Indicado a oito estatuetas do Oscar 2008, e ganhador de duas, “Sangue Negro” é um filme do cineasta Paul Thomas Anderson e tem Daniel Day-Lewis como protagonista. Inspirado no livro “Petróleo!”, de Upton Sinclair, e livremente em Edward L. Doheny, um magnata do petróleo na Califórnia no início do século 20, o enredo gira em torno de Daniel Plainview, um minerador que enriqueceu após se tornar um explorador de petróleo.
Day-Lewis levou por este papel seu segundo Oscar de melhor ator. O primeiro foi por “Meu Pé Esquerdo”, em 1990, e o terceiro foi por “Lincoln”, em 2013. O ator também foi indicado outras três vezes, por “Em Nome do Pai”, em 1994; “Gangues de Nova York”, em 2003; e “Trama Fantasma”, em 2018.
O filme acompanha a trajetória de Daniel Plainview como um ambicioso e implacável explorador de petróleo, cujo parceiro de negócios é seu filho adotivo, H.W., um garoto que perdeu o pai biológico quando ainda era um bebê. Seu pai estava em uma plataforma de petróleo, quando um acidente de trabalho ceifou sua vida.
Após adquirir uma fazenda na Califórnia de propriedade da família dos gêmeos Eli e Paul, Daniel descobre um grandioso depósito de petróleo. Interessado em comprar todas as fazendas ao redor por preços subvalorizados, Daniel não tem pudor em explorar a ingenuidade e necessidade dos moradores da cidade para erguer seu império. Mas ele encontra um adversário tenaz em Eli, que se torna um pastor de uma congregação fanática e na qual tem grande influência na cidade. Ambos disputam poder, autoridade e prestígio sobre os moradores e seus objetivos são completamente conflitantes, podendo provocar consequências trágicas para os dois homens sanguinários.
Os motivos pelo qual este filme é considerado uma obra-prima da história não é apenas pela premiada atuação de Day-Lewis, um dos maiores nomes do cinema dos séculos 20 e 21. É claro que a falsa paciência e polidez aveludada que escondem sob a carcaça de seu personagem Daniel a alma maldosa de um homem maníaco dão para o enredo um charme misterioso e intrigante. Mas é também sua química com Paul Dano, que interpreta seu antagonista, um homem igualmente desequilibrado e egocêntrico, que confere ao filme um vigor enervante.
Além disso, o roteiro é inteligente e obscuro e explora por meio do passado uma profecia do futuro: a anemia da Terra diante da ganância do capitalismo. O sangue negro será sugado até que não reste mais nada nas veias e artérias do planeta. Mas não apenas isso, o homem há de arrancar todos os órgãos, músculos e pele, inclusive o tutano, até que tudo que reste seja um esqueleto inabitável, sem cor e sem vida. E em meio a toda essa devastação da natureza, a religião também parece furtar meticulosamente a capacidade de raciocinar e sentir dos humanos.
Robert Elswit, diretor de fotografia, também levou por este filme uma estatueta da Academia, por causa de seu trabalho impecável. Algumas das cenas foram filmadas com uma câmera Pathe de 1910, com uma lente 43mm especialmente modificada para este longa-metragem. Também é possível observar como a fotografia de Elswit tem textura, é áspera, diferente dos filmes digitais. Essa legibilidade toda é evitada por Elswit, que gravou “Sangue Negro” completamente em filme, sem nenhum intermediário digital.
Também é impossível deixar de perceber a forte influência de Stanley Kubrick nos enquadramentos deste longa, em cenas como da igreja ou da pista de boliche, construída especialmente para o filme. As lentes mais abertas propiciam um estilo mais vintage para a fotografia, na qual tanto Elswit quanto Anderson escolheram por evitar, a todo custo, o uso de filtros. Além disso, outra influência forte de Kubrick pode ser percebida na iluminação, que mantém ao máximo sua naturalidade. E, por justamente se preocupar em manter apenas o objeto de interesse iluminado, enquanto todo o resto parece bastante escuro, “Sangue Negro” tem essa atmosfera misteriosa de thriller.
Um filme para apreciar com paciência, minucia e prazer, “Sangue Negro” é uma obra de arte indispensável para quem ama cinema intelectual.
Filme: Sangue Negro
Direção: Paul Thomas Anderson
Ano: 2007
Gênero: Drama
Nota: 10/10