Texto ligeiramente adaptado do publicado na edição 1504, de outubro de 2023 – garanta a sua PLACAR no Mercado Livre
Estava tudo errado naquele 1981. O time não se encontrava em campo, o técnico Brandão andava nervoso e não abria diálogo com os jogadores. Para piorar, o presidente Vicente Matheus controlava desde as contratações de atletas até o cafezinho servido no clube. Wladimir estava tão desanimado que chegou a pensar em deixar o Corinthians, especialmente quando viu Matheus driblar o estatuto do clube para continuar mandando – agora como vice. Waldemar Pires, eleito presidente na chapa, era apenas uma peça decorativa.
A vida seguiu, mas o cotidiano só piorou. Brandão brigou com Matheus e foi embora. Intolerante e autoritário, o presidente negociou Amaral, um dos maiores zagueiros do futebol brasileiro. O time acabou em 8º lugar no Paulista e em 26º no Brasileiro. As duas colocações jogaram o Corinthians na Taça de Prata, a 2ª Divisão. Então Matheus foi afastado, Pires assumiu e descentralizou o poder. Foi assim que um sociólogo e dono de fábrica de doces chamado Adilson Monteiro Alves desembarcou no clube como novo diretor de futebol. Wladimir olhou e pensou “isso não pode dar certo”. Adilson era filho de um dos vice presidentes e chegou dizendo que não entendia
nada de futebol, além de estar emocionado porque seus ídolos estavam ali na frente dele. Sócrates e Zé Maria também pensaram que aquilo não daria certo, mas a única alternativa era tentar.
Quando Wladimir ouviu o novo diretor propor trabalhar na base das discussões e do voto, ficou esperançoso – outros poucos companheiros acharam aquilo interessante, mas também uma maluquice, pois todos os atletas estavam acostumados a cumprir ordens. Sem opções, mergulharam no projeto. O ambiente se transformou, e o time passou a ganhar. Em poucas semanas, com o auxílio do experiente Eduardo e do jovem Casagrande, saiu da Taça de Prata e se encaixou na fase final da Taça de Ouro, ao lado de três gigantes: Flamengo, Atlético-MG e Internacional. A imprensa, jogadores e torcedores adversários riram: o Corinthians não se classificaria num grupo tão forte e, portanto, não chegaria às oitavas do Brasileirão.
Wladimir seguiu focado. E, na estreia diante do poderoso Flamengo, foi para o jogo em silêncio. Não prometeu vitória – só o próprio suor e a união do elenco e da comissão técnica de Mario Travaglini. A partida começou, Wladimir entrou firme num adversário – quis mostrar que aquele grupo de jogadores do Corinthians tinha fibra. Eles haviam sofrido demais no último ano, levando paulada de todo lado e sendo tratados com descrédito por boa parte da imprensa. Naquela noite, entregaram tudo o que podiam aos quase 100 mil presentes no Morumbi. E Wladimir, num instante de explosão, marcou um dos gols mais belos e importantes de toda a sua carreira. O surpreendente 1 a 0 eletrizou a Fiel.
Ao final da partida (1 a 1), Wladimir deu entrevistas e foi deixando o campo, com o corpo empapado de suor. Era o suor de tudo o que ele e os companheiros tinham vivido até chegar ali. Andou na direção do vestiário e passou por uma das torres de refletores do estádio. Uma gota de suor desprendeu-se do seu queixo e quis chegar ao gramado. Foi quando o repórter fotográfico Ronaldo Kotscho, conhecido na imprensa por Alemão, fez a foto – ele tinha esperado pacientemente durante 90 minutos que o jogador passasse exatamente por aquele ponto. Ao ver Wladimir passar, Kotscho clicou sua máquina e eternizou toda a beleza de um ano inteiro de lutas. Tudo dentro daquela gota de suor.