Duas coisas me marcaram muito nessa visita. A primeira foi o fato de o chef ter aberto o restaurante exclusivamente para nós —fui a única comensal durante toda a refeição. E a segunda foi ter provado algo totalmente inesperado: uma borboleta. Ela estava crocante, com a aparência perfeita de uma borboleta, mas, claro, completamente transformada em sabor e textura. Saí de lá impactada. Passei horas em silêncio, digerindo não só a comida, mas tudo o que vivi ali. É uma experiência que provoca reflexão sobre arte, criatividade e os limites da gastronomia. Muita gente critica sem ter ido, questionando o tempo de serviço ou a quantidade de pratos, mas a verdade é que o Alchemist vai muito além de um restaurante —ele entrega um conceito, uma história. E essa visita, sem dúvida, foi uma grande contribuição para o meu repertório gastronômico e pessoal.
Qual o maior perrengue que você já teve durante as gravações?
Eu sou motivo de chacota na minha equipe porque sempre acontece algo com o meu figurino. Já teve uma búfala que mastigou minha roupa e uma mala que rolou barranco abaixo –só fui achar no final do dia! Recentemente, por exemplo, na Argélia, tivemos um grande choque cultural e histórico. Estávamos gravando, quando, no meio da filmagem, as autoridades entenderam que não poderíamos mais continuar. Acabamos ficando sem poder sair do navio, o que foi uma experiência bem inusitada. Percebo que, em países onde a cultura é muito diferente da nossa e quanto mais para o Oriente vamos, esses desafios aumentam. Especialmente em lugares onde o governo é mais fechado, as restrições para a imprensa também acompanham.
Quando viajamos, inevitavelmente, conhecemos outras culturas e outros modos de ver o mundo e a vida. Que aprendizados você teve em suas andanças mundo afora?
Para mim, viajar é uma grande lição de humildade. É uma oportunidade de entender o quão imenso é o mundo e como existem culturas, religiões e formas de viver completamente diferentes daquilo que conhecemos e acreditamos. Muitas vezes, achamos que nossa visão de mundo é a regra, mas, quando nos deparamos com outras culturas, percebemos que o que chamamos de “exótico” é apenas o “diferente” aos nossos olhos.
Um exemplo disso é a cultura ocidental, que, embora seja a nossa referência, representa apenas uma parcela pequena da população mundial. Se olharmos percentualmente, nós é que somos os exóticos, não eles. Essa percepção transforma a forma como enxergamos o outro: passamos a respeitar mais, a julgar menos e a reconhecer que o mundo é muito maior do que imaginamos. Por isso, viajar não é apenas um lazer, é uma forma de aprendizado profundo, que nos ensina a sermos mais humildes e abertos às diferenças.
Muita gente diz que o Instagram estragou a experiência de viajar. Qual sua visão sobre isso?
Eu acredito que o Instagram trouxe duas faces para a experiência de viajar. Por um lado, ele democratizou o acesso à informação e inspirou muita gente a conhecer lugares que talvez nunca tivessem pensado em visitar. As redes sociais criaram um desejo de descoberta e possibilitaram que culturas, paisagens e destinos incríveis fossem compartilhados em tempo real. Por outro lado, o excesso de preocupação em registrar o “momento perfeito” pode realmente estragar a experiência. Muitas vezes, as pessoas estão tão focadas na foto ideal ou no conteúdo que querem postar, que deixam de viver o lugar de verdade –de sentir a cultura, de observar, de se conectar com o ambiente.