A homeopatia representa um mercado enorme. Não só no Brasil e na Alemanha, mas também em outros países europeus e sul-americanos, na América do Norte e na Ásia, pacientes recorrem a remédios homeopáticos para problemas estomacais, dores de cabeça e de garganta.
No Brasil, o método terapêutico é oferecido pelo SUS desde 2006. Na França, por outro lado, as seguradoras de saúde cobriram os custos dessas substâncias até 2021. E agora, na Alemanha, o ministro da Saúde, Karl Lauterbach, quer que ocorra o mesmo: no futuro, quem optar pela homeopatia terá que pagar por isso.
O que é a homeopatia?
O tratamento homeopático baseia-se no princípio da similaridade: substâncias que causam determinados sintomas em indivíduos saudáveis podem curar sintomas semelhantes em pessoas doentes, quando diluídas em altas doses.
“Semelhante cura semelhante” – esse princípio remonta ao pai da homeopatia, o médico alemão Samuel Hahnemann (1755-1843). O termo homeopatia é formado pelas palavras gregas “homoion”, similar, e “pathos”, doença.
Como substâncias como a beladona seriam altamente tóxicas em sua forma pura, elas são administradas aos pacientes em uma forma altamente diluída. As plantas ou os minerais são moídos e misturados com água ou álcool. Parte dessa mistura é diluída novamente, e assim por diante.
Hahnemann desenvolveu um método especial de diluir e agitar, conhecido como potencialização e dinamização. Aplica-se o seguinte: quanto mais diluído, mais forte será a reação de cura do paciente.
Isso ocorreria apesar do fato de que o ingrediente ativo original quase não está presente ou sequer está presente no final do procedimento. A teoria controversa é que a água usada para a diluição tem uma memória que pode lembrar as propriedades e o efeito da substância original.
O ingrediente ativo homeopaticamente potencializado produzido dessa forma é frequentemente pulverizado em pequenos glóbulos de açúcar. Esses glóbulos são uma das formas de dosagem mais populares da homeopatia.
Engolidos pelo paciente, eles têm a finalidade de ativar os poderes de autocura do próprio corpo e restaurar o equilíbrio do sistema do indivíduo, que foi desequilibrado pela doença.
O que dizem os estudos sobre homeopatia?
Vários estudos já investigaram a homeopatia e seu efeito em diferentes problemas de saúde. Pesquisas individuais têm importância limitada, enquanto as meta-análises, que incluem muitos estudos, fornecem respostas mais confiáveis.
Uma meta-análise de 1997, publicada na revista especializada Lancet, examinou 89 estudos individuais. A conclusão dos pesquisadores na época foi que o efeito clínico da homeopatia não poderia ser atribuído apenas ao efeito placebo. É essa frase que os homeopatas ainda hoje citam como prova de que a terapia é, sim, eficaz.
A declaração subsequente dos pesquisadores de 1997, por outro lado, é deliberadamente ignorada e relativizada: não há evidências suficientes de que a homeopatia seja claramente eficaz para enfermidades específicas.
Outra meta-análise de 2017, publicada na revista Systematic Review, analisou apenas estudos duplo-cegos nos quais nem os participantes do teste, nem os médicos sabiam se estavam administrando um remédio homeopático ou um placebo. Os estudos duplo-cegos são considerados particularmente confiáveis e conclusivos. O resultado aqui também foi: nenhum efeito sobre doenças específicas.
Uma crítica fundamental feita pelos pesquisadores é que a qualidade de muitos estudos deixa a desejar. Em 2015, o Conselho Nacional de Saúde e Pesquisa Médica da Austrália publicou os resultados de um comitê que analisou a situação dos estudos sobre homeopatia. O resultado: quanto pior a qualidade do estudo, melhores os resultados da homeopatia.
“Os argumentos a favor da homeopatia são construídos sobre a areia”, diz a médica alemã Natalie Grams no podcast da DW em inglês Don’t drink the milk.
Grams vinha tratando seus pacientes homeopaticamente há anos com total convicção, até que decidiu escrever um livro sobre o tema e se familiarizou com os estudos. Atualmente, a médica é uma das mais proeminentes críticas alemãs à homeopatia – mas reconhece que o método oferece algo que a medicina moderna muitas vezes não tem.
Por que muitos acreditam na homeopatia?
“Na medicina moderna, muitas vezes somos apenas um número entre muitos e não sentimos que estamos sendo tratados suficientemente bem”, diz Grams.
Quem já foi a um homeopata ou outro profissional da chamada medicina alternativa costuma dizer que eles lhes dedicam mais tempo, os ouvem e os tratam como um indivíduo, considerando todas as suas preocupações e medos.
Isso não é pouca coisa: tem um efeito comprovadamente positivo no sucesso do tratamento, afirma Ulrike Bingel, professora de neurologia do Hospital Universitário de Essen, na Alemanha. Uma das especialidades da neurocientista é a pesquisa sobre dor e placebo. “O efeito placebo ou de expectativa não é apenas subestimado na medicina, como tampouco é utilizado de forma sistemática.” Isso é algo que poderia ser aprendido com a homeopatia, afirma ela.
O que é o efeito placebo?
“Placebo é um tratamento ou medicamento que não tem efeito intrínseco”, explica Ulrike Bingel. Ou seja, alguns diriam que não tem efeito qualquer. Uma tintura feita de água pura, um comprimido de lactose ou até mesmo glóbulos homeopáticos – placebos não aliviam sintomas.
Ainda assim, é o chamado efeito placebo a razão pela qual os sintomas melhoram após o tratamento homeopático. Em outras palavras, a expectativa positiva dos pacientes que ingerem os glóbulos.
Os homeopatas reforçam essa expectativa por meio de sua abordagem empática. Segundo Bingel, esse sentimento também é construído com as histórias positivas de parentes, conhecidos e amigos, que incentivam com seus relatos de experiências pessoais positivas.
“Portanto, a força motriz não é o placebo em si, mas a expectativa positiva que as pessoas associam ao fato de tomá-lo”, afirma a neurocientista. Segundo ela, o efeito placebo ou de expectativa também entra em ação quando se toma uma medicação real. “Mesmo após intervenções sérias, como cirurgia cardíaca, há esse efeito positivo assim que os médicos que tratam os pacientes voltam sua atenção para eles e se comunicam bem e com empatia.”
Pesquisas intensivas sobre o efeito placebo estão sendo realizadas na Alemanha e em vários países. Um dos mais renomados pesquisadores do efeito placebo é Ted Kaptchuk, professor de medicina da Harvard Medical School, em Boston.
Apesar de todos os efeitos positivos do efeito placebo, Kaptchuk é categórico em um artigo: “Os placebos podem fazer você se sentir melhor, mas não vão curá-lo.”
“Não precisamos da homeopatia como terapia. O conceito teórico é uma besteira e contradiz todo o conhecimento científico”, completa Bingel. “Mas há muitos aspectos do conceito de tratamento praticado que devem ser urgentemente integrados à medicina baseada em evidências.”
Ou seja, mais tempo, melhor comunicação e terapias mais individualizadas. Segundo a neurocientista, uma reformulação está ocorrendo lentamente. “Mas ainda há muito espaço para melhorias.”