Holly tinha apenas 16 anos quando alguém perguntou se ela poderia fazer sexo devido à sua deficiência.
Ela ouviu muitas perguntas parecidas ao longo dos anos —se “poderia fazer sexo violento”, por exemplo, ou se precisaria ser em uma cadeira de rodas.
“As pessoas acham que estão fazendo um favor, quase um sacrifício”, ela conta. “O pior é que não fico mais surpresa, nem ofendida.”
Hoje com 26 anos, Holly tem dores crônicas e síndrome da hipermobilidade.
Ela é uma dentre uma série de mulheres com deficiência que compartilharam suas histórias para questionar os estereótipos negativos e a estigmatização de suas vidas sentimentais.
Para ela, é importante apresentar ao público os relacionamentos felizes das pessoas com deficiência.
Holly começou a namorar James quando era adolescente. Eles estão juntos há nove anos e se casaram em 2024.
“Muitas vezes, a imprensa mostra as pessoas com deficiência com vidas horríveis, somos apenas uma história triste”, segundo ela.
A jovem ressalta que sempre se sentiu apoiada por James, mas estereotipada pelos demais.
“Quando passamos a morar juntos, houve quem me dissesse que, se a minha saúde se deteriorasse, ele me deixaria”, relembra. “Porque eu seria um fardo, ou porque cuidar de mim seria difícil.”
Holly conta que as pessoas criavam suposições a seu respeito na escola e algumas chegavam a lhe fazer diretamente perguntas pessoas e inoportunas.
“Quando a pessoa usa cadeira de rodas, sem dúvida, a primeira é quase sempre se ela pode fazer sexo.”
Os meninos de sua classe, ela acrescenta, “perguntavam coisas como ‘você só pode fazer sexo na cadeira de rodas?’ ‘As suas juntas se deslocam?’ ‘Se eu quisesse fazer sexo violento com você, conseguiria?'”
Hoje, ela conta que recebe mensagens pelas redes sociais de pessoas lhe oferecendo sexo —propostas feitas, muitas vezes, com um tom de condescendência, como se tivesse que se sentir “com sorte” por tê-las recebido.
Holly gostaria de ver representações mais positivas de pessoas com deficiência nos meios de comunicação. Ela menciona o personagem Isaac Goodwin, da série de TV ‘Sex Education’ (2019-2023), como o único bom exemplo do qual se recorda ter encontrado recentemente.
“Uma das perguntas mais comuns das pessoas é ‘como você faz sexo?’ Isso é meio que constrangedor, é uma questão pessoal e invasiva”, compartilha Nicola Thomas, de Caerphilly, no País de Gales.
Ela tem 38 anos e é cega, tem uma doença autoimune chamada neuromielite óptica. Perdeu a visão de um dos olhos 15 anos atrás e do outro, há cinco anos.
“Muitas pessoas associam uma série de obstáculos à cegueira e eu sou o tipo de pessoa que sempre vai tentar superá-los.”
Ela adora velejar, praticar paddleboard e viajar. Seu próximo destino será Hong Kong, na China.
Nicola tinha um namorado na época em que perdeu a visão.
“Fui tratada como um fardo”, relembra. “As pessoas diziam para ele: ‘Você não pode ser o cuidador dela’, mas eu não precisava de um cuidador.”
O relacionamento acabou, e hoje ela está com um parceiro que também tem deficiência visual.
“Ainda que sejamos os dois somos cegos, conseguimos nos deslocar pela cidade, ir a um programa a dois sozinhos”, ela conta. “Não tem o que segure a gente.”
Ela também já sentiu o peso do estigma quando o assunto são relacionamentos amorosos.
“As pessoas enviam mensagens nas redes sociais me chamando para ir em encontros, mas o interesse vai embora ou elas agem diferente quando digo que sou cega.”
“Certamente tratam você como se estivessem fazendo um favor. Desanima instantaneamente.”
“As pessoas realmente nos rotulam. Quero destruir este estereótipo, tenho uma vida plena e feliz”, completa.
Kat Watkins, da organização Disability Wales (que reúne organizações voltadas a pessoas com deficiência no País de Gales), conta ter se deparado com muitos exemplos de como as mensagens de teor sexual enviadas com frequência a mulheres com deficiência foram “normalizadas, infelizmente”.
“Por que sexo e relacionamento são um tabu tão grande para as pessoas com deficiência?”, questiona. “Existem muito mais questões relacionadas ao nosso universo do que simplesmente poder comer e ter um teto sobre nossas cabeças.”
“Viver o dia-a-dia e se divertir é parte da vida, e isso não recebe destaque suficiente quando se fala de pessoas com deficiência”, exemplifica.
Para Kat, pessoas com deficiência têm o direito de explorar sua identidade sexual e seus relacionamentos como qualquer outra.
Nesse sentido, ela afirma que brinquedos e acessórios sexuais adaptáveis podem ser importantes para construir autoconfiança e deveriam estar mais disponíveis nos sex shops.
“Você precisa estar confortável consigo mesma e entender seu corpo, para depois conseguir comunicar isso. O amor próprio é muito importante.”