Com a crescente demanda por uma estética mais natural, mulheres de diferentes idades têm optado por procedimentos que realçam a beleza de forma menos invasiva, além de manter a autenticidade. Em vez de resultados artificiais e imediatos, uma nova tendência cria contraste aos rostos padronizados das harmonizações faciais e busca equilibrar autoestima e saúde.
Sônia Azambuja, 59, sempre preferiu uma aparência mais orgânica e utiliza os tratamentos estéticos para manejar o envelhecimento. “Quero me reconhecer no espelho. Não tenho problema com envelhecer, mas me sinto mais atraente e confiante com os procedimentos”, afirma.
Elisete Crocco, dermatologista e coordenadora do departamento de cosmiatria da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia) destaca que há uma busca crescente por procedimentos menos invasivos devido ao receio de resultados artificiais, como as harmonizações faciais e aplicações de botox.
“As pessoas têm percebido que o exagero tira a leveza e a beleza. Muitos estão buscando reverter ou suavizar essas intervenções”, explica.
Crocco observa que muitos pacientes que antes optavam por intervenções mais visíveis agora preferem técnicas que realçam a beleza de forma sutil. “As pessoas procuram as clínicas com medo de exagerar e ficar com a aparência padronizada. Agora elas querem se sentir mais jovens, mas sem perder suas características”, afirma. “O maior elogio que uma paciente pode receber é: ‘Como você está bonita’, e não: ‘O que você fez?’”.
Azambuja, que é psicóloga, realiza procedimentos dermocosméticos há pelo menos três anos. Os escolhidos foram os minimamente invasivos, como o jato de plasma para reduzir excesso de pele e terapia enzimática para tratar flacidez. “Meu objetivo é viver de forma saudável até os 98 anos. Além da estética, cuido da alimentação e pratico esportes. É uma rotina de autocuidado para melhorar a qualidade de vida”, diz ela.
Embora ainda não existam dados oficiais sobre reversões de procedimentos estéticos, o interesse pelo tema vem crescendo. Entre 2022 e 2023, as buscas por termos como “desfazer” e “reverter” harmonização facial cresceram mais de 90%, segundo o Google Trends. As pesquisas por “como desfazer bichectomia” subiram 990%, e a “como retirar preenchimento labial” cresceram 260%.
Para a dermatologista Paula Xavier Schiavon, membro da SBD, alguns procedimentos estéticos exagerados podem alterar as feições naturais de uma pessoa. Segundo ela, o excesso de intervenções que não respeitam a anatomia podem mexer com o senso de identidade do paciente. “As características que o paciente vê no espelho fazem parte da sua identidade. Deve ser difícil se olhar no espelho e não se reconhecer.”
Gisele Pizzato, fundadora da Bio-Médicin, empresa de cosméticos e especialista em rejuvenescimento, com clínica em Curitiba (PR), reforça que a beleza natural não se dissocia da saúde. “A pele reflete o estado de saúde interna. Precisamos olhar para a alimentação, sono e exercícios físicos, além dos tratamentos estéticos”, afirma.
Entre os procedimentos menos invasivos, um dos mais conhecidos é o laser Lavieen, também chamado de Thulium. Ele utiliza feixes de luz concentrados para estimular a regeneração da pele e aumentar a produção de colágeno, ajudando a suavizar rugas, cicatrizes, manchas e melasmas.
A luz intensa pulsada é outra tecnologia popular. Ela funciona de forma parecida com o laser: emite comprimentos de onda variados na pele e atua com a melanina, auxiliando na recuperação da cor uniforme da face. É indicada para tratar manchas na pele, rugas e linhas de expressão. O ultrassom micro e macrofocado, conhecido como ultraformer, estimula a produção de colágeno, queima gordura e realiza um lifting facial sem cortes. Já a radiofrequência fracionada endymed é indicada para tratar flacidez, manchas e cicatrizes.
Débora Trinkaus, 41, começou a recorrer às técnicas após ser mãe aos 40. “Cheguei a acreditar que minha vida estava acabando aos 40, me sentia velha, mas entendi que o envelhecimento é natural. Aprendi a envelhecer bem com tecnologias e cuidados com a saúde”, conta. Ela opta por técnicas como o ultrassom microfocado e fios de sustentação, sempre em intervalos maiores e de forma menos invasiva.
A dermatologista Crocco ressalta que os procedimentos não invasivos permitem que o paciente continue com sua rotina diária. “Os resultados são progressivos, o que garante uma aparência mais natural e satisfação a longo prazo”, afirma.
Apesar da rápida recuperação, é necessário adotar cuidados específicos com a pele após essas intervenções.
“Em tratamentos que agridem a superfície da pele, como lasers e luz pulsada, recomenda-se evitar o uso de produtos por até 48 horas. Após esse período, é essencial proteger a pele da exposição solar com protetor solar. No caso do ultrassom microfocado, não há restrições específicas, mas é preferível também evitar o sol”, orienta Schiavon.