A pesquisa Atlas-Intel divulgada esta semana trouxe, além dos dados de intenção de voto, um levantamento muito interessante sobre a identificação com o petismo e o bolsonarismo. Há notícias boas e ruins para os dois campos.
As perguntas foram duas. A primeira: “Você se identifica como bolsonarista, anti-bolsonarista, ou nem bolsonarista, nem anti-bolsonarista?”. Anti-bolsonaristas são 44,9%, nem um nem outro 28%, bolsonaristas 26,9% e 0,2% não sabem.
A outra pergunta foi “Você se identifica como petista, anti-petista, ou nem petista, nem anti-petista?”. Os nem-nem são maioria com 45%, seguidos de 30,2% de antipetistas, 21,3% de petistas e 3,5% que não sabem.
É uma surpresa que o bolsonarismo seja maior que o petismo. Ainda que Jair Bolsonaro seja o presidente que está no poder e o brasileiro ame o time que está ganhando, o petismo é muito mais antigo. Além disso, entre os partidos políticos nacionais, é aquele que sempre teve uma identificação muito mais afetiva com seu eleitor do que os demais.
De qualquer forma, a pesquisa indica serem movimentos de tamanhos diferentes. É comum ouvir que sejam iguais, que ambos tenham ali seus 20% a 30% da população e o resto vote contrário ao outro. Não é tão simples a análise e os nem-nem aparentemente contam mais do que os convertidos.
O petismo está mais para 20% e o bolsonarismo está mais para 30%. Só que a rejeição ao bolsonarismo é muito maior e isso é decisivo em qualquer eleição. É verdade que Jair Bolsonaro conseguiu se eleger em 2018 com uma rejeição também altíssima, mas isso passa longe de ser uma vantagem.
Quase metade da população brasileira, 44,9%, declaram ser antibolsonaristas. Isso é muita coisa e uma bênção para a campanha petista. Já o antipetismo de que tanto temos ouvido falar é uma força da ordem de 30%, um pouco maior apenas que o bolsonarismo raiz.
A última pesquisa Genial-Quaest traz um dado interessantíssimo sobre o equilíbrio entre quem escolhe um candidato e vota contra o outro. Lula tem 49% de eleitores que o querem no poder e 46% que só querem tirar o Bolsonaro. Bolsonaro tem 48% de eleitores que pretendem evitar que o PT volte e 46% que desejam sua reeleição. A soma não dá 100% devido aos que dizem não saber responder.
Diz o clichê que o homem é servo do amor mas escravo do ódio. O que provoca mais rejeição sobre um candidato é aquilo a ser melhor trabalhado pelo outro. Tem mais potencial para fazer aqueles que nem o amam nem o odeiam repensar um voto.
Quando perguntam por que alguém não vota em Bolsonaro, 22% respondem que é por causa das falas dele, 16% pela má administração e 12% porque não gostam dele.
Mas quando a pergunta é qual o principal medo da pessoa caso ele seja eleito, o tema muda: 37% temem que a economia piore. O autoritarismo vem bem atrás, com 10%.
O problema de Lula é definitivamente a corrupção. O discurso feito durante a campanha não foi eficaz. Quando se pergunta por que alguém não vota no Lula, 64% atribuem a corrupção. Má administração, que é o segundo ponto, está muito atrás, com 8%.
Já quando perguntam qual o medo da pessoa caso Lula seja eleito, 32% dizem que é a volta da corrupção e 19% o medo de um regime autoritário.
É curioso que a rejeição a Lula seja muito mais motivada pelo medo de autoritarismo do que a rejeição a Jair Bolsonaro. Esse sentimento da população não tem sido captado de forma eficiente pelo mainstream e pela institucionalidade, mas tem sido trabalhado pelas duas campanhas.
O grande problema do Brasil, segundo a pesquisa Genial-Quaest, é a economia. E esse dado também escancara que a política brasileira é decidida por afetos. Primeiro escolhemos pela afeição e depois enfileiramos justificativas que pareçam lógicas.
Foi perguntado se, no último ano a economia do Brasil melhorou ou piorou. Para 76% dos eleitores de Lula piorou. Para 80% dos eleitores de Bolsonaro melhorou. É com essa objetividade que decidimos sobre o nosso futuro.