É a segunda tentativa do país asiático de pousar um veículo no satélite da Terra, algo que apenas EUA, China e a antiga União Soviética já conseguiram. Indianos usam estratégia de baixo custo e visam mercado espacial.
A Índia lançou nesta sexta-feira (14) um foguete levando uma espaçonave não tripulada para pousar na Lua, uma missão que pode colocar seu programa especial em outro patamar.
O foguete LVM3-M4 decolou de Sriharikota, no estado de Andhra Pradesh, no sul do país, levando a espaçonave Chandrayaan-3, enquanto milhares de entusiastas aplaudiam e vibravam.
“A Chandrayaan-3 (…) iniciou sua jornada para a Lua. O estado da espaçonave está normal”, disse a Organização de Pesquisa Espacial Indiana (ISRO) no Twitter.
A nação mais populosa do mundo tem um programa aeroespacial com um orçamento relativamente baixo, mas que se aproxima rapidamente dos marcos estabelecidos pelas potências espaciais globais.
Somente Rússia, Estados Unidos e China já conseguiram fazer um pouso controlado na superfície lunar. A última tentativa da Índia nesse sentido fracassou há quatro anos, quando a espaçonave perdeu o contato momentos antes do pouso.
“O Chandrayaan-3 abre um novo capítulo na odisseia espacial da Índia”, tuitou o primeiro-ministro Narendra Modi, da França, onde foi o convidado de honra no desfile do Dia da Bastilha em Paris. “Ela voa alto, elevando os sonhos e as ambições de todos os indianos.”
Modelo mais econômico
Desenvolvida pela ISRO, a Chandrayaan-3 inclui um módulo de aterrissagem chamado Vikram e um veículo lunar chamado Pragyan. Se o resto da missão seguir como planejado, a missão aterrissará próximo ao polo sul da Lua, ainda pouco explorado, entre 23 e 24 de agosto.
A missão tem um orçamento de 74,6 milhões de dólares (R$ 360 milhões), muito menor do que o de outros países e uma prova da engenharia espacial frugal da Índia.
Especialistas dizem que a Índia pode manter os custos baixos copiando e adaptando a tecnologia espacial existente e graças à abundância de engenheiros altamente qualificados que ganham uma fração dos salários de seus colegas estrangeiros.
A Chandrayaan-3 levará muito mais tempo para chegar à Lua do que as missões Apollo tripuladas das décadas de 1960 e 1970, que chegaram em questão de dias, pois o foguete indiano utilizado é muito menos potente do que o Saturn V dos Estados Unidos.
Para compensar, a sonda orbitará a Terra cinco ou seis vezes de forma elíptica para ganhar velocidade, antes de ser enviada para uma trajetória lunar que deve durar um mês.
Se o pouso for bem-sucedido, o veículo lunar sairá do módulo de aterrisagem e irá explorar a área lunar próxima, coletando imagens que serão enviadas à Terra para análise. O veículo lunar tem uma vida útil de um dia lunar, ou 14 dias terrestres.
“É de fato um momento de glória para a Índia. Obrigado à equipe da ISRO por deixar a Índia orgulhosa”, disse Jitendra Singh, ministro de Ciência e Tecnologia, após o lançamento.
De olho no mercado global
O chefe da ISRO, S. Somanath, disse que seus engenheiros estudaram cuidadosamente os dados da última missão fracassada e fizeram o possível para corrigir as falhas.
O programa espacial da Índia cresceu consideravelmente em tamanho e resultados desde que enviou pela primeira vez uma sonda para orbitar a Lua em 2008.
Em 2014, tornou-se a primeira nação asiática a colocar um satélite na órbita de Marte e, três anos depois, a ISRO lançou 104 satélites em uma única missão.
O programa Gaganyaan da ISRO está programado para lançar uma missão tripulada de três dias na órbita da Terra no próximo ano.
A Índia também está trabalhando para aumentar sua participação de 2% no mercado espacial comercial global, com o objetivo de enviar cargas úteis privadas para a órbita por uma fração do custo dos concorrentes.
Neste ano, uma startup japonesa também tentou executar um pouso na Lua, mas perdeu contato com a sonda, que provavelmente despencou e se chocou com a superfície lunar.