A ministra da Saúde, Nísia Trindade, afirmou nesta quarta-feira (30) que existe um consenso entre os países do G20 sobre a necessidade de abordar as mudanças climáticas em conjunto com as questões de saúde.
“Não é possível pensar a questão ambiental e climática sem considerar os impactos na saúde. É impossível falar de um plano de adaptação sem levar em conta esse impacto. Há um consenso [entre os países do G20] que será publicado, de que não é mais possível tratar a saúde sem enfrentar essa pauta”, disse em entrevista à Folha durante reunião ministerial do G20, no Rio de Janeiro.
A ministra falou sobre o aumento de casos de dengue ao abordar o tema. A elevação das temperaturas e as ondas de calor impulsionaram no Brasil, neste ano, mais focos da doença.
Na presidência do G20, o Brasil busca consolidar ainda a estratégia One Health (Uma Só Saúde), que visa integrar a saúde humana, animal, vegetal e ambiental. O objetivo é fortalecer a resiliência global frente a desafios como pandemias, resistência antimicrobiana e mudanças climáticas.
Segundo a ministra da Saúde, essa estratégia representa uma mudança de perspectiva, substituindo o trabalho setorial por uma abordagem integrada. Na prática, isso significa que o Brasil passaria a compartilhar dados de forma mais coordenada entre os Ministérios da Saúde, da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário, assim como outros países.
A ministra destacou a importância dessa integração ao citar a Covid-19 como exemplo, por ser uma doença inicialmente zoonótica —transmitida apenas entre animais— e que acabou se disseminando entre humanos.
“A separação entre saúde humana e animal se tornará cada vez mais difícil. Será necessário trabalhar de forma integrada, desde o desenvolvimento de vacinas para enfrentar questões de saúde até lidar com impactos econômicos relacionados à pecuária e à resistência antimicrobiana, que também estão associados às mudanças climáticas”, afirmou.
Para essa discussão, participaram a OMS (Organização Mundial da Saúde), a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), a OIE (Organização Mundial da Saúde Animal) e o Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente).
A ministra falou ainda sobre a proposta de coalização em negociação no G20 para a produção local e regional de tecnologias de saúde, vacinas, medicamentos diagnósticos.
“Não necessariamente todos os países vão fazer o mesmo ou produzir as mesmas vacinas. É um grande esforço, cada um pode desenvolver uma parte desse processo. Definiu-se que o foco inicial será nas chamadas doenças negligenciadas ou de populações negligenciadas, especialmente dengue, porque a dengue hoje já é colocada com um grande risco na saúde global”, disse.
Durante a entrevista, a ministra também foi questionada sobre a fala do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes de ser favorável à criação de uma agência única de avaliação e incorporação de novos tratamentos que atenda tanto a saúde pública quanto a privada.
Essa agência unificaria os trabalhos da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que libera um novo medicamento para uso no país, e da Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias), ligada ao Ministério da Saúde e que decide se o novo remédio tem custo efetivo para ser ofertado no SUS.
A ministra afirmou que precisa conhecer melhor a proposta antes de emitir uma opinião definitiva, mas defendeu o papel central da Conitec.
“Mas a minha posição, há muito tempo, porque não é a primeira vez que surge a ideia de uma agência, é que é muito importante, depois que o Ministério da Saúde foi tão enfraquecido, que ele tenha esse papel de coordenação sobre a incorporação tecnológica. Porque é o ministério que coordena o SUS, que coordena o sistema, não é só um setor. Coordena a relação com estados e municípios. E a Conitec tem tido um trabalho extraordinário”, disse.
O projeto Saúde Pública tem apoio da Umane, associação civil que tem como objetivo auxiliar iniciativas voltadas à promoção da saúde