“Isso vai dar uma caganeira”. “Tomara!”, diz texto sobre vídeo que mostra um prato cheio. A trend com áudio que repete “magras, magras, magras” revela comportamentos e pensamentos de pessoas em busca da magreza e sua manutenção. Mas o preço pode ser a sua saúde.
Sabemos disso porque evacuar de forma artificial, comer “limpo”, priorizar “comidas da terra”, ignorar sinais de fome e saciedade foram algumas das estratégias usadas por nós, Ana Carolina e Joana, para lidar com nossos transtornos alimentares.
Hoje entendemos que comportamentos nocivos foram causas ou agravantes de anemia, baixa frequência cardíaca, gastrite, constipação intestinal, perda de cabelo, e muitos desmaios nas duas. Pessoas que ficaram cada vez mais magras e doentes, doentes, doentes.
Isso porque a restrição alimentar e a evacuação excessiva desregulam o funcionamento do corpo. Tanto a anorexia nervosa quanto a bulimia podem causar desidratação severa, arritmia cardíaca, esofagite e falência renal, diz a nutricionista Julie Roitman, colaboradora do Ambulim.
Na anorexia há desnutrição crônica, o que aumenta o risco de parada cardíaca e falência dos órgãos. Segundo a endocrinologista Tatiana Maestri, a bulimia pode ocasionar diminuição de cálcio, sódio, potássio etc em decorrência dessa desnutrição. Os episódios de vômitos frequentes podem causar tonturas, desmaios, convulsões e alterar a saúde bucal, ocasionando o surgimento de cáries, perda e erosão dos dentes.
Além das complicações gástricas citadas por Maestri, a nutricionista Maria Eliza Contri diz que na anorexia podem se somar dificuldade em evacuar ou fezes secas e endurecidas, esvaziamento gástrico lento e atrofia da mucosa gástrica, acarretando má absorção de nutrientes e inflamações que aparecem como dores abdominais fortes, por exemplo.
A anorexia nervosa também pode causar amenorreia, com possibilidade de infertilidade consequente. Pacientes podem apresentar atrofia do útero, colo do útero e canal vaginal. A baixa ingestão calórica e nutricional pode levar a uma “menopausa precoce” devido a baixa produção de estrogênio. “É preciso repor, senão a paciente pode desenvolver doenças cardiovasculares, infertilidade, perda de massa óssea e, em alguns casos, até demência”, diz o ginecologista José Maria Soares Júnior, diretor da Sogesp (Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo) e professor da USP.
A doença apresenta taxa de mortalidade de até 20%, geralmente associada a complicações clínicas ou à depressão que leve ao suicídio.
O presidente do departamento de psiquiatria e transtornos alimentares da Abeso, Adriano Segal, explica que os transtornos alimentares estão frequentemente associados também a TOC, ansiedade, bipolaridade e, em alguns casos, abuso de substâncias (como álcool e outras drogas). Entretanto, reitera que a medicação psiquiátrica pode não ter o resultado esperado se o organismo estiver deficiente em nutrientes e suas necessidades básicas, como alimentação e sono, não forem atendidas.
Por isso, recomenda uma equipe multidisciplinar. “O problema é que os tratamentos ficam muito caros e costumam ser restritos às universidades”.
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