A China se prepara para um pico nas infecções de Covid-19 dentro de uma semana, disse uma autoridade de saúde do país nesta sexta-feira (23). Diante desde prospecto, o governo, mesmo minimizando a gravidade da doença e continuando a não reportar novas mortes, prevê uma pressão extra no sistema de saúde.
Nesta quinta (22), a China relatou menos de 4.000 novos casos sintomáticos de Covid em todo o país, e nenhuma nova morte pelo terceiro dia consecutivo. As autoridades restringiram os critérios de registros de óbitos por Covid nesta semana, gerando críticas de especialistas.
Contudo, é provável que as infecções na China sejam de mais de um milhão por dia, com mais de 5.000 mortes por dia, em “contraste absoluto” com os dados oficiais, disse esta semana a empresa britânica de dados de saúde Airfinity.
A Bloomberg News, citando um relatório do governo, reportou que quase 37 milhões de pessoas podem ter se infectado com o coronavírus em um único dia esta semana.
Ao todo, o relatório publicado nesta sexta-feira disse que cerca de 18% da população do país —248 milhões de pessoas— provavelmente contraiu o vírus nos primeiros 20 dias de dezembro.
A China desmantelou há poucas semanas sua política de Covid zero, diante de uma série de protestos generalizados contra a linha dura do governo no controle da pandemia. Como resultado, está vivendo uma explosão de casos, tornando-se o último grande país a passar a conviver com o vírus.
As rigorosas medidas de contenção do coronavírus, instauradas no início da pandemia, desaceleraram a economia de US$ 17 trilhões para sua taxa de crescimento mais baixa em quase meio século, bloqueando as cadeias de suprimentos e o comércio globais.
Zhang Wenhong, diretor do Centro Nacional de Doenças Infecciosas, foi citado no jornal The Paper, apoiado pelo governo de Xangai, nesta quinta, dizendo que a China “deve atingir o pico de infecções dentro de uma semana”.
“O pico de infecção também aumentará a taxa de doenças graves, o que terá um certo impacto em todos os nossos recursos médicos”, disse ele, acrescentando que a onda durará mais um ou dois meses depois disso. “Devemos estar mentalmente preparados para que a infecção seja inevitável.”
O veículo estatal chinês Qingdao Daily citou na sexta-feira uma autoridade de saúde na cidade de Qingdao, no leste, dizendo que o coronavírus estava em estágio de transmissão rápida na cidade, com 490 mil a 530 mil novas infecções diárias, que deve aumentar a uma taxa de 10% nos próximos dias.
No entanto, Zhang disse que visitou lares de idosos em Xangai, percebendo que o número de idosos com sintomas graves era baixo. Segundo um especialista, metade dos 25 milhões de habitantes da megalópole pode se infectar até o final da próxima semana.
Especialistas dizem que a China pode somar mais de um milhão de mortes por Covid no próximo ano.
As cidades, enquanto isso, continuam a flexibilizar as regras. Xangai disse que as pessoas infectadas poderão encerrar o isolamento domiciliar após sete dias se seus sintomas diminuírem ou cessarem significativamente, sem mencionar a necessidade de realizar mais testes.
A orientação do início deste mês dizia que eles poderiam encerrar o isolamento domiciliar depois de testar negativo nos testes de antígeno e PCR.
A taxa geral de vacinação na China está acima de 90%, mas a taxa para adultos que receberam vacinas de reforço cai para 57,9% e para 42,3% para pessoas com 80 anos ou mais, segundo dados do governo.
O país tem nove vacinas desenvolvidas localmente aprovadas para uso, todas consideradas menos eficazes do que as vacinas fabricadas no Ocidente que usam a nova tecnologia de mRNA, proibidas de serem aplicadas no país.
Enquanto isso, o governo chinês passou a confiscar, nesta sexta, a produção de remédios e testes de coronavírus de algumas farmacêuticas. O motivo é o abastecimento destes itens nas farmácias, que estão em falta devido à grande procura dos últimos dias causada pela explosão de casos de Covid.
A ideia do confisco é garantir o abastecimento das farmácias, segundo a imprensa local.
Algumas cidades impuseram racionamento. Em Zhuhai, próxima a Macau, por exemplo, as pessoas só podem comprar seis comprimidos por semana para a febre, e precisam se identificar no balcão.
Em Hangzhou, o governo local pediu que os moradores sejam racionais. “Não estoquem medicamentos. Deixem para as pessoas que realmente precisam deles”, diz um comunicado municipal.