Nem short, nem calcinha, a parte de baixo de escolha do Carnaval é a hot pant. Caracterizada pela cintura alta e comprimento bem curto, a peça é unanimidade entre as marcas —especializadas ou lojas de departamento— que produziram coleções dedicadas aos foliões.
Para Maíra Zimmermann, historiadora e coordenadora do curso de moda da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), essa popularização vem em um momento em que se fala de liberdade do corpo feminino.
Mas ela ressalta que o modelo não é novidade —e já não era quando o termo começou a ser usado, nos anos 1970, ligado à inventora da minissaia Mary Quant. “Esse tipo de short já era usado há algum tempo em momentos de lazer, mas vira tendência de moda nesse período do fim dos anos 1960 e início dos 1970”, diz a historiadora.
Tem tudo a ver, portanto, com conforto, com revolução juvenil e com questionamento dos costumes. Nada mais carnavalesco. E esse histórico todo encontra eco no mercado. Segundo Paula Rachid, criadora da loja brasiliense Borogodó, as hot pants vêm ganhando terreno desde 2018. Ela inaugurou a marca um ano antes, com bodies e pareôs, além de acessórios para a cabeça, e logo introduziu hot pants em lurex.
“Foi o maior sucesso. Depois disso, entrou para valer em todas as coleções. Hoje é o carro-chefe da marca”, diz Rachid. Ela mudou o lurex para lycra em 2019 e introduziu várias cores na paleta, como off white, preto e vermelho.
A procura ficou tão grande que o foco mudou dos bodies para as hot pants. Na coleção de 2024, a Borogodó tem cinco cores de hot pants e apenas um tipo de body, segundo Rachid.
A peça é queridinha também na paulistana Paeteh, do estilista Estéfano Hornhard. A marca também abriu suas portas em 2017, mas já com hot pants entre os produtos, junto de kimonos e leggings.
“A peça faz com que a pessoa que usa se sinta segura. Tem cintura alta, então modela o corpo e esconde a barriga, mas mostra as pernas. Quem veste se sente confortável. É uma peça que mostra um pouco e esconde um pouco”, diz Hornhard.
O item extrapolou as marcas especializadas e chegou nas grandes lojas de departamento, como a C&A. Segundo João Souza, diretor comercial da marca no Brasil, é uma peça que sempre esteve presente na moda praia, mas foi ganhando as ruas, “conforme os bloquinhos foram ganhando força”.
Ele avalia que o item, com bastante procura, já ganhou status de essencial e não é mais uma peça de desejo, como peças para a cabeça de strass, luvas, flores e itens com tule, tela e renda. “O Carnaval está se tornando um evento de moda em que as pessoas procuram as últimas tendências para sair”, diz.
Hornhard vai na mesma direção e enxerga que a tendência da turnê Renaissance, de Beyoncé, chegou aos blocos. “Vemos tudo prata, cósmico”, diz ele. Algumas marcas oferecem chapéus de cowboy espelhados como bolas de espelho de discoteca, outra marca registrada da cantora.