Roteirista comenta indicações ao Oscar e sugere “afastar Scorsese para abrir espaço para Celine Song” – Zonatti Apps

Roteirista comenta indicações ao Oscar e sugere “afastar Scorsese para abrir espaço para Celine Song”

Os roteiristas Thais Falcão e Flávio Ermírio comentaram as indicações ao Oscar 2024 e criticaram algumas escolhas da Academia

O Oscar chegou à 96ª edição sob críticas pertinentes, como a falta de equidade nas indicações. Outra grande polêmica que envolve a premiação é que Greta Gerwig e Margot Robbie não foram indicadas nas categorias de Melhor Direção e Melhor Atriz, respectivamente, embora Barbie tenha garantido oito nomeações.

Sem dúvidas, o fenômeno Barbenheimer dominou as redes sociais e foi um grande sucesso de bilheteria, mas, para a roteirista Thais Falcão, Barbie não deveria concorrer ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado: “Adaptação de quê? As bonecas da Mattel não são recipientes vazios para que meninas as usem como protagonistas (perfeitas) de histórias criadas numa brincadeira?”

E não dá para falar do Oscar desse ano sem citar o fenômeno Barbenheimer. As maiores bilheterias de 2023 disputam em diversas categorias, inclusive a de Melhor Filme e Melhor Roteiro Adaptado, sendo essa última um tanto quanto sacana com Oppenheimer já que Barbie caiu de paraquedas na categoria. Apesar da WGA ter reconhecido o roteiro de Barbie como um original, a Academia bateu o pé e disse que é ‘baseado numa personagem pré-existente’, ou seja, uma adaptação. Mas adaptação de quê? As bonecas da Mattel não são recipientes vazios para que meninas as usem como protagonistas (perfeitas) de histórias criadas numa brincadeira? Além da indicação à Melhor Direção, a Academia tirou também a originalidade do faz-de-conta Greta Gerwig.

“Minha sugestão seria afastar [Martin] Scorsese para abrir espaço para Celine Song, diretora de Vidas Passadas“, argumentou Falcão em comentário exclusivo à Rolling Stone Brasil.

Já que entramos no assunto direção, que tem apenas cinco vagas na categoria, minha sugestão seria afastar Scorsese para abrir espaço para Celine Song, diretora de Vidas Passadas, ou Alexander Payne, diretor de Os Rejeitados. Porém, mesmo que tivessem sido indicados, acredito que foram um tanto quanto sutis e humanos para se destacar ao lado de produções megalomaníacas como as de Christopher Nolan ou de Martin Scorsese. Uma pena.

Falcão já fez trabalhos para Netflix, Globoplay e HBO Max, como Senna e Além da Ilha — que foi a primeira série produzida pelo Globoplay e protagonizada por Paulo Gustavo. Também tem experiência trabalhando no roteiro de reality shows como Power Couple, Drag Me As a Queen e De Férias com o Ex.

Assistir ao Oscar “poderia valer mais à pena”, disse a roteirista. 

Em 2015 D.B. Weiss, showrunner de Game of Thrones, veio ao Brasil e deu uma palestra no Rio Content Market (hoje Rio2C). A série estava no auge, centenas de pessoas disputavam lugares no auditório para ouvir sobre os desafios em produzir uma série de magnitude óbvia. Ao mesmo tempo que a fala de Weiss me inspirava, ela também me acertava em cheio, como um tapa na cara de quem diz: “ei, acorda, o Brasil ainda está muito longe de produzir algo desse tipo”. É mais ou menos assim que me sinto toda vez que assisto ao Oscar já que o reconhecimento da indústria cinematográfica está intimamente ligado aos milhões investidos nela.

Ela explicou que a Academia está sempre de olho nas produções que recebem grandes injeções de dinheiro, o que cria uma distância ainda maior entre o Brasil e a famosa estatueta dourada.  

Ainda vale a pena assistir à premiação? Poderia valer mais. 2023 foi um ano de produções surpreendentemente diversificadas e a Academia, no fim das contas, escolheu a dedo as produções “conscientemente ousadas”. Que delícia poder torcer por filmes como Saltburn ou Bottoms em categorias como Melhor Roteiro Original, por exemplo. Mas a lista de indicados dessa categoria não surpreendeu. Não que tenha sido uma decepção, afinal, ver novos talentos como Samy Burch e Alex Mechanik, roteiristas de Segredos de um Escândalo, dá uma pontinha de esperança de que o sucesso não está só nos rostos conhecidos.


Flávio Ermírio, por sua vez, tem mais perguntas do que respostas. Ele confessou: “Não sou o maior fã das premiações de cinema. Claro, reconheço a vital importância que eventos dessa natureza têm na indústria, na carreira dos filmes e de seus realizadores”.

Preciso confessar: não sou o maior fã das premiações de cinema. Claro, reconheço a vital importância que eventos dessa natureza têm na indústria, na carreira dos filmes e de seus realizadores. Mas de fato nunca fui daquelas pessoas que faz bolão todos os anos para acertar os vencedores, não me lembro a última vez que parei para assistir à cerimônia por completo e não me lembro da lista completa de indicados dos últimos anos — como todo bom cinéfilo lembra com razão.

Ermírio é um diretor e roteirista brasileiro. Provocado pela vontade e amor pela literatura e cinema, ele encontrou a possibilidade de conciliar ambas as influências na dramaturgia, principalmente na criação de roteiros para teatros.

O que mais me interessa nesse ecossistema é tentar compreender o que leva um filme ou uma pessoa a ser indicado e, eventualmente, escolhido como a representação do que melhor foi produzido no ano em sua área — e o que essa votação pode dar de pistas sobre o momento que vivemos como indústria e, claro, como sociedade.

Durante a pandemia, em 2021, Flávio idealizou um ambicioso projeto de baixo custo, que viria a se tornar o filme A Casa da Árvore — no qual foi diretor. Premiado em diversos festivais internacionais (Nova York e Los Angeles), o cineasta representará o Brasil no final de 2024 no FANTLATAM, principal premiação de Cinema de Fantasia da América Latina.

Recebi a lista de indicados ao Oscar 2024 com grande curiosidade, como alguém que decifra um documento antigo, um mapa, pela primeira vez. Imediatamente me fiz a pergunta que não quer calar na boca de todos os que leram a lista: O que a não indicação de Greta Gerwig e Margot Robbie por seus trabalhos em Barbie quer dizer? Como a diretora e a protagonista da maior bilheteria de 2023, a maior bilheteria da história para um filme dirigido por uma mulher, e um dos pouquíssimos filmes a ultrapassar a marca de 1 bilhão de dólares de bilheteria global, não foram indicadas ao Oscar?

O que chamou a atenção de Ermírio na lista de indicados ao Oscar 2024 foi como a Academia ignorou Robbie, mas considerou a atuação de Ryan Gosling digna do prestígio da cerimônia:

Me arrisco a algumas leituras. A primeira, e mais óbvia, é o quanto essas ausências mostram, mais uma vez, a falta de igualdade de gênero na Academia. Seria difícil teorizar sobre aspectos técnicos e artísticos que poderiam desconstruir esse viés social e justificar que a atuação de Ryan Gosling como Ken é merecedora de um Oscar, e a de Margot Robbie como Barbie não é.

Flávio notou ainda que Gerwig está entre as poucas diretoras indicadas ao Oscar de Melhor Direção. Ele concluiu, porém, que as premiações desse tipo fazem um trabalho que, para ele, é impossível. Segundo o diretor, é difícil acreditar “que algo tão subjetivo quanto o cinema possa produzir respostas tão certeiras”.

Quanto à direção de Greta Gerwig, penso um pouco diferente e de forma mais híbrida. É inegável que qualquer mulher sempre tenha muito mais dificuldade em ser nomeada à Melhor Direção do que um homem. Os números são vergonhosos: apenas 8 mulheres concorreram à estatueta de Direção em 95 anos de premiação. Mas, apesar da estatística devastadora, Greta Gerwig é uma dessas 8 mulheres, pelo seu primoroso Lady Bird de 2018. Por que a história não se repetiu em 2024?
Como disse no início, não sou o maior fã do Oscar e seus similares. Boa parte disso se dá pela minha dificuldade em categorizar e hierarquizar obras de arte e, principalmente, minha incapacidade em acreditar que algo tão subjetivo quanto o cinema possa produzir respostas tão certeiras como: esta é a melhor direção do ano! Assim, não ouso dar certeza alguma sobre a justiça ou injustiça do documento que analisei com os nomes de artistas que admiro — e invejo — tanto. O que deixo é mais uma pergunta. Será que Barbie, um filme de esmagadora relevância social e engajamento com o público, possui as características técnicas e artísticas de uma direção tão fora da curva, tão especial e espetacular, a ponto de ser considerada injusta sua ausência na nomeação da categoria de Melhor Direção?
A maneira com que Greta conduziu as nuances de interpretações, a coerência de linguagem, o ritmo, o balé entre câmera e mis en scene, os marcos emocionais do filme, e tantas outras decisões que a direção precisa tomar, foram extraordinárias? Ou uma direção segura é suficiente para transformar uma boa ideia em um filme que estará para sempre na história do cinema?

Para qual lançamento de 2024 você está mais ansioso? Vote em seu filme favorito!

  • Bob Marley: One Love (12 de fevereiro)
  • Madame Teia (14 de fevereiro)
  • Ferrari (22 de fevereiro)
  • Duna: Parte 2 (29 de fevereiro)
  • Todos Nós Desconhecidos (7 de março)
  • Guerra Civil (18 de abril)
  • Rivais (26 de abril)
  • Planeta dos Macacos: O Reinado (23 de maio)
  • Furiosa: Uma Saga Mad Max (23 de maio)
  • Deadpool 3 (25 de julho)
  • Um Lugar Silencioso: Dia Um (28 de junho)
  • Coringa 2 (4 de outubro)

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