O Ministério da Saúde mudou o calendário de vacinação contra o vírus influenza, causador da gripe, nos estados do Norte –Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins.
Nestes locais, o esquema começou nesta segunda-feira (13) para os grupos elegíveis. O dia D de mobilização será em 25 de novembro e término está previsto para 15 de dezembro.
A partir de 2024, a população do Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul receberá a vacina contra a gripe no primeiro semestre; o Norte, continuará no segundo.
A medida visa proteger a população que começará a viver agora o inverno amazônico —de meados de novembro até maio—, período de maior circulação viral e de transmissão da gripe.
“Como chove bastante nesse período, as pessoas ficam mais aglomeradas e confinadas. E é durante esse período que há maior transmissão do vírus. Na série histórica de anos e décadas, o pico de epidemia da gripe acontece nesses três, quatro primeiros meses do ano, até abril. Portanto, aquela campanha nacional de vacinação, no mês de abril ou maio não adiantava para nós”, explica a infectologista e virologista Rita Medeiros, membro da Sociedade Brasileira de Infectologia e professora da Universidade Federal do Pará.
De acordo com o Ministério da Saúde, para a ação, foram distribuídas 598.750 doses para Rondônia, 320.710 ao Acre, 1,5 milhão ao Amazonas, 100 mil a Roraima, 2.788.990 ao Pará, 400.570 ao Amapá e 50 mil ao Tocantins.
A vacina ofertada é trivalente —composta de duas cepas do influenza A e uma do B— a mesma utilizada na campanha de 2023. É importante explicar que o vírus sofre mutação e por isso, anualmente, o imunizante é atualizado.
Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), afirma que a não atualização da vacina neste momento não impactará na efetividade.
“Vai ter ano que o vírus que estava circulando na região norte é o mesmo vírus que circulou aqui no sul do país, no inverno. E terá ano que a mudança do vírus já precede a temporada do ano seguinte, e começa a circular. Então, nem sempre haverá o pareamento exato do que está na vacina com o que está circulando”, afirma Kfouri.
“O que nós estamos fazendo hoje, vacinando fora da sazonalidade deles, depois do período de maior circulação do influenza, não está ajudando em nada”, afirma o infectologista.
“Estamos utilizando a mesma composição da vacina de abril. O que difere da vacina do hemisfério norte, que está sendo aplicada neste momento, é apenas um componente dos três vírus que a vacina protege. Entretanto, principalmente para o idoso que perde a proteção após cerca de seis meses, esse recurso agora é extremamente importante. E também aproveitamos para uma mudança de cultura, né? Para a gente começar aqui na região a assimilar que a campanha de vacinação contra a gripe será no final do ano e não mais em abril”, diz Medeiros.
“A promessa do Ministério da Saúde é que no ano que vem a gente já tenha uma vacina com a mesma composição vacinal que está sendo utilizada no Hemisfério Norte”, afirma a médica.
No Norte, mesmo quem já recebeu a vacina em 2023 deverá tomar nova dose, porque a proteção diminui ao longo dos meses, segundo Kfouri.
“A proteção da vacina dura, no máximo seis meses. Quem tomou em abril já não está mais protegido. Esse é o único ano, obviamente, que nós vamos fazer duas doses de vacina.”
Na campanha de vacinação contra a gripe de 2023, o governo federal antecipou em alguns dias o início da imunização no Norte.
Na época, o ministério alegou que, além de ter mais áreas de difícil acesso, o Norte enfrentaria a partir de abril um período de chuvas intenso e aumento de casos de gripe.
Qual o prazo para a vacina surtir efeito?
No mínimo de 7 a 10 dias, mas a produção maior de anticorpos ocorre com quatro semanas. Quando aumentar a circulação do vírus, o sistema de defesa já está blindado.
Pode tomar a vacina contra a gripe junto com a bivalente e as demais?
Sim. A vacina da gripe pode ser tomada com qualquer outra vacina do calendário de imunização.
Quais são os efeitos colaterais?
Em até 10% dos casos pode ocorrer dor no local da aplicação, vermelhidão e enrijecimento da pele. Abaixo de 3% existem as manifestações sistêmicas, como febre baixa, sensação de cansaço, dor muscular, dor de cabeça. Todas as reações terminam em torno de 48 a 62 horas. Se persistirem, é recomendável procurar um serviço de saúde.
Há contraindicações?
A pessoa deverá observar se tem alergia aos princípios da vacina. Os alérgicos a ovo poderão receber a vacina, inclusive com histórico de anafilaxia. A alergia a ovo não é mais considerada contraindicação e nem precaução para uso da vacina contra o vírus influenza. A orientação é que a vacina seja aplicada num serviço hospitalar, pois, se o paciente desenvolver o quadro alérgico, será possível revertê-lo.
Pode tomar a vacina com sintomas gripais?
Não. Se houver suspeita de qualquer infecção, a vacina deverá ser aplicada de 48 a 72 horas após a melhora do quadro.
A vacina causa gripe?
Não. A vacina é feita com vírus inativado. Há duas confusões comuns: a pessoa tomar a vacina, desenvolver reação adversa e achar que foi gripe; ou já estar infectada com qualquer vírus ou bactéria quando se vacinar.
Grupos elegíveis
Crianças de 6 meses a menores de 6 anos
Crianças indígenas de 6 meses a menores de 9 anos
Trabalhadores da Saúde
Gestantes
Puérperas
Professores dos ensinos básico e superior
Povos indígenas
Pessoas 60+
Pessoas em situação de rua
Profissionais das forças de segurança e de salvamento
Profissionais das Forças Armadas
Pessoas com doenças crônicas não transmissíveis e outras condições clínicas especiais (independentemente da idade)
Pessoas com deficiência permanente
Caminhoneiros
Trabalhadores do transporte rodoviário coletivo (urbano e de longo curso)
Trabalhadores portuários
Funcionários do sistema de privação de liberdade
População privada de liberdade, além de adolescentes e jovens sob medidas socioeducativas (entre 12 e 21 anos).
Crianças de seis meses a oito anos vacinadas pela primeira vez deverão receber duas doses do imunizante, com intervalo de 30 dias.