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O gênero da comédia figura entre os mais abundantes produzidos ao longo do ano, sendo possivelmente um dos mais cultuados pelo público em geral. Em face dessa “saturação”, é comum que muitas obras acabem caindo em certa genericidade. Embora isso não seja necessariamente um problema, é notável quando um cineasta possui a liberdade e autoridade necessárias para criar uma obra que se destaque, utilizando o humor como elemento narrativo significativo. Gene Stupnitsky, em seus dois – e únicos – longas-metragens, demonstra essa habilidade de maneira distinta e marcante. Stupnitsky, cineasta e roteirista notório pela comédia, é amplamente reconhecido por seu envolvimento na criação da série de televisão The Office e pelo filme Good Boys (2019), no qual atuou como diretor e co-roteirista. O que mais me impressiona em seu cinema até agora, ou pelo menos o que ele parece ter estabelecido em seu formalismo, é como sua comédia é caracterizada pela exploração do humor constrangedor, mas que serve como um elemento de desenvolvimento dos personagens. Em Good Boys, por exemplo, ele opta por um humor mais juvenil, destacando-se pelo contraste entre a inocência da idade e situações maduras, empregando diálogos afiados e situações inesperadas. Contudo, é a partir desta construção humorística e de seus gags visuais que seus personagens amadurecem. Stupnitsky utiliza a linguagem visual para aprimorar a narrativa tanto de seus personagens quanto da própria comédia. Em Good Boys, emprega uma estética que reflete a perspectiva das crianças protagonistas, com uma cinematografia dinâmica e energética que se adapta ao tom da comédia.
Que Horas Eu Te Pego?, volta-se mais para um choque geracional, mas ainda assim mergulha no amadurecimento dos personagens. Na verdade, a abordagem do amadurecimento parece ainda mais amadurecida (com perdão do trocadilho), evidenciando o talento do cineasta em mostrar que até mesmo pessoas na faixa dos trinta anos continuam passando por esse processo. O amadurecimento é um ciclo constante, reflexo da natureza cíclica e cheia de renovações que é vida, aspecto que Gene parece compreender muito bem. Gosto da forma como esses elementos dramáticos ganham força na maneira como ele utiliza a comédia. Assim como em Good Boys, o humor desempenha um papel fundamental na construção desses personagens. Os absurdos de Maddie e a introversão de Percy, inseridos no contexto humorístico, são elementos que verdadeiramente transformam esses personagens. Portanto, a comédia emerge como o elemento mais crucial aqui; é a partir dela que o filme adquire forma. Com a ênfase na expressão, Que Horas Eu Te Pego? se destaca como a comédia nonsense mais divertida que vi nos últimos anos. É um filme que não tem receio de ser o que é, demonstrando uma consciência dos seus próprios absurdos e tirando proveito disso. Nele, os atores parecem ter a liberdade necessária para experimentar e explorar suas performances de maneira autêntica. Mesmo sem ter presenciado os bastidores, percebemos a fluidez das atuações, captando a leveza e a diversão que permearam todo o processo.
O cinema da geração Z tem sido amplamente discutido nas redes sociais, inclusive em um dos meus textos sobre Fale Comigo. Para contextualizar, é intrigante observar como o cinema dessa geração busca explorar os medos e ansiedades associados às redes sociais. Seja no terror, que aborda o temor da exposição, do cancelamento e do abuso, ou na comédia, que ironiza o jovem contemporâneo. Diante disso, Que horas eu te pego? traz consigo uma visão recheada de sátira sobre a vida na sociedade atual, explorando as “camadas” da geração Z através de um humor versátil e cativante. O filme mergulha na vida de um jovem que encontra na tela um abrigo, proporcionando uma análise sobre a solidão contemporânea e a incessante busca por pertencimento no vasto mundo virtual. A incisividade dessa abordagem não aliena, pelo contrário, cria um tipo de humor único que capta de forma genuína as nuances dessa experiência geracional. Percy é tímido e inseguro, contudo, utiliza o anonimato das redes como um porto seguro. Ao envolver-se em jogos de videogame, ele busca uma fuga do mundo, aparentando ser até mais confiante do que na vida real. Apesar da descrição inicial parecer um ponto dramático pesado, a maneira como Gene emprega esse contraste revela um humor divertido porém cauteloso. É a singularidade da geração e do próprio personagem sendo tratada com respeito e carinho sem perder o viés cômico. Perfeito!
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Uma das características que admiro em Que Horas Eu Te Pego? é a habilidade de Gene Stupnitsky em explorar profundamente o universo de seus protagonistas. Ao lidar com Percy, ele aborda as inseguranças da Geração Z, enquanto com Maddie, discute a crise dos 30, adentrando temas como gentrificação e capitalismo. Maddie, uma mulher de 30 anos, encontra-se em um período de autoentendimento, buscando seu lugar no mundo. No que tange à questão da gentrificação, Stupnitsky revela ao espectador – sempre com toques de humor – como os espaços locais são moldados pelas mãos dos poderosos. A cidade em que esses personagens vivem está progressivamente sendo absorvida pela elite, que adquire propriedades, desloca os moradores e, portanto, alimenta o consumismo voraz do capitalismo. Dessa forma, o humor costurado nesses temas oferece uma perspectiva reveladora das batalhas enfrentadas pelos protagonistas, Percy e Maddie, à medida que navegam por seus próprios dilemas e enfrentam questões sociais mais amplas. A dinâmica vibrante entre esses personagens não só encanta, mas também mantém uma comédia que, longe de se esgotar, cresce à medida que o romanceamizade se desenrola. O filme não é apenas uma fonte de diversão; é uma jornada por um come of age envolvente, enriquecido com charme e muito humor. Sua capacidade de arrancar risos genuínos e até mesmo lágrimas destaca a maestria desse promissor diretor, oferecendo um entretenimento de qualidade excepcional.
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