Os maiores exercícios militares chineses ao redor de Taiwan revelam pistas cruciais sobre os planos de Pequim para impor um bloqueio em caso de guerra para reconquistar a ilha autogovernada, e mostram um exército chinês cada vez mais encorajada, segundo analistas.
Em resposta à visita a Taiwan da presidente da Câmara de Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, a China iniciou grandes manobras militares em seis zonas marítimas ao redor da ilha, que devem prosseguir até domingo.
As manobras, com caças, helicópteros e fragatas, pretendem simular um “bloqueio” de Taiwan e incluem “ataques a alvos no mar”, segundo a agência estatal Xinhua.
Esta é a primeira vez que as manobras chinesas acontecem tão perto de Taiwan (algumas a menos de 20 quilômetros) e que a ilha, reivindicada por Pequim, está literalmente cercada, incluindo em seu flanco leste, uma zona crucial porque é por onde poderiam chegar os potenciais reforços dos Estados Unidos.
O “cenário de bloqueio” é mencionado há muitos anos como uma das opções que a China continental poderia utilizar para conquistar a ilha e, obviamente, ganha credibilidade com os exercícios.
Um bloqueio teria como objetivo impedir qualquer entrada ou saída de navios e aviões comerciais ou militares. Mas também impor um veto de acesso às forças americanas estacionadas na região.
O exército chinês “tem obviamente todas as capacidades para impor um bloqueio do tipo”, declarou à AFP Song Zhongping, analista militar chinês independente.
“Já podemos ver pelos exercícios atuais que os aviões de guerra e navios taiwaneses não podem decolar nem sair de seus portos”, disse.
O exército chinês disparou na quinta-feira vários mísseis balísticos que atingiram várias zonas marítimas ao redor de Taiwan. Pela primeira vez, alguns deles sobrevoaram a ilha, informou o canal estatal chinês CCTV.
Pequim mobilizou mais de 100 aviões e mais de 10 fragatas e destróieres, incluindo o caça furtivo J-20 e um destróier 055, as joias da coroa das forças aérea e naval, segundo a Xinhua.
Os exercícios militares permitem, em particular, testar e ajustar o nível de coordenação das Forças Armadas chinesas: exército, marinha, aeronáutica, unidade de foguetes (responsável pelos mísseis) e força de apoio estratégico (guerra eletrônica e cibernética).
O que a China está mostrando agora “confirma que suas capacidades são fortes”, disse à AFP John Blaxland, professor de Segurança Internacional na Universidade Nacional da Austrália.
“É evidente que o país tem a capacidade de coordenar suas ações em terra e mar, de mobilizar seus sistemas de mísseis (…) e de mobilização rápida”, acrescentou.
Os exercícios também demonstram aos taiwaneses, americanos ou japoneses que os chineses “têm o que é necessário para fazer o que ameaçam fazer”, disse Blaxland.
“Ao mesmo tempo, o que eles fazem é estudado e observado de perto por outros países, especialmente os Estados Unidos, que podem aprender com isto para contra-atacar exército chinês no futuro”, destacou o analista.
Os americanos, no entanto, permanecem relativamente passivos militarmente no momento.
Durante a crise anterior do Estreito de Taiwan (1995-1996), com Bill Clinton como presidente, o governo americano enviou vários navios de guerra à região e porta-aviões permaneceram nas proximidades da ilha.
Desta vez, “o governo americano é cauteloso para evitar uma escalada, que não deseja”, afirmou Lonnie Henley, ex-oficial de inteligência dos Estados Unidos e professor de Estudos Internacionais na Elliott School, em Washington.
A cautela dos Estados Unidos também é explicada pelo fato de a China ter aumentado consideravelmente suas capacidades militares na comparação com 1996, quando não conseguiu evitar o acesso da marinha americana à região.
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