para casa, demorou a recuperar-se totalmente e teve abstinência dos sedativos, chegando a não me reconhecer”, conta.
Renato Kfouri, pediatra infectologista e vice-presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), explica que os bebês são mais vulneráveis a infecções porque ainda não desenvolveram totalmente o sistema imunológico.
“O nirsevimabe é uma imunização passiva, ou seja, fornece o anticorpo pronto para o bebê, diferentemente das vacinas, que estimulam o organismo a produzir sua própria defesa contra a infecção”, diz Kfouri.
Hoje, o SUS disponibiliza o palivizumabe, produzido pela AstraZeneca, indicado apenas para bebês de alto risco. O medicamento é administrado em cinco doses, com intervalo de 30 dias entre elas.
“O palivizumabe exige aplicações mensais e foi testado apenas para grupos de risco, enquanto o nirsevimabe tem um esquema de dose única e demonstrou maior eficácia para todos os bebês”, acrescenta Kfouri.
Segundo a Sanofi, um exemplo da eficácia de nirsevimabe no combate ao VSR foi obtido no Chile, onde o imunizante foi aplicado de forma massiva no público-alvo. Na última época de sazonalidade no país, foi observada uma queda de 90% de hospitalizações pediátricas, sem registro de óbitos, afirma a farmacêutica.
Também há outras vacinas e imunizantes contra o VSR aprovadas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Em 2024, a Pfizer iniciou a distribuição da vacina Abrysvo para clínicas privadas. A Conitec ainda avalia a incorporação ao SUS.
O imunizante é indicado para gestantes, conferindo proteção aos bebês nos primeiros meses de vida. Mulheres grávidas devem receber uma dose única entre a 24ª e a 36ª semana de gestação.
Outro imunizante contra o VSR, chamado Arexvy, foi aprovado pela Anvisa em 2023. Produzido pela GSK, ele é recomendado para pessoas com mais de 60 anos.