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Um estudo feito por pesquisadores ingleses sobre como a parentalidade afeta homens e mulheres no mundo pautou o debate online nos últimos dias. Gráficos compartilhados nas redes sociais mostram como a carreira das mulheres é mais impactada negativamente do que a dos homens após o nascimento do primeiro filho.
O estudo avaliou 134 países e mostrou que nós somos mais prejudicadas em quase todas as nações. O ponto de atenção é que isso muda de acordo com a região. Os efeitos negativos da parentalidade nas mulheres em relação aos homens são sentidos com maior intensidade na América Latina, por exemplo, enquanto na Ásia e na África o impacto é menor.
Esse conceito é batizado pelos pesquisadores como “child penalty”, algo que pode ser traduzido como a “punição por ter filhos”.
Mas mesmo antes de se tornar mãe, a maternidade afeta a vida da mulher. Como mencionei em outra edição desta newsletter, um estudo publicado no British Journal of Social Psychology aponta que tornar-se mãe é o papel fundamental esperado das mulheres.
Por meio de experimentos, as pesquisadoras mostraram que aquelas que voluntariamente decidem não ter filhos provocam mais reações negativas se comparadas às mães ou às mulheres que rompem outras normas de gênero em suas ocupações.
Outro trabalho, feito por pesquisadoras israelenses, mostrou que mesmo depois que se tornam mães mulheres ainda podem permanecer indecisas sobre a maternidade.
Pensando nas dúvidas que podem surgir na hora de ter ou não filhos, a repórter Raíssa Basílio questionou especialistas sobre o que levar em consideração ao tomar a decisão. Não há receita de bolo ou ciência exata, mas alguns pontos que merecem atenção. Um deles dialoga com questões levantadas por participantes do estudo israelense: você deve ter certeza que essa é uma vontade sua e não uma pressão externa.
Daniela Roberta Antônio Rosa, mestre em sociologia pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e doula, disse à reportagem que é preciso entender a origem da decisão.
“Não é uma resposta simples, mas vale rastrear a partir de uma reflexão muito íntima e particular. Quais são as motivações? É preciso investigar se esse é um desejo exterior ou não. O primeiro passo é se questionar de onde vem, como se constrói e a partir de quais referências”, afirmou a socióloga.
Embora a cobrança ainda seja intensa, as duas pesquisadoras ouvidas por Raíssa pontuam que vivemos em um tempo em que nós podemos nos perguntar se isso é realmente o que queremos.
Com o avanço dos movimentos feministas, as mulheres modernas podem explorar novos horizontes em relação à maternidade, disse a professora Belinda Mandelbaum, titular do departamento de Psicologia Social e do Trabalho da USP (Universidade de São Paulo).
A contemporaneidade mostra também que é possível adiar essa escolha e priorizar outras coisas sem que seja necessário desistir da maternidade, completa ela.
Para ler na Folha
A colunista Lorena Hakak estreou esta semana na Folha como parte do projeto Todas. Em seu primeiro texto, ela discute o poder de barganha, um conceito que diz respeito a quem tem maior controle sobre recursos da família em áreas como educação, consumo e trabalho.
O último capítulo da série “Eu desisto” fala sobre como abandonar sonhos e recalcular decisões é mais difícil para pessoas pobres e negras.
O Brasil sofre uma alta histórica de dengue. A repórter especial Cláudia Colucci ouve especialistas que nos explicam por que grávidas devem ser internadas mesmo se tiverem sintomas leves da doença.
Também quero recomendar
Para ler, o livro “Um Defeito de Cor”, de Ana Maria Gonçalves. A obra, uma das mais marcantes que li sobre a escravidão e as relações raciais brasileiras, ficou esgotada após a Portela basear seu desfile na publicação.
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