A iraniana Mahsa Amini, 22, que havia sido detida pela polícia porque supostamente não estava usando o hijab, o véu islâmico, morreu nesta sexta (16), informaram parentes e canais de notícia. Ela estava em coma, e seu caso foi estopim para protestos virtuais.
Policiais alegaram que Amini sofreu um ataque cardíaco após ser detida na terça-feira (13) para que, nas palavras dos agentes, fosse “convencida e educada”, e negaram que ela tenha sido agredida. Ativistas, no entanto, afirmam que a abordagem policial tem sido violenta, muitas vezes com uso de espancamento contra as mulheres.
No Irã, após a Revolução de 1979, que abriu espaço para um regime teocrático, a lei passou a afirmar que mulheres são obrigadas a cobrir seus cabelos com o véu e usar roupas largas para encobrir o formato de seus corpos. Aquelas que descumprem a norma enfrentam repreensões públicas, multas e mesmo a prisão.
A lei nunca deixou de ser questionada, apesar da repressão. Ao longo dos últimos meses, ativistas de direitos humanos têm influenciado mulheres a retirarem o véu publicamente em protesto contra o código de vestimenta, o que desagrada a governantes e agentes de segurança, que afirmam que o ato configura um comportamento imoral.
O Ministério do Interior iraniano e o promotor-chefe de Teerã disseram ter iniciado investigações sobre o caso de Mahsa Amini após um pedido do presidente Ebrahim Raisi, segundo a imprensa oficial.
Imagens divulgadas na TV estatal mostram uma mulher, identificada como sendo Amini, caindo depois de levantar de uma cadeira para falar com um funcionário da delegacia. A autenticidade do material, porém, não pôde ser confirmada de maneira independente.
Ao site Iran Wire o irmão da jovem, Kiarash, relatou que estava com ela no momento da detenção. A família, natural de Saqez, na província iraniana de Curdistão, visitava a capital Teerã no dia. Quando questionou os policiais, ele teria ouvido que a irmã ficaria apenas uma hora na delegacia, para “aulas de reeducação”.
Ele, então, foi ao local, onde afirma ter se deparado com outras dezenas de mulheres detidas por razões semelhantes. Dali, a irmã saiu em uma ambulância direto para o hospital. Kiarash disse que a família buscará a Justiça para que uma investigação seja feita.
Mahmoud Sadeghi, um ex-parlamentar e ex-religioso, conhecido por fazer críticas à elite dominante, cobrou que o líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei, se manifesta sobre o caso de Amini.
Em uma rede social, ele lembrou que Khamenei criticou a morte de George Floyd, um ex-segurança negro asfixiado até a morte por um policial branco nos EUA, em 2020, ocasião em que disse que o episódio evidenciava a “verdadeira natureza dos governantes americanos”.
Sadeghi, então, questionou: “O que o líder supremo, que denunciou com razão a polícia dos EUA pela morte de Floyd, diz sobre o tratamento da polícia iraniana a Mahsa Amini?”
No início deste mês, duas ativistas iranianas lésbicas foram condenadas à morte por “promover a homossexualidade”. Elas também foram acusadas de promover a religião cristã e de terem contatado um veículo da mídia que faz oposição ao governo.
Nas redes sociais, iranianos têm expressado repúdio à existência da prática conhecida como “detenção moral”, perpetrada pelas chamadas patrulhas de orientação. Alguns vídeos compartilhados mostram policiais detendo mulheres, arrastando-as no chão e levando-as a força.
Segundo reportagem da rede britânica BBC, a família de Amini alega que ela era uma mulher saudável, sem condições de saúde que explicassem um problema cardíaco repentino. Parentes só foram avisados que ela havia sido levada ao hospital horas após sua prisão.