Deonísio da Silva, membro brasileiro da Academia das Ciências de Lisboa, doutor em Letras pela Universidade de São Paulo e colunista da Revista Oeste, foi indicado este ano pela Academia Internacional de Escritores Brasileiros ao maior prêmio literário de todo o planeta: o Prêmio Nobel de Literatura. Da Silva ficou sabendo de sua indicação, contudo, após a divulgação do resultado da premiação, na quinta-feira 6. Ainda que o título tenha ficado com a francesa Annie Ernaux, o autor brasileiro passa a figurar entre uma seleta lista de nomes indicados à honraria, como Carlos Drummond de Andre e Jorge Amado, indicados na década de 70.
Autor de mais de 30 livros, entre os quais “Avante, soldados: para trás”, “Teresa D’Ávila” e “Stefan Zweig deve morrer”, Deonísio não é iniciante em grandes premiações. “Avante, soldados: para trás”, por exemplo, entre outras premiações, foi agraciado com o Prêmio Internacional Casa de las Américas, título cujo júri contou com a presença José Saramago, um dos maiores escritores portugueses e vencedor do Nobel de Literatura de 1998.
Além do sucesso internacional de “Avante, soldados: para trás”, “Teresa D’Ávila” foi outra obra do escritor brasileiro que foi muito elogiada ao redor do mundo. A revista norte-americana “World Literature Today”, por exemplo, considerou o livro um dos melhores romances entre os anos de 1980-2000.
“Todo percurso de escritor é longo”, disse Deonísio em entrevista a Oeste. “Minha obra vencedora do Prêmio Internacional Casa de las Américas foi publicada em outros países, como Itália, Cuba e Portugal, e inserida no Plano Nacional do Livro Didático (PNLD), que determina os livros que podem ser usados nas escolas brasileiras. Suponho que a Academia considerou o conjunto da obra com destaque para meus livros publicados no exterior, sobretudo.”
Para o escritor brasileiro, contudo, muitas das últimas premiações literárias vem deixando a desejar, como foi o caso de Bob Dylan, músico norte americano laureado com o título em 2016. Segundo o autor, existem muitos outros ótimos escritores que não são conhecidos.
“Sei o quanto é difícil escrever, publicar um livro e conquistar o coração dos leitores”, afirma. “Algumas das mais recentes premiações literárias têm sido muito controversas. Sou Doutor em Letras pela USP, comento e ensino literatura brasileira há algumas décadas e sei que há escritores brasileiros cuja obra está bem acima da de alguns premiados. Conceder o Prêmio Nobel de Literatura ao compositor e cantor Bob Dylan foi um equívoco. Eu sou ouvinte de suas canções e integro o seu fã clube que aprecia seu cancioneiro. Mas evidentemente literatura é outra coisa, e nenhum escritor disputaria um prêmio equivalente de música. Cada macaco no seu galho.”
De acordo com Deonísio, entretanto, as premiações equivocadas não estão restritas ao maior prêmio da categoria. Segundo o brasileiro, a Academia Brasileira das Letras também não vem fazendo boas escolhas.
“A Academia Brasileira de Letras (ABL) parece um hospício, como já disseram: alguns dos que lá estão, não são. E muitos dos que são, não estão”, disse. “Alguns nomes da ABL podem não parecer, mas são óbvios. José Sarney, que escreveu Saraminda, deveria estar lá, sim. E a presidência da República o atrapalhou para isso. Poucos autores referenciais lá estão. Ou porque não quiseram ou porque foram recusados. Exemplos: Érico Verissimo, Clarice Lispector, Rubem Fonseca e Dalton Trevisan não quiseram. Mário Quintana foi recusado várias vezes. A lista dos excluídos é tão ou mais assustadora do que a dos incluídos.”
O que é o Prêmio Nobel?
A láurea foi criada pelo químico e empresário Alfred Nobel. Inventor da dinamite em 1867, o sueco doou a maior parte de sua fortuna em testamento para a criação de prêmios de física, química, medicina, literatura e paz. O prêmio de economia foi criado anos mais tarde.