Tenho visto várias marcas voltadas para a menopausa vendendo cremes faciais anti-idade à base de estrogênio. Existe alguma ciência por trás disso?
Ondas de calor, suores noturnos e secura vaginal são sintomas comuns da menopausa. Mas a pele também pode sofrer mudanças durante essa fase, incluindo flacidez, afinamento e aumento da secura.
O estrogênio é fundamental para manter a integridade da pele, explica Susan Massick, dermatologista do Centro Médico Wexner da Universidade Estadual de Ohio. Quando os níveis de estrogênio caem durante a menopausa, a pele pode ficar mais fina, com menos colágeno e elasticidade, o que pode aumentar a secura ou o surgimento de rugas.
Algumas empresas de cuidados com a pele vendem cremes e séruns faciais com estrogênio —disponíveis sem prescrição ou com receita —que prometem prevenir e reverter essas mudanças. Um médico no Instagram até afirma que usar creme vaginal de estrogênio no rosto pode aumentar a produção de colágeno e reduzir a secura.
Embora esse uso do creme de estrogênio “faça sentido, em teoria”, Massick diz que precisamos de mais pesquisas para garantir sua segurança e eficácia. Aqui está o que sabemos.
O estrogênio tópico pode beneficiar a pele?
Em uma revisão publicada em 2019, pesquisadores analisaram os resultados de cerca de duas dúzias de estudos envolvendo mulheres na menopausa e pós-menopausa que usaram estrogênio tópico —em géis, cremes, pomadas e adesivos —no rosto, abdômen, nádegas, antebraços e coxas. Os autores concluíram que era “plausível” que o estrogênio pudesse minimizar rugas e melhorar a secura, textura e elasticidade da pele.
No entanto, os estudos revisados tinham várias limitações, incluindo o fato de analisarem pequenos grupos de mulheres. Além disso, alguns autores da revisão eram consultores de uma empresa farmacêutica de cuidados com a pele, o que representavaum conflito de interesse.
Massick ressalta que são necessárias pesquisas mais rigorosas para entender quão eficazes e seguros são os produtos tópicos de estrogênio, bem como quais concentrações e formas são as melhores.
Estradiol, o ingrediente ativo nos cremes vaginais de estrogênio prescritos para secura vaginal e dor durante o sexo relacionadas à menopausa, é uma forma potente e terapêutica de estrogênio, afirma Mary Jane Minkin, ginecologista da Yale Medicine.
Algumas pacientes usam o creme fora do rótulo para tratar pele seca e enrugada no rosto, diz ela. Mas não incentiva esse uso —e os dermatologistas consultados também não recomendam, já que sua segurança e eficácia não foram comprovadas.
Cremes vaginais não são “desenvolvidos ou destinados ao uso facial”, afirma Massick.
Estriol (uma forma de estrogênio produzida durante a gravidez) e fitoestrogênio (um composto vegetal que imita o estrogênio no corpo) são dois ingredientes frequentemente encontrados em produtos de cuidados com a pele à base de estrogênio, explica Massick. Mas as pesquisas sobre eles também são limitadas.
O estrogênio tópico é seguro?
Aplicar estrogênio na pele pode causar irritação, e testar qualquer produto tópico novo pode levar a reações alérgicas, como erupções ou vermelhidão, comenta Jacqueline Watchmaker, dermatologista em Scottsdale, Arizona.
O estrogênio também pode agravar manchas escuras e descolorações ou tornar os vasos sanguíneos mais aparentes, acrescenta. Além disso, pode piorar condições como eczema e rosácea, segundo Debra Jaliman, dermatologista em Nova York.
A maior questão sobre o estrogênio tópico, no entanto, é quanto do hormônio é absorvido pela corrente sanguínea.
Quando usado vaginalmente, Minkin explica que apenas quantidades “mínimas” de estrogênio parecem ser absorvidas, então faz sentido que as mesmas regras se apliquem ao uso facial.
Mas até que mais pesquisas sejam realizadas, Massick sugere que mulheres com ou em maior risco de desenvolver “condições sensíveis a hormônios” —como câncer de mama, útero ou ovário, ou síndrome dos ovários policísticos —evitem produtos de cuidados com a pele à base de estrogênio.
Devido a essas possíveis preocupações de segurança e à falta de evidências de benefícios, Watchmaker e outros dermatologistas recomendam não usar estrogênio como cuidado para a pele até que mais pesquisas sejam realizadas.
O que realmente funciona?
Existem muitas opções bem pesquisadas e eficazes para tratar problemas de pele relacionados à menopausa e ao envelhecimento, diz Massick.
Retinoides tópicos prescritos (como tretinoína) e retinol de venda livre podem aumentar o colágeno e a elastina, uma proteína que fortalece e dá volume à pele. Eles também podem acelerar a renovação celular, ajudando a iluminar a pele e suavizar linhas finas, segundo Watchmaker.
O ácido hialurônico pode ajudar a minimizar a secura, acrescenta ela. E antioxidantes como vitamina C e niacinamida podem reduzir a vermelhidão, melhorar a descoloração e melhorar a textura da pele, explica Jaliman.
Tratamentos em consultório também podem ajudar, afirma Jaliman. Isso inclui resurfacing a laser (procedimento estético que usa feixes de laser para remover a epiderme e aquecer a derme), que estimula a produção de colágeno e uniformiza o tom da pele; preenchimentos dérmicos para adicionar volume e suavizar linhas finas; e procedimentos de firmeza da pele não cirúrgicos que estimulam a produção de colágeno.
Aplicar protetor solar com FPS 30 ou superior todos os dias também é crucial. Os danos ultravioleta aceleram o envelhecimento da pele, e o protetor solar ajuda a evitar que problemas como rugas e afinamento piorem, diz Massick.
Se você não souber como tratar seus problemas de pele, recomenda-se consultar um dermatologista que possa criar uma rotina de cuidados personalizada para você. Além disso, procure um ginecologista para ajuda com outros sintomas da menopausa.
Como parte da iniciativa Todas, a Folha presenteia mulheres com três meses de assinatura digital grátis